A esquizofrenia, segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde), acomete 1% da população |
Os testes com a substância, o nitroprussiato de sódio, resultaram em ação
mais rápida, sem efeitos colaterais e maior controle dos sintomas do transtorno
mental. Os resultados foram publicados on-line no periódico médico "JAMA Psychiatry" .
A esquizofrenia, segundo estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde),
acomete 1% da população. Os principais sintomas são desorganizações psíquicas,
como delírios e alucinações, mas também cognitivas --falta de atenção e redução
no contato social, por exemplo.
De acordo com o professor da FMRP Jaime Hallak, que coordenou os estudos, os
medicamentos usados atualmente contra a esquizofrenia mostram eficácia só em
parte dos sintomas, como delírios e alucinações.
Nos demais sintomas, chamados de "negativos", como os que atingem a cognição,
os remédios atuais deixam a desejar. "Por isso, boa parte dos pacientes não
consegue retomar a vida normal."
Com o uso do nitroprussiato de sódio, segundo Hallak, houve "melhora global e
muito rápida". As pesquisas começaram em 2000, primeiro com animais, e evoluíram
para testes com humanos nos últimos cinco anos.
O estudo dividiu os pacientes em dois grupos de dez pessoas --um recebeu o
medicamento e o outro, placebo.
No grupo que recebeu o nitroprussiato, houve controle mais rápido dos
sintomas da doença. Com uma única administração do medicamento, o efeito
positivo durou por cerca de quatro semanas.
Descobertas
As drogas atuais contra a esquizofrenia agem bloqueando um receptor cerebral
da dopamina, um tipo de neurotransmissor --substância química que é produzida
pelos neurônios.
Como esses medicamentos não são eficazes contra todos os sintomas, surgiram
pesquisas em busca de outras substâncias, diz Hallak.
Vários estudos, segundo ele, conseguiram identificar que, em pessoas com
esquizofrenia, existe diminuição na função de um receptor cerebral chamado de
NMDA (N-Metil D-Aspartato).
Uma das funções desse receptor no cérebro é produzir óxido nítrico. "Se você
tem uma diminuição na função dele [NMDA], é lógico imaginar que há uma
diminuição na produção de óxido nítrico", afirma o professor.
Estudos já vinham tentando, com o uso de diferentes drogas, melhorar a função
do NMDA, mas sem eficácia.
Foi aí que entrou o nitroprussiato de sódio, um medicamento que já é
utilizado em ambiente hospitalar para controlar casos agudos de hipertensão. O
nitroprussiato produz o óxido nítrico, componente que dá mais "elasticidade" aos
vasos sanguíneos.
"Em vez de o receptor [NMDA] oferecer o óxido nítrico, nós fomos atrás de um
medicamento que faz isso."
Próximos passos
"A pesquisa abre uma avenida inteira de investigação para o tratamento da
esquizofrenia. Antes, os trabalhos estavam muito focados em mais do mesmo,
principalmente na dopamina", diz Hallak.
O professor Helio Elkis, do departamento de psiquiatria da Faculdade de
Medicina da USP, não envolvido com o novo estudo, afirma que o controle dos
sintomas negativos da doença é um dos principais méritos da pesquisa.
Elkis, que coordena o Projesq (Projeto Esquizofrenia) do Instituto de
Psiquiatria do HC, no entanto, chama a atenção para o tempo curto de
acompanhamento dos pacientes na pesquisa. "A única questão é que foi uma melhora
[avaliada] em quatro semanas, a gente tem que ver sintomas negativos em anos."
A sequência do estudo, já em andamento, envolve testes em aplicações
repetidas e com diferentes doses, além do uso da droga em outros quadros
psiquiátricos, como depressão psicótica.
"Nosso grupo de pesquisa acredita fortemente que, em algum momento, vamos
falar em cura para a esquizofrenia, ou pelo menos em restituição integral do
sujeito à normalidade", afirma Hallak.
Fonte Folhaonline
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