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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Portugal: Direcção Geral diz que norma contestada admite excepções

A norma sobre a utilização clínica de antipsicóticos que está a ser contestada por alguns psiquiatras ainda está em audição e admite “exceções”, afirma Direção Geral de Saúde (DGS), alertando que a recomendação se baseia em evidências científicas.

“A norma está num processo de audição que se prevê ser concluído em breve e não têm ainda uma versão definitiva”, esclarece Alexandre Dinis, diretor do departamento de Qualidade na Saúde da DGS, em declarações à Lusa.

O responsável avisa ainda que, tal como todas as normas, também esta, que recomenda a prescrição de antipsicóticos de primeira geração, admite exceções.

“Todas as normas permitem situações excecionais, desde que devidamente fundamentadas no processo clínico. As normas são elaboradas desde o primeiro momento com a colaboração da Ordem dos Médicos, pelo que refletem a opinião da classe médica portuguesa”, defende.

Quanto às opiniões dos profissionais, o diretor do departamento de Qualidade da DGS avisa que devem ser feitas no local próprio.

“Há regras claras para emitir esses comentários: os profissionais inscrevem-se no site da DGS e juntam uma declaração de interesses. As opiniões são depois analisadas pela coordenação científica da norma, passando ainda para a Comissão Científica para as Boas Práticas Clínicas, que dá a última palavra sobre o assunto”, explica.

O responsável garante que este é um “processo transparente e democrático” e que ninguém está a tentar coartar a liberdade de prescrição médica.

Álvaro de Carvalho, responsável científico da Norma da DGS sobre a utilização clínica de antipsicóticos defende que, ao contrário do que é reclamado pelos profissionais que contestam o documento, “não há evidências científicas de que os antipsicóticos de segunda geração sejam melhores que os de primeira” geração.

“Os antipsicóticos de segunda geração provocam uma menor frequência de efeitos secundários, mas do ponto de vista da eficácia clínica, sobretudo nas formas mais graves [da doença psiquiátrica], o custo da eficácia e do benefício vai a favor dos antipsicóticos de primeira geração”, afirmou o também Coordenador Nacional para a Saúde Mental, em declarações à Lusa.

Mesmo em relação aos chamados “sintomas negativos” da doença mental grave (alheamento, afastamento da sociedade), Álvaro de Carvalho diz que existem “bases científicas que mostram que não há nenhuma melhoria” dos medicamentos de segunda geração em relação aos clássicos e que “todos são insuficientes”.

Tendo em conta que estes doentes interrompem “frequentemente a medicação”, Álvaro de Carvalho sustenta que importantes são os programas de reabilitação psicossocial, dirigidos precisamente para os sintomas negativos da doença.

“Há muita evidência científica que demonstra que estas pessoas, integradas nestes programas, se interromperem o tratamento ao fim de seis meses, estão melhores do que as que não estão integradas em programas de reabilitação e estão a ser tratadas com antipsicóticos de segunda geração”, observa.

O especialista defende que “os cuidados continuados de saúde mental vão responder de forma estruturada a estas questões”, existindo já, no país, “cerca de 30 estruturas de reabilitação psicossocial, desenvolvendo competências para combater os efeitos negativos da doença e ajudando os doentes a ressocializar e a cuidarem de si”.

Para Álvaro de Carvalho, mais do que a medicação, é “a reabilitação que faz a diferença”.

Fonte Destak

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