Estudo comparou manipulados com remédios feitos em laboratório. Até agora, avaliação verificou eficiência somente de anti-hipertensivos
Uma pesquisa do Departamento de Química da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) avaliou a composição dos medicamentos manipulados em relação aos fabricados em laboratório. O estudo, que durou três anos, foi feito com anti-hipertensivos para o controle da pressão alta.
De acordo com a responsável pelo projeto, Renata Diniz, também professora do Departamento de Química da UFJF, a equipe conseguiu algumas amostras de farmácias de manipulação e verificou que elas estão de acordo com o esperado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Os resultados da pesquisa ganharam, inclusive, um artigo, publicado no Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, um dos mais importantes do gênero no mundo. “A ideia inicial da pesquisa foi tentar uma metodologia para validar, do ponto de vista químico, remédios produzidos em farmácias de manipulação. Porque até então muitos médicos, principalmente cardiologistas, não recomendam o uso”, explicou Renata.
A pequisa da UFJF foi realizada pelo Grupo de Cristalografia de Pequenas Moléculas (GCPmol/UFJF) e, conforme se verificou, pode servir como referência para o controle de qualidade dos medicamentos manipulados, além de subsidiar a definição do formato ideal de fabricação, ou seja, se o medicamento deve ser produzido na forma de comprimido, cápsula ou em suspensão.
De imediato, a maior relevância se dá em função de a Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomendar o uso de remédios de controle de pressão arterial fabricados por farmácias de manipulação, alegando falta de controle de qualidade. O trabalho acabou revelando que algumas fórmulas produzidas por essas farmácias podem não ter o efeito devido.
Para chegar aos resultados, o grupo lançou mão de técnicas que utilizam o Raio X, como a Difração de Raio X, para tentar entender se os fármacos manipulados têm ou não a mesma qualidade, em termos estruturais, de um medicamento produzido pela indústria farmacêutica. Este ano a equipe alcançou resultados interessantes, o que possibilitou a publicação de um artigo no Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis. Contudo, Rentata ressalta que não é possível afirmar que todas as farmácias de manipulação seguem os padrões corretos, mas que, entre as testadas foi possível perceber que as fases observadas são biologicamente ativas e estavam na proporção que deveriam.
Renata Diniz ressaltou, entretanto, que não foram feitos testes biológicos. “Podemos dizer que do ponto de vista químico os medicamentos são equivalentes sim, mas também precisamos de testes biológicos para confirmar”, destacou.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não regulamentou e exigiu o uso da técnica de Difração de Raios X para avaliação dos fármacos. A maior parte dos investimentos é destinada aos remédios genéricos. Por isso, a pesquisadora afirma que no contexto atual a pesquisa da UFJF tem muita utilidade para o controle de qualidade.
Os trabalhos foram realizados apenas com anti-hipertensivos, porém, novos experimentos já estão em prática, com outros tipos de medicamentos.
G1
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