Foto: SXC.hu / Agência RBS Práticas de humilhação por parte de um dos irmãos em relação ao outro deve receber intervenção da família |
Eles brigam pelo controle remoto, disputam a atenção dos pais, implicam com a idade um do outro e são capazes de criar discussões para decidir quem comerá o último pedaço de bolo. Provocações e rivalidades entre irmãos são comuns e até consideradas saudáveis por especialistas. Normalmente seguidas de momentos de paz e cumplicidade, elas fazem parte do amadurecimento dos pequenos. Mas é preciso ficar de olho. Quando extrapolam os limites, podem mascarar uma agressão mais séria e frequentemente atribuída ao ambiente escolar, o bullying.
Esse tipo de comportamento, caracterizado por atos de violência física, moral ou psíquica que são praticados por um indivíduo e que afetam a saúde mental ou física de outro, pode ser mais comum do que se pensa dentro do ambiente familiar. O alerta veio de um estudo publicado em meados do ano passado pela revista científica Pediatrics. Após entrevistar 3,6 mil crianças e adolescentes nos Estados Unidos, os pesquisadores concluíram que cerca de um terço deles sofria violentas intimidações psicológicas ou até agressões físicas dos irmãos. Como consequência, as vítimas apresentavam sérios danos na saúde mental, como altos níveis de ansiedade e depressão.
Para a psicóloga e psicoterapeuta infantil Tatiana Prade Hemesath, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, as desavenças e competições entre irmãos normalmente são movidas pelo ciúme relativo ao amor dos pais e pela competição inerente ao desenvolvimento das crianças. Apesar de provocarem alguns momentos de estresse, elas costumam não ser graves, já que são acompanhadas de momentos de convivência pacífica e cuidado mútuo. É quando ocorre um desequilíbrio entre estas duas situações que os pais devem abrir os olhos:
– Quando o equilíbrio na dinâmica normal deixa de ocorrer, a família deve assumir uma postura observadora. Práticas constantes de humilhação e agressão por parte de um dos irmãos em relação a outro devem receber intervenção da família e de um profissional experiente no assunto – explica.
Atenção para os dois lados
Depressão, ansiedade, baixo rendimento escolar e isolamento são alguns dos sintomas mais comuns apresentados por quem sofre bullying. E quando as agressões partem dos próprios irmãos, essas consequências podem ser ainda mais graves. Conforme Hemesath, isso ocorre porque o meio familiar deve representar um ambiente fraterno, protegido, no qual os pais devem ser os balizadores de comportamentos aceitos ou não aceitos entre irmãos:
– Quando há o bullying entre irmãos, talvez o sofrimento seja ainda maior, pois há uma dupla ruptura. Primeiro, na relação com os pais que não são capazes de identificar que este ocorre e, consequentemente, mediar a relação ou intervir. Em segundo lugar, na relação com o irmão, do qual se esperaria demonstrações predominantemente de afeto e empatia – resume a especialista.
Para lidar com o problema, o diálogo com os filhos é fundamental. Mediar a relação entre os irmãos e estabelecer limites é uma função que os pais devem assumir ao longo do desenvolvimento das crianças. Caso excessos sejam observados, em vez de buscar culpados e vítimas, os pais devem refletir sobre o comportamento dos filhos e buscar ajuda. Conforme a psicanalista Marli Bergel, da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, quando o bullying entre irmãos ocorre, a atenção deve se voltar para o conjunto familiar:
– É necessário pensar nos motivos pelos quais um dos filhos assume o lugar da vítima e o outro do algoz, que papéis estão exercendo dentro da família desta forma e qual a participação dos pais nesta situação. Ou seja, o que esses papéis podem estar sinalizando sobre a dinâmica familiar além de algo individual de cada filho.
Como lidar
— O diálogo é sempre a melhor prevenção. Conversar sobre o bullying com os filhos é uma forma de alertá-los e educá-los sobre o tema
— Os pais devem ser um exemplo. Ao respeitar o próximo, os pais estão ensinando aos filhos que este é um comportamento correto
— Se os pais identificam que ocorreram mudanças acentuadas no comportamento de um dos filhos, devem assumir postura mais observadora
— Se há suspeita de bullying entre irmãos, os pais devem buscar auxílio profissional. Porém, isso não os isenta de se envolverem no processo. Eles devem ter postura ativa na resolução dos problemas entre irmãos.
Zero Hora
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