Foto: Adam Dean/The New York Times Wu Xiaotian, de três anos, mostra a máscara que seus pais pedem que use quando vai brincar fora de casa. |
A tosse crônica e nariz entupido do garoto começaram no ano passado, quando ele tinha 3 anos de idade. Seus sintomas pioraram neste inverno, quando a poluição na região norte da China chegou a níveis recorde. Agora ele precisa fazer inalação e limpeza nasal todas as noites com água salgada canalizada através de tubos de uma máquina.
A mãe do menino, Zhang Zixuan, disse que quase nunca o deixa sair de casa e, quando ele sai, geralmente ela o faz usar uma máscara facial. A diferença entre a Grã-Bretanha, onde ela já estudou, e a China é "o céu e o inferno", explicou.
Os níveis de poluentes mortais até 40 vezes o limite de exposição recomendado em Pequim e outras cidades começara, a amedrontar os pais e os incentivam a tomarem medidas que estão alterando radicalmente a natureza da vida urbana para seus filhos.
Os pais estão confinando seus filhos e filhas em casa, mesmo que isso signifique mantê-los longe de seus amigos. Escolas estão cancelando atividades ao ar livre e excursões. Pais que possuem uma melhor condição financeira estão escolhendo as escolas com base em seus sistemas de filtração de ar, e algumas escolas internacionais construíram gigantescas cúpulas em volta de campos esportivos para garantir que as crianças possam ter acesso a uma respiração saudável.
"Espero que, no futuro, nós mudemos para um país estrangeiro", disse Zhang, uma advogada, enquanto seu filho doente, Wu Xiaotian, brincava em uma esteira em seu apartamento, perto de um novo purificador de ar. "Caso contrário, vamos morrer sufocados."
Ela não é a única a querer ir embora do país. Alguns pais e expatriados chineses da classe média e classe média alta já começaram a deixar a China, uma tendência que os executivos disseram que pode resultar em uma perda enorme de talento e experiência. Há também relatos de pais estrangeiros que recusaram empregos de prestígio ou de negociarem maiores salários com seus empregadores, citando a poluição como um elemento decisivo.
Poucos acontecimentos minaram a confiança no Partido Comunista tão rapidamente quanto a percepção de que os líderes não conseguiram conter as ameaças à saúde e segurança das crianças. Houve indignação nacional em 2008, quando mais de 5,000 crianças foram mortas quando suas escolas desabaram no terremoto e centenas de milhares ficaram doentes em um escândalo de leite em pó contaminado. Oficiais do governo tentaram reprimir os pais irritados, às vezes através da força ou com subornos.
Mas a indignação com a poluição do ar é muito maior e está apenas começando a ganhar impulso.
"Eu não confio nas medições de poluição do governo de Pequim", disse o pai de Zhang, Zhang Xiaochun, um administrador de jornal aposentado.
Estudos científicos justificaram os temores de danos a longo prazo para crianças e fetos. Um estudo publicado pelo The New England Journal of Medicine mostrou que crianças expostas a altos níveis de poluição do ar podem sofrer danos pulmonares permanentes. A pesquisa foi feita na década de 1990 em Los Angeles, Califórnia, onde os níveis de poluição foram muito menores do que aqueles nas cidades chinesas nos dias de hoje.
Um estudo realizado por pesquisadores da Califórnia publicado no mês passado sugeriu uma ligação entre o autismo em crianças e a exposição de mulheres grávidas à poluição do ar relacionada com o tráfego. Pesquisadores da Universidade de Columbia, em um estudo feito em Nova York, descobriram que a exposição pré-natal aos poluentes do ar pode resultar em crianças com ansiedade, depressão e problemas de concentração. Alguns dos mesmos pesquisadores descobriram em um estudo anterior que as crianças em Chongqing, na China, que tiveram exposição pré-natal aos níveis elevados de poluentes atmosféricos a partir de uma usina a carvão nasceram com uma menor circunferência de suas cabeças, mostraram um crescimento mais lento e não desempenharam tão bem em testes de desenvolvimento cognitivo aos 2 anos de idade. O fechamento da fábrica resultou no nascimento de crianças com menos problemas.
As análises mostram pouca melhoria no futuro, se a China não mudar suas políticas de crescimento e reforçar a regulamentação ambiental. Um relatório do Deutsche Bank, publicado em fevereiro disse que as tendências atuais de uso de carvão e as emissões de automóveis significaram que se espera que a poluição do ar deveria piorar em mais 70 % em 2025.
Na prestigiada Escola No. 4 de Pequim , que há muito tempo tem educado líderes chineses e seus filhos, as aulas de educação física ao ar livre foram canceladas, pois o índice de poluição está alto.
"Dias com céu azul e ar aparentemente limpo são altamente valorizados, e eu costumo sair e fazer exercício", disse Dong Yifu, um estudante do último ano que acabou de ser aceito na Universidade de Yale.
Escolas de elite estão investindo em infra-estrutura para manter as crianças ativas. Entre elas estão a Faculdade Dulwich de Pequim e a Escola Internacional de Pequim, que em janeiro finalizou a construção de duas grandes cúpulas esportivas brancas de tecido sintético, que cobrem campos de atletismo e quadras de tênis.
Uma mãe americana, Tara Duffy, disse que ela tinha escolhido uma pré-escola para sua filha com base em parte, no fato que a escola possuía filtros de ar nas salas de aula. A escola, Escola Internacional 3E, também traz médicos para falarem a respeito da poluição e proíbe as crianças de brincarem ao ar livre durante o aumento dos níveis de poluição. Nos últimos seis meses, tem havido muito mais dias de condições “alarmantes’ e a escola não tem deixado com que as crianças saiam para fora”, disse Duffy, uma escritora.
Duffy disse que também verifica o índice de qualidade do ar diariamente para decidir se poderia levar sua filha para um piquenique ao ar livre ou para um espaço de lazer coberto.
Agora, depois de viver em Pequim por nove anos, Duffy está indo embora da China, e ela cita a poluição e o trânsito como os principais fatores de sua decisão.
Essa decisão está sendo considerada por muitos dos expatriados em Beijing.
Um casal de americanos com uma criança levou em consideração a poluição quando analisaram uma oferta de emprego de prestígio em Pequim, e foi uma das razões que, finalmente, recusaram a oferta.
James McGregor, um conselheiro sênior do escritório de Pequim da APCO Worldwide, uma empresa de consultoria, disse que ficou sabendo da história de um diplomata americano com crianças que havia recusado uma vaga de trabalho em sua empresa. Ele recusou a oferta apesar do fato que o Departamento de Estado oferece um abono salarial de 15 % para Pequim, que existe, em parte, por causa da poluição. O bônus para outras cidades chinesas, que também sofrem com a má qualidade do ar, varia entre 20 a 30 %, com exceção de Xangai, onde é de 10 %.
"Eu vivi em Pequim durante 23 anos, e meus filhos foram criados aqui, mas se eu tivesse filhos pequenos eu estaria considerando a possibilidade de ir embora", disse McGregor. "Muitas pessoas começaram a analisar a possibilidade de irem embora do país."
Nenhum comentário:
Postar um comentário