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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cafeína

A cafeína pode ser considerada uma das substâncias psicoativas mais consumidas no mundo. Ainda existe, no meio científico, muita discussão sobre seus potenciais benefícios e riscos para a saúde. Uma substância também utilizada em remédios, a cafeína pode até mesmo atuar de forma terapêutica, quando adequadamente prescrita por um médico."
 
A cafeína pertence ao grupo de compostos das metilxantinas, em que se inclui também o chá. São substâncias que, se tomadas em grandes quantidades e com freqüência, estimulam o sistema nervoso, produzindo estado de alerta de curta duração. Em medicina, a cafeína tem sido usada emergencialmente para excitar padrões deprimidos de respiração e até como terapêutica auxiliar no tratamento de dores de cabeça.
 
A cafeína é também encontrada, em menores proporções, em outras bebidas além do café, como as bebidas contendo cacau, cola, chocolate, além do chá e de alguns remédios do tipo analgésico ou contra gripes.
 
Existem evidências de que a cafeína possa funcionar como droga de adição, causando dependência em seus consumidores. Não existem relatos, entretanto, de pessoas que tenham cometido atos desmedidos por estarem sob o efeito da substância. Para os especialistas, a explicação para isto está na quantidade de droga ingerida: caso fosse possível isolar a cafeína, seus efeitos seriam bastante potentes, semelhantes aos da cocaína, por exemplo. Existem, no entanto, aspectos psicológicos inerentes ao uso da cafeína, estipulados culturalmente através dos séculos. Tradicionalmente ela é usada como um estimulante leve, aceito em todas as famílias. Há também o efeito de sugestão, muito presente no uso da cafeína: a pessoa toma duas ou três xícaras de cafezinho, por exemplo, e fica a noite inteira sem dormir. O que está ocorrendo é muito mais o fato de a pessoa acreditar que esta dose lhe tira o sono do que o efeito da droga ingerida, propriamente dito.
 
A cafeína talvez seja a substância estimulante de maior consumo em todo mundo. Somente nos Estados Unidos, os dados epidemiológicos indicam que a ingestão diária é superior a 150mg, o equivalente a 3,5 kg de café por ano. Os países latinos têm tradicionalmente o hábito de tomar café mais concentrado, com maior teor de cafeína, enquanto que os americanos preferem o café bem mais diluído, de preferência descafeinado. Isto porque a bebida não é tão popular nos Estados Unidos como é no Brasil e em Cuba, os maiores produtores de café. O café coado tem menos teor de cafeína que o café sírio, por exemplo, que não é filtrado, ficando o pó assentado no fundo do recipiente. Este último é o que tem maior proporção de cafeína, que produz um certo estado “energético” (o valor calórico da cafeína é desprezível) e que, em altas doses, pode provocar uma dependência moderada.
 
Há ainda outros ingredientes no café que podem elevar o nível de colesterol, além de estimular a acidez no estômago. Algumas pessoas apresentam sintomas de azia com o uso exagerado da bebida. Os pacientes portadores de gastrite e outras doenças gástricas costumam receber a indicação de que não devem tomar café, em especial se estiverem com o estômago vazio.
 
Estudos recentes mostraram alguma evidência de que beber duas ou três xícaras de café pode elevar a pressão e aumentar o cortisol, hormônio do estresse.
 
Existe de fato a possibilidade de que a cafeína aumente o estresse: basta se lembrar das pessoas que fumam, pois elas formam um círculo vicioso - tomam café para fumar, ou fumam para justificar a ingestão de café. Isto, porém, não é um dado alarmante, apenas algo que as pessoas devem preferencialmente evitar.
 
Alguns estudos também apontam a cafeína como um dos responsáveis por aumentar o poder de hipertensão de alguns remédios, o que significa que o mais adequado é não fazer uso da cafeína combinada com tratamentos médicos que exijam uso de medicamentos. Esses estudos mostraram ainda que bebidas cafeinadas, tomadas sob estresse antes de exames, provocavam pressão sistólica sanguínea aumentada em mais de 14mmHg. O efeito combinado sobre a pressão sanguínea é tão intenso que as pessoas com tendência à hipertensão devem evitar bebidas cafeinadas, dizem os relatórios dos estudos. Além disso, pessoas que vão medir a pressão sanguínea devem evitar tomar cafeína antes.
 
Alguns estudos, no entanto, indicam que a cafeína também pode ser utilizada para controlar uma série de doenças. Entre eles, destacamos a pesquisa realizada por pesquisadores da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, que indica que beber café pode reduzir o risco da doença de Parkinson. O Dr. Demetrius M Maraganore, que coordenou a pesquisa, identificou, com sua equipe, 196 pessoas que desenvolveram a doença entre 1976 e 1995. Os casos foram distribuídos estatisticamente, por idade, sexo e comparados à indivíduos da população em geral, que não desenvolveram a doença.
 
O artigo, publicado na revista Neurology, aponta que o uso de café foi significativamente mais comum em indivíduos controles do que nos casos que desenvolveram a doença. O motivo para esta associação não é conhecido, e os pesquisadores advertem que este resultado não significa, ainda, que tomar café tem um efeito protetor contra a doença de Parkinson, embora o estudo traga a observação de que há uma tendência de risco progressivamente mais baixo, relacionado ao número de xícaras de café ingeridas por dia. Para completar, os pacientes que tomavam café apresentaram um início mais tardio da doença, quando comparado aos que não tomavam.
 
Um outro estudo, chefiado por Seymour Diamond, da Diamond Headache Clinic (Clínica para Dor de Cabeça Diamond), em Chicago (Illinois), e publicado na revista Clinical Pharmacology and Therapeutics (Farmacologia Clínica e Terapêutica) envolveu 301 pessoas que sofrem de dor de cabeça com freqüência. A investigação mostrou que uma dose de cafeína também pode ajudar a tratar a cefaléia comum associada à tensão e atingir resultados ainda melhores se combinada com ibuprofeno. Da população pesquisada, 80% dos que tomaram a combinação da droga e da cafeína verificaram que a dor melhorou significativamente em seis horas, comparados a 67% que tomaram somente a droga e 61% que tomaram somente cafeína. Também observaram melhora neste prazo em 56% dos pesquisados que tomaram apenas placebo, substância inócua.
 
Os pacientes que receberam ibuprofeno associado à cafeína tiveram um alívio da dor quase uma hora antes dos pacientes que tomaram apenas ibuprofeno. Cabe ressaltar que os pacientes pesquisados apresentavam dores de cabeça associadas à tensão conhecidas como cefaléias episódicas por tensão, de 3 a 15 vezes por mês e que pessoas com dor de cabeça crônica devem evitar a cafeína, pois, nestes casos, a substância pode acentuar os sintomas.
 
De acordo com a pesquisa, a combinação de cafeína e ibuprofeno também pode auxiliar no alívio das cólicas menstruais e certos tipos de dores pós-cirúrgicas. Acredita-se que a cafeína, por ter a propriedade de contrair os vasos sangüíneos, compensa a dilatação dos vasos da cabeça, que causam a dor. Para os especialistas, a cafeína parece potencializar os efeitos analgésicos do ibuprofeno, pois a metade dos pacientes que só tomaram cafeína relataram inicialmente um alívio da dor semelhante aos pacientes no grupo do ibuprofeno ou no grupo da combinação, mas a dor de cabeça voltou logo depois.
 
Um grupo de pesquisadores americanos, dirigidos por Dr. Mark A . Klebanoff, vinculado ao National Institute of Health, analisou medições seriais de paraxantina, o principal agente da cafeína, em 487 mulheres com aborto espontâneo ocorrido antes da 20ª semana de gestação, participantes do estudo Collaborative Perinatal Project, entre 1959 e 1966. Elas foram comparadas com 2.087 pacientes cuja gravidez teve curso normal. Os dados estatísticos mostraram que as concentrações de paraxantina foram maiores no grupo que sofreu aborto (725 ng/dl), em comparação com o grupo de controle (583 ng/dl) em comparação com o grupo de controle (583 nd/dl) (p< 0,001). No entanto, o risco de aborto espontâneo só foi superior nas participantes com cifras de paraxantina acima de 1845 ng/dl, depois de ajustar dados segundo idade, tabagismo e raça.
 
Ainda que não seja possível estabelecer de forma precisa a relação entre o nível de paraxantina e o consumo de cafeína, os autores afirmam que, extrapolando os dados de um estudo piloto prévio, cifras superiores a 1845 ng/dl corresponderiam a seis taças diárias de café, ou 600 mg de cafeína, em uma mulher de 60kg não fumante e 11 taças ao dia (1100 mg de cafeína) em uma fumante. Desta maneira, conclui-se que só o consumo elevado de cafeína está associado com um risco aumentado de aborto espontâneo.
 
No editoral que acompanha o estudo, a Dra. Brenda Eskenazi, vinculada a University of California School of Public Health, assinala que as evidências recentes sugerem que um consumo diário de cafeína superior a 150 mg, ou duas xícaras de café, incrementa o risco de peso baixo ao nascer e aborto espontâneo.
 
Vale a pena ressaltar que desde 1981, a FDA recomenda que as mulheres grávidas evitem a ingestão de bebidas ou medicamentos que contenham cafeína ou que o consumam apenas esporadicamente, uma vez que a cafeína comprovadamente atravessa a barreira placentária e atinge o feto. As grávidas não devem se alarmar nesse sentido nem chegar a extremos de abolir totalmente o café, quando ele já faz parte da sua mesa: o ideal, com tudo, é a moderação.
 
A cafeína contém vitaminas ou proteínas?
Não. A cafeína não apresenta nenhum valor nutricional, sendo considerada simplesmente uma bebida estimulante. Como ela provoca uma dependência leve, é comum que as pessoas sofram de dores de cabeça quando retiram subitamente a cafeína de sua dieta, sintoma que desaparece em alguns dias.
 
A cafeína provoca insônia, ou sono de baixa qualidade?
Esta é uma noção popular, embora não se tenha também quaisquer dados significativos a respeito. O que se sabe é que o estado de alerta buscado na cafeína pode ser obtido através de uma caminhada ou de exercícios, os quais facilitam um bom sono e conseqüente melhor estado de alerta na manhã seguinte.
 
É muito arriscado ingerir cafeína em estado de estresse?
Igualmente não existem diretrizes para isso. Mas os estudos sugerem que é melhor evitar seus excessos, pois o efeito na pressão sanguínea é suficiente para reduzir os efeitos de medicamentos ou de outras mudanças benéficas no estilo de vida.
 
As mulheres têm mais sensibilidade à cafeína?
Pesquisadores de Oklahoma constataram que não, que as mulheres têm respostas semelhantes aos homens, embora os mecanismos do aumento de pressão sanguínea tendam a diferir.
 
Está comprovado que a cafeína faz mal às crianças?
Os estudos não encontraram nenhum indício sobre isto, embora quase todos os médicos recomendem que o ideal é a criança não fazer uso demasiado de café, bebidas com cola ou refrigerantes, bem como chocolates, preferindo a isto frutas e bebidas tipo suco.
 
O nível de cortisol (hormônio associado ao estresse) aumenta com a ingestão de cafeína?
Estudos mostraram que sim, porém esse aumento está também ligado a situações de estresse e não exclusivamente ao uso de cafeína. Nesses casos, convém também substituir a bebida por sucos.
Copyright © 2006 Bibliomed, Inc. 09 de Fevereiro de 2006.
 
Por Boa Saúde

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