O cordão umbilical tem estado no centro de um debate internacional há anos. Quando cortá-lo? Os cientistas simplesmente não conseguem chegar a um acordo
A discussão aumentou recentemente com um movimento popular da parteira Amanda Burleigh, do Reino Unido. Seus clamores, feitos há quase uma década, atraíram a atenção de médicos ao redor de todo o mundo.
“Eu queria encontrar respostas para a razão pela qual tantas crianças, incluindo a minha, dos meus amigos e dos meus colegas, pareciam ter necessidades de aprendizagem e de saúde adicionais, especialmente os meninos”, disse Burleigh.
Para isso, passou a refletir sobre sua própria prática como parteira. “Eu comecei a questionar por que fomos treinados para cortar o cordão umbilical imediatamente após um bebê nascer”, conta. “Então, comecei a explorar a minha teoria de que deve haver um link para a saúde da criança com base em quando o cordão é cortado”
Recomendações confusas
Os médicos dizem que, antes de meados dos anos 1950, quando muitos bebês nasciam nas mãos de parteiras, a maioria dos cortes acontecia quando o cordão umbilical parava de pulsar, em torno de cinco minutos após o parto.
Hoje em dia, o tempo exato em que isso deve ser feito não é uma regra; é, na verdade, um tema controverso entre a comunidade médica.
De acordo com o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, o pinçamento do cordão umbilical geralmente acontece dentro de 15 a 20 segundos após o nascimento. Eles sugerem que o ato seja feito entre 30 a 60 segundos após o parto.
Muitas organizações de saúde internacionais, incluindo a Organização Mundial de Saúde, agora recomendam que o pinçamento do cordão umbilical seja feito entre um a três minutos após o nascimento.
O que a ciência diz?
Alguns estudos têm sugerido efeitos positivos do corte tardio do cordão umbilical, incluindo aumentos nas reservas de ferro, volume de sangue e desenvolvimento do cérebro.
Em uma pesquisa divulgada esta semana na revista médica JAMA Pediatrics, cientistas da Suécia mediram os efeitos do corte tardio do cordão. 263 bebês saudáveis que nasceram no tempo certo foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Um teve seus cordões umbilicais cortados menos de 10 segundos após o nascimento, e o outro três minutos após o nascimento.
Os dois grupos foram então monitorados durante quatro anos. Os bebês com corte tardio do cordão se saíram modestamente melhor em testes que avaliaram suas habilidades motoras finas e habilidades sociais. Os meninos foram os que apresentaram a maior melhoria, estatisticamente. Os resultados não mostraram diferença no QI global.
As descobertas não são dramáticas, mas os pesquisadores disseram que este é um passo importante. “É incrível ver a diferença que três minutos extras podem ter sobre a saúde geral de uma criança, especialmente quatro anos depois”, disse o Dr. Ola Andersson, principal autor do estudo e pediatra da Universidade de Uppsala, na Suécia. “Isso é muito promissor, mas estudos mais amplos são necessários”, disse Andersson.
Questões que ainda precisam de resposta
Os médicos que apoiam a espera no corte do cordão umbilical afirmam que, no parto, a menor quantidade de sangue poderia ter um grande impacto sobre aspectos específicos da saúde de uma criança. Além disso, há fatores externos que perpetuam a prática do corte precoce do cordão em países desenvolvidos – ele faz com que células do sangue essenciais permaneçam na placenta, que poderia ser usada e armazenada em bancos de células-tronco.
“Não é uma questão simples. Embora o corte precoce torne mais fácil coletar células estaminais do cordão umbilical – uma vez que a maior parte do volume de sangue permanece na placenta -, os nutrientes do sangue do cordão não são entregues diretamente ao bebê no parto”, esclarece o Dr. David Hutchon, ginecologista aposentado do Hospital Memorial em Darlington, Reino Unido.
Nos últimos 55 anos, o corte precoce tornou-se popular como protocolo médico para gerenciar a terceira etapa do trabalho de parto – a necessidade de monitorar os gases do sangue do cordão para testar se um bebê está privado de oxigênio durante o parto, o que pode causar danos cerebrais para algumas crianças.
“Quando se trata de práticas de parto, precisamos encontrar uma maneira melhor de testar os gases do sangue do cordão, bem como obter células-tronco do cordão e da placenta, depois que o bebê já teve sua transição fisiológica e um volume normal de sangue”, disse Hutchon. “Estamos chegando mais perto de encontrar uma solução, mas ela não existe ainda”.
CNN / Hypescience
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