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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Fazer sexo "casual" já impede doação de sangue, mesmo com camisinha

Prática sexual variada é considerada ponte para infecção e transmissão de DSTs

Entre as novas regras para doação de sangue no país, publicadas nesta terça-feira (14) no Diário Oficial da União, uma limita pessoas que fizeram sexo casual no ano, usando camisinha ou não, de doar sangue.

O artigo da nova legislação diz que deve ser considerada inapta para doação por 12 meses a pessoa "que tenha feito sexo com um ou mais parceiros ocasionais ou desconhecidos ou seus respectivos parceiros sexuais".

Na última resolução a respeito, de 2004, a frase era praticamente a mesma, mas citava a inadaptação caso faltasse proteção, ou seja, "sem o uso do preservativo". Isto é, na nova resolução, o fato de ter feito sexo com mais de uma pessoa durante o ano, com ou sem proteção, já impede uma pessoa de fazer a doação.

Uma consulta pública sobre essas novas regras foi realizada entre junho e agosto do ano passado, e só agora, mais de um ano depois do início do processo, o governo publicou o texto final com as diretrizes para a doação de sangue.

O Ministério da Saúde afirma, por meio de sua assessoria, que a nova resolução tem como intenção "aumentar a segurança para o receptor de sangue e de seus hemoderivados". Isto é, restringe a população que transou com mais de uma pessoa ao longo de um ano por considerá-la um grupo mais suscetível ao risco de se infectar e transmitir com mais frequência as DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).

- Existe um risco acrescido porque ele cresce à medida que há uma exposição pelo número de parceiros e, mesmo com camisinha, o parceiro múltiplo não pode doar sangue.

A preocupação do governo é considerada legítima pelos médicos consultados pelo R7. Segundo o hematologista Leandro de Pádua, do Hemocentro São Lucas, em São Paulo, a restrição a esse grupo ocorre pela necessidade de se haver um critério na hora da triagem.

- A camisinha previne bastante, mas para a doação de sangue é um pouco mais criterioso. Para a doação de sangue, a DST e os riscos de desenvolver alguma dessas doenças, entre elas a hepatite C, o HIV, entre outras, são um risco. E isso faz parte de um grupo que tem que ficar em observação, temporariamente inapto.

E mesmo com esse critério, há chance de alguém infectado passar pela triagem, o que faz a necessidade da restrição ser mais específica, ressalta Rafael de Sá Vasconcelos, hematologista do Hemolago, em Brasília. Isso porque, ele explica, a hepatite C e o HIV têm uma janela imunológica de pelo menos 70 dias, ou seja, os vírus não são detectados em testes nesse período nos exames realizados no Brasil. Portanto, se uma pessoa estiver infectada, não saber, for doar e, no teste sorológico realizado depois da coleta, nada for identificado, esse sangue será usado por alguém que se infectará.

- A gente tem que pensar na segurança [de quem for receber o sangue] e ter exames melhores também para diminuir essa janela imunológica e diminuir essa restrição. Boa parte da população você acaba excluindo da doação. Mas, na prática, quando a pessoa teve uma parceria fixa nos últimos seis meses a gente deixa doar.

Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum o uso do exame NAT, que consegue detectar o vírus HIV em dez dias e o da hepatite C em 20. A expectativa é de que o exame passe a ser adotado neste ano no Brasil.

Esper Kallás, infectologista da USP (Universidade de São Paulo), diz que o aumento da segurança com a medida é pequeno, já que o risco da transmissão do HIV com o uso da camisinha é "baixíssimo".

– O risco de transmissão em uma relação protegida é muito baixo. E eu acho que isso pode trazer prejuízos para o número de pessoas que doam sangue, mas isso o tempo vai dizer.

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