Em 1984, Herbert Vianna, cantor e guitarrista dos Paralamas do Sucesso, já reclamava na música Óculos que as meninas do Leblon não olhavam para ele, coitado, devido ao uso do acessório. Triste, o rapaz da música disparava: “Por trás dessa lente também bate um coração”. Encarados por alguns como inimigos da boa aparência, os óculos já foram, para muita gente, a única opção para uma visão saudável. Atualmente, porém, esse “detalhe” pode facilmente ser deixado de lado. Segundo médicos, o avanço das cirurgias a laser e das lentes de contato e intraoculares transformaram, em grande parte dos casos, o “detalhe” em opção.
A especialista em cirurgia a laser da clínica Vision Oftalmologia Sudoeste, Renata Bettarello, considera que as pessoas hoje só utilizam óculos se quiserem. “São tantos tratamentos, tantas opções, que na maioria das vezes eles funcionam mesmo como um acessório”, percebe. “Um exemplo são os pacientes com astigmatismo moderado e elevado, que só contavam com lentes rígidas e óculos”, aponta. Atualmente, conta a oftalmologista, pessoas com esses problemas podem fazer uso de lentes gelatinosas, mais confortáveis, inclusive para graus altos, ou optar pela correção a laser. Para miopias ou hipermetropias muito elevadas, o paciente pode optar por lentes de contato ou operação a laser. E nos casos em que a intervenção cirúrgica não é aconselhável, há a possibilidade de realizar o implante de lentes intraoculares para a redução do grau.
Para Edson Silvério, especialista em doenças refrativas da Visão — Institutos Oftalmológicos Associados, a todo momento surgem novas opções de tratamento para a miopia e o astigmatismo. Contudo, a maior novidade para ele é a cirurgia para a presbiopia, a popularmente chamada vista cansada. “O problema surge a partir dos 40 anos e só era corrigido com lentes e óculos. Atualmente, podemos ajustá-la com a cirurgia a laser”, explica.
Outro destaque, na opinião de Silvério, é a qualidade dos lasers. Atualmente, as cirurgias estão sendo realizadas com o Allegretto Eye-Q 400Hz, raio considerado mais seguro e preciso pela FDA (órgão que regulamente tratamentos médicos nos Estados Unidos). “É o que há de mais moderno. Com ele, a cirurgia é realizada de forma personalizada, levando em conta que cada pessoa tem olhos com características distintas. Esse laser age diretamente no problema”, ressalta.
O procedimento é realizado a partir da análise de frente de onda, uma avaliação que detecta a forma como a luz que entra no olho atinge a retina. Dessa forma, o laser trata o problema de forma individualizada. A médica Renata Bettarello explica ainda que, devido à maneira como os novos lasers incidem na córnea, já é possível minimizar os problemas da visão noturna como os halos ao redor da luz, que geravam alguma insatisfação após as cirurgias com os lasers convencionais.
Adaptação
Esses avanços beneficiam pessoas como Maria Alice Franco, 51 anos, que sofria com a hipermetropia, a presbiopia e o astigmatismo. Os óculos receitados pelo médico ficavam em qualquer lugar, menos no rosto da analista de sistemas. “Tudo que aperta meu rosto me dá dor de cabeça, por isso evitava usar”, justifica. Vendo que não se adaptaria ao acessório, Maria Alice tentou usar lentes de contato, mas também sentiu dificuldades. “Trabalho o dia todo em frente ao computador, tenho olho seco, a lente realmente não era a melhor a opção”, recorda. Cansada da situação, resolveu se submeter à cirurgia refrativa para resolver os problemas de visão. Segundo ela, foi a melhor decisão. “Exergo muito bem, faço tudo, posso dirigir sem medo”, comemora.
Renata Bettarello ressalta que há alguns estudos apontando para a possibilidade futura de diminuição do grau de pacientes portadores de doenças corneanas como o ceratocone com o laser. Para que o procedimento se torne seguro nos casos dessa doença é necessário fortalecer a córnea com a aplicação de colírio de vitamina B2 associado à radiação ultravioleta, procedimento chamado de crosslinking. Ela explica também que nos casos da presbiopia, além do procedimento a laser, já é possível em alguns casos o implante de lentes intraoculares multifocais, aquelas que permitem a visão tanto para perto quanto para longe.
A design de interiores Sandra Mattos, 46 anos, conta que a melhor coisa que aconteceu na vida dela foi a realização da cirurgia com aplicação da lente intraocular. Desde os 7 anos, ela dependeu de óculos e lentes para corrigir os sete graus de hipermetropia e astigmatismo. “Os médicos não acreditam que eu consegui aprender a ler. Era como se eu fosse cega. Me sentia um patinho feio com aquele fundo de garrafa. Óculos é como uma máscara”, diz. Em 2005, Sandra passou por uma cirurgia semelhante à de catarata para o implante de duas lentes em cada olho. Hoje, diz, enxerga tudo. “Posso mergulhar de olhos abertos, já acordo enxergando, é uma maravilha.”
Catarata
Nos casos de cirurgia de catarata, o especialista João Luiz Pacini relata que, atualmente, mais de 60% dos pacientes que passam por ela não precisam mais usar óculos. Essa doença é caracterizada pelo turvamento progressivo do cristalino causando problemas como a absorção da luz que chega à retina. Há seis tipos de catarata: senil, congênita, inflamatória, metabólica, traumática e medicamentosa. De acordo com ele, a cirurgia é muito segura por ser de alta tecnologia. “É geralmente rápida, eficiente e indolor”, assegura.
Para o próximo mês, já está previsto o lançamento da lente multifocal tórica, voltada para os pacientes com alto astigmatismo e que ainda não tinham indicação de lente intraocular. Segundo Pacini, com a nova tecnologia, o índice de pessoas operadas e que não utilizarão mais os óculos vai aumentar.
No procedimento, o especialista retira o cristalino doente e opaco do olho com baixa visão e o substitui por um cristalino artificial (lente), que pode ser monofocal ou multifocal. A utilização desse último não é aconselhável se o paciente possuir algum problema na retina, como a retinopatia diabética ou a degeneração macular.
Visão clara
Veja as opções de tratamento para alguns problemas de vista:
Doenças refrativas
Miopia — visão desfocada
Hipermetropia — visão desfocada para perto
Presbiopia — perda da capacidade de acomodação e focalização para perto
Astigmatismo — visão distorcida para perto e para longe
Tratamento
A cirurgia refrativa é um procedimento que corrige os erros, modificando a forma da córnea e, consequentemente, o modo como a luz é recebida internamente pelos olhos. O procedimento com laser é realizado sob o efeito de anestesia e é aplicado durante dois segundos para cada grau
Catarata
Caracterizada pelo embaçamento do cristalino, a lente natural dos olhos
Tratamento
De tempos em tempos, surgem avanços nesse procedimento. A novidade é a aplicação da lente multifocal. O cirurgião retira o cristalino e insere a lente que proporciona uma melhor visão, tanto para perto quanto para longe
Cerotocone
Doença caracterizada pelas mudanças estruturais na córnea, tornando-a mais fina e com formato de cônico
Tratamento
Tradicionalmente, o paciente usa óculos, lentes de contato especiais e cirurgia. Mas, atualmente, está disponível um tratamento chamado crosslinking, que consiste na aplicação de vitamina B2 associada à ultravioleta do tipo A na córnea do paciente, o que proporciona o enrijecimento da córnea. Em alguns casos, o paciente não precisará mais usar óculos.
Fonte Correio Braziliense
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