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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Impressão 3D ajuda médicos a planejar cirurgias de coluna e fazer diagnósticos

As promessas da impressão 3D para a medicina regenerativa --a construção de órgãos e tecidos para substituir partes danificadas do corpo-- ainda estão em fase de pesquisa e longe da realidade dos consultórios médicos.
 
Mas aplicações mais simples dessa tecnologia já começam a ajudar médicos a planejar procedimentos e a explicar a estudantes e aos seus próprios pacientes qual é a doença em questão e como será feita uma cirurgia.
 
O neurocirurgião Joel Teixeira, dos grupos de dor e de coluna do Hospital das Clínicas e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, começou a usar a impressora 3D em seu consultório particular há cerca de um mês.
 
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
Seis pacientes com problemas de coluna de difícil diagnóstico ou que precisariam passar por cirurgias tiveram suas vértebras e articulações reproduzidas pelo aparelho.
 
Para criar o protótipo, impresso em plástico, o médico usou os dados da tomografia computadorizada dos seus pacientes. Os pixels em três dimensões foram convertidos por um programa de computador em um "objeto" 3D virtual, enviado à impressora, que traduziu as informações em camadas de plástico depositadas sucessivamente até formar a parte da coluna que interessava ao médico.
 
"Aquele desastre de coluna é a minha", diz, aos risos, o gerente de contabilidade Antonio Carlos Sousa dos Santos, 53, que foi submetido há quase duas semanas a uma cirurgia minimamente invasiva para fixar uma parte de sua coluna.
 
Teixeira usou a réplica da coluna do gerente para se certificar de como a coluna do paciente estava se apoiando em uma das vértebras, que estava deteriorada, e para simular a fixação dos parafusos que seriam usados.
 
Enxergando além 
A vantagem, diz o médico, é especialmente para a cirurgia minimamente invasiva, que usa só pequenos cortes na tentativa de reparar a coluna. Nesse tipo de operação, o médico não enxerga a coluna inteira do paciente, só pequenos pedaços. Exames de imagem ajudam nessa navegação, mas "é fácil se perder", segundo Teixeira.
 
Segundo o neurocirurgião Manoel Jacobsen, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe do grupo de dor do HC, hoje, o comum é simular as cirurgias em modelos de coluna padronizados.
 
O uso dos exames de imagem durante a cirurgia e a navegação por uma espécie de GPS que orienta o trabalho do médico também fazem parte dos procedimentos, em especial os pouco invasivos.
 
Jacobsen afirma que já está sendo avaliada a compra de um equipamento de impressão 3D para uso na faculdade. "Essa tecnologia tem uso pertinente na educação de estudantes de graduação e de pós, além do treinamento dos cirurgiões e fisiatras."
 
João Amadera, fisiatra do Spine Center do HCor (Hospital do Coração), afirma que a função educativa dessas reproduções em 3D é válida, mas que a impressão com base na tomografia pode não reproduzir com exatidão a situação vivida na cirurgia. "O exame é feito de barriga para cima e a cirurgia, de barriga para baixo. Isso muda a posição da coluna."
 
O neurologista Jefferson Gomes Fernandes, superintendente de educação em ciências no hospital Oswaldo Cruz, diz que a instituição está incorporando essa tecnologia. "Para planejar a abordagem cirúrgica, a impressão 3D é muito útil. E o paciente vê o problema, pode levar aquilo para outro médico e ter uma segundo opinião."
 
Avanços
Fernandes diz que além dessa aplicação mais simples da impressão, o hospital planeja colaborar com pesquisas feitas pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) no campo da medicina regenerativa.
 
A ideia é estudar a impressão de estruturas como cartilagens e suportes para o crescimento de células-tronco.
 
Nos EUA, avanços nesse sentido vêm se acumulando. Em maio deste ano, por exemplo, médicos relataram o sucesso do implante de um brônquio impresso em 3D com plástico absorvível em um bebê.
 
Silvio Duailibi, cirurgião-dentista, professor e pesquisador da Unifesp, estuda a criação de tecidos substitutos a partir de material biológico que, futuramente, poderá ser impresso em 3D.
 
No Brasil, diz ele, essa tecnologia está em fase embrionária, mas é importante formar parcerias, como a que o laboratório onde ele trabalha está iniciando com o hospital Oswaldo Cruz, para que haja investimento na tecnologia.
 
"Essa é uma área estratégica, que precisa de recursos públicos e privados."
 
Folhaonline

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