Terceirizar ou não esta operação? É viável usar a força da marca para obter receita com este serviço? Como enfrentar a escassez de mão de obra e a concorrência entre organizações com diferentes modelos de negócios?
Com perspectiva de crescer 8,3% ainda este ano, atingindo receitas de R$ 20,2 bilhões e realizando 98 exames por habitante (de acordo com pesquisa da consultoria Formato Clínico), o setor de medicina diagnóstica se depara com dilemas para conseguir mais eficiência e lucratividade em suas operações, entre elas, optar ou não pela terceirização, o que fazer frente às iniciativas de verticalização das operadoras e como lidar com a falta de mão de obra especializada em seus serviços.
O foco que o Brasil ganhou na economia mundial, o aumento da oferta de empregos formais e, consequentemente, de beneficiários nos planos de saúde, e a entrada de possíveis players que irão aproveitar os movimentos de outsourcing – consagrado em outros setores – aquisições, aprimoramento profissional, adequação às regras internacionais de prestação de serviços e inovação são cenários que irão fazer parte das decisões estratégicas das empresas que querem permanecer no mercado.
Terceirização e verticalização: questão de estratégia
A terceirização é uma onda que vem conquistando adeptos em diversos setores há mais de uma década. A proposta se encaixa perfeitamente nas tendências de expansão rápida das operações, corte de custos, foco no core business e globalização. A estratégia já é consagrada em empresas de segmentos tradicionais como o automotivo, tecnologia e algumas verticais de serviços. Na área de medicina diagnóstica, o assunto vem ganhando corpo nos últimos dois anos devido à expansão econômica e gargalos para o crescimento.
De acordo com o fundador e diretor-executivo do Grupo Infinita, Paulo Bonadio, a medicina diagnóstica vive o dilema de escolher entre terceirizar e verticalizar. Mas o caminho a seguir depende da atuação da empresa e seus planos para o crescimento. “Nos grandes hospitais, as marcas são fortes e carregam estes serviços, que se tornam fonte de receita. Nos menores, a oferta direta destes serviços mais onera do que gera lucro”, diz.
O diretor de Relações Institucionais da Dasa, Luiz Gastão Rosenfeld, complementa: “Para que a operação se torne possível, as instituições precisariam cobrar caro ou procurar clientes de fora. A viabilidade econômica fica difícil, considerando-se a média de 50 leitos nos hospitais brasileiros.”
O diretor de Medicina Diagnóstica e Preventiva do Albert Einstein, Luis Roberto Natel, reforça que a questão financeira determina a decisão e o posicionamento da instituição no mercado. “Nosso avanço em diagnóstico é cada vez maior, mas entendemos que a área funciona como uma fábrica e é volume-dependente. Com volume pequeno, a conta não fecha”. O executivo destaca também a carência de mão de obra, o que deve ser levado em conta antes de se pensar na abertura de um novo serviço como estratégia de negócio. “Há poucos radiologistas se formando e, se todo mundo internalizar o serviço, não haverá profissionais disponíveis para todas as instituições.”
No setor público, terceirizar também parece ser a melhor saída. “Podemos entrar onde o governo não tem capacidade técnica nem operacional para fazer o serviço”, avalia Bonadio. Com atuação no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a empresa é responsável pela realização de exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética em um dos hospitais públicos de Rondônia e já chegou à marca de 2,5 mil procedimentos realizados.
Para o sócio-diretor da Formato Clínico, Gustavo Campana, a abrangência da atuação também determina a decisão sobre terceirizar ou verticalizar. “Em grandes centros, uma unidade de negócio de medicina diagnóstica para os hospitais é viável, em mercados menores, é preferível um parceiro”, comenta. De acordo com o executivo, a busca por novas fontes de receita irá direcionar qualquer decisão nos próximos meses.
“No médio e longo prazos os hospitais sofrerão pressão do mercado para buscar novos negócios e diversificação da receita”, argumenta. E operadoras poderão olhar com mais carinho para esse ramo de diagnóstico ao notarem uma chance de lucratividade. “Mas há aspectos desse setor que complicam a decisão para quem não tem uma marca forte”, completa.
Formação e apagão profissional
O setor de saúde vive grande avanço tecnológico e de crescimento. Embora esse quadro seja bom para a maioria das empresas, tal expansão e transformação têm impacto direto na qualidade dos profissionais. Equipamentos mais modernos e complexos exigem melhor qualificação e políticas de retenção.
Em contrapartida, a falta de mão de obra, juntamente com o crescimento, gera uma inflação de salários mesmo em profissionais com pouco gabarito. A empresa que não conseguir equilibrar essa equação corre o sério risco de ver a qualidade dos serviços cair ou sofrer com a fuga de profissionais para a concorrência.
A solução para isso depende de cada caso. O Einstein, por exemplo, sentindo a necessidade de formar enfermeiros, criou uma unidade educacional especializada nisso para atender a demanda. Atualmente, 70% dos profissionais formados são aproveitados na própria instituição. Na radiologia, o hospital começou a fornecer residência para evitar fuga de mão de obra e formar melhores técnicos de acordo com os seus padrões.
No Grupo Infinita , os profissionais são treinados para atingir o volume esperado, as promoções acontecem por meritocracia e a remuneração é variável. O diretor executivo, Paulo Bonadio, aconselha as entidades a focarem na formação profissional e na qualidade e modernização de processos para suportar o crescimento dos próximos anos. “No centro-norte do País, a telerradiologia é uma febre, mas não há profissionais disponíveis, mesmo com boas ofertas de salários e benefícios. Quem conseguir adequar essa demanda com uma oferta que seja boa para o cliente, será beneficiado”, diz.
Na outra ponta, de quem solicita o exame, também falta qualificação. Muitas vezes por insegurança os médicos pedem exames por rotina mesmo que os pacientes sejam saudáveis acabam passando por procedimentos sem necessidade. “85% dos exames são negativos”, afirma Bonadio. É comum que os pedidos cheguem aos centros de diagnósticos sem informações clínicas ou que sejam solicitados procedimentos que não são os mais indicados para os casos que se pretende investigar. “Devíamos nos negar a realizar exames sem informações clínicas”, sentencia Rosenfeld.
Para contornar o problema, o Grupo Infinita se apoia em ferramentas como o Pacs e prontuário eletrônico e faz até mesmo conferências por Skype para encontrar os melhores exames para o diagnóstico buscado pelo médico solicitante. “É preciso ter mais protocolos. Quando a técnica não é bem aplicada, o médico acaba pedindo um novo exame”, explica Bonadio.
Além de protocolos, é preciso definir melhor os critérios de uso. “Temos de reinventar nossa posição como especialistas em diagnósticos. Hoje, se cria a demanda e a oferta acompanha. O cenário poderia ser diferente se o uso da medicina diagnóstica fosse mais racional”, finaliza Campana.
Desafios do setor
Globalização
com o Brasil entrando no foco das grandes empresas internacionais, o setor de saúde tem como clara a chegada de novos players internacionais nos próximos anos. Há aspectos legais e burocráticos que diferenciam o mercado local de outros como Europa e Estados Unidos. Mas a sensação geral é que as empresas que não conquistarem espaço com a marca e satisfação do cliente terão muita dificuldade em se posicionar no futuro.
Fortalecer marcas
Grandes, médias e pequenas empresas estão envolvidas nesse desafio. A estratégia pode variar da atuação em nichos à economia de escala. Não há uma regra básica, a não ser, defini – la de acordo com o poder de investimento, região onde atua e conhecimento total do mercado.
Formação Profissional
A escassez de profissionais qualificados é um dos problemas que afligem vários setores da economia nacional e não é diferente na saúde. A falta de médicos capacitados faz com que a demanda por exames aumente e, nessa ponta, a dificuldade vira um gargalo quase intransponível. Especialistas e executivos do setor estão recomendando a formação de mão de obra internamente e a adoção de políticas de carreira e benefícios para evitar a fuga para a concorrência.
Contratos
as diversas modalidades de contrato de serviços existentes é apontada como um dos problemas crônicos do setor. Há modelos de todos os tipos e isso exige uma criatividade das empresas na hora do fornecimento do serviço. Embora isso possa ser visto como uma virtude, também dificulta a comparação das competências e exige custos burocráticos maiores.
Fonte SaudeWeb
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