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Colheita da planta, que é feita em montanhas a 3 mil metros de altura, gera lucros milionários e também mortes e corrupção entre locais
Oyarsagumba, conhecido como "viagra natural", é o fungo
mais caro do planeta e há 500 anos é cobiçado na cultura asiática. A
espécie é encontrada somente na região montanhosa, que fica de 3 mil a 4
mil metros de altura, no Nepal, Índia e Butão. “O Ophiocordyceps sinensis
(nome científico) é muito conhecido por ser um grande tônico
revitalizante. "Assegura o bom funcionamento de muitos órgãos do corpo e
fortalece o sistema imunológico. Por ser um regulador do sistema
circulatório, utiliza-se para impotência, para dor de cabeça e para
melhorar a produção de sangue e esperma”, diz Jit Narayan Sah, professor
do Instituto de Estudos Florestais da Universidade de Tribhuvan, no
Nepal, ao jornal espanhol El Pais.
Apesar de ser comum na região há séculos, sua colheita e
comercialização era proibida nos anos 1990, por isso a popularização do
"viagra do Himalaia" aconteceu a partir de 2001, e desde então, tem
aumentado muito. Estima-se que o governo receba anualmente pela sua
exploração por volta de 5,1 millhões de rúpias (R$ 88.290), segundo a
imprensa local. No entanto, o maior lucro fica mesmo com os
intermediários e comerciantes. Os revendedores geralmente compram um
quilo de yarsagumba por 1,7 milhões de rúpias (R$ 40 mil) e chegam a
vender a mesma quantidade por três milhões de rúpias (R$ 70.650) em
Katmandu, capital do Nepal. Em Xangai, na China, esse preço pode chegar a
US$ 100 por cada grama (aproximadamente R$ 223).
Estudos mostram que na época de ouro do comércio do fungo, o mercado
global girava entre US$ 5 e 11 trilhões (aproximadamente entre R$ 11 e
24 trilhões). Mas, a colheita foi reduzida nos últimos anos e estes
números caíram mais de 50%.
Um dos motivos da redução do comércio é a exploração
abusiva e pouca regulamentação. As comunidades próximas das regiões
montanhosas onde há yarsagumba vivem da colheita do produto e a disputa
acirrada aumentou casos de roubo e até morte envolvendo o comécio, além
dos problemas ecológicos que a colheita desmedida causa.
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A colheita é tradição passada de pai para filho e sempre
acontece entre maio e junho. Famílias inteiras deixam suas casas rumo
ao topo das montanhas em busca da maior quantidade possivel do Viagra do
Himalaia. "Acamparemos seis ou sete dias na montanha, a 4 mil metros de
altitude", conta Gupta Bahadur, de 45 anos, antes de sair para o
trabalho. E completa: "no ano passado não conseguimos encontrar muitos. É
uma planta muito misteriosa. Você pode procurá-la em um metro quadrado e
não encontrá-la, enquanto outros a descobrem rápido. Algumas vezes não
encontramos uma só peça em uma semana, e outras vezes recolhemos 50 em
um dia".
Em filas organizadas, eles carregam cestos de vime
presos à testa com até 30kg de alimentos montanha acima. Os terrenos
onde podem ser recolhidos são divididos por lotes e as famílias pagam
cerca de 250 rupias (cerca de R$ 6) para poderem entrar no pasto. Mas,
nem todos os locais são organizados, o que aumenta a corrupção entre
policiais que extorquem os camponeses, assim como ação de quadrilhas e
até assassinatos. "Alguns aldeões, inclusive, foram assassinados por
tentar invadir a coleta de outro povoado sem a permissão
correspondente", explica Kalyan Gauli, diretor do departamento de
Biodiversidade, Ecossistema e Mudanças Climáticas da Rede Asiática para
Agricultura Sustentável e Biodiversidade.
Outro perigo é a altitude das montanhas. Todos os anos,
são registradas mortes devido à quedas das áreas de colheita. As irmãs
Manita e Kapila Garthi, de 13 e 15 anos respectivamente, perderam o pai
durante a colheita. "Dizem que um bloco de gelo se desprendeu e nunca
encontraram o corpo. A montanha o tragou", explica a filha mais velha.
Durante este período, os povoados ao pé das montanhas se
tornam quase cidade-fantasmas. "Os aldeões precisam desse dinheiro para
sobreviver. É uma viagem dura para as crianças que vão com suas
famílias e perdem aulas, mas recuperamos esses conteúdos durante os
feriados", afirma Devkota Shora, professor da escola primária do local.
Terra
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