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Presente nas farmácias do Brasil há pouco mais de um ano, os multimodais não demonstram perda de função sexual, tampouco interferem no peso e não influenciam na parte cognitiva dos pacientes – efeitos comuns dos antidepressivos antigos.
Até mesmo o mecanismo de ação destes medicamentos é diferente. Ao contrário dos antidepressivos tradicionais, que atuavam nos receptores de serotonina, noroadrenalina e dopamina, os multimodais atuam em um número maior de receptores e neurotransmissores, inclusive no glutamato. Com isso, conseguem trazer benefícios diferentes, embora não possam ser considerados como remédios “melhores” do que os anteriores.
“Trata-se de um bom antidepressivo, mas é bom tanto quanto vários outros. Ele não é melhor que os outros até porque, muito provavelmente, ele tem uma deficiência grave, que é não atuar sobre a ansiedade. Ainda não podemos confirmar essa falha, porque não há estudos que associem o uso destes medicamentos com a ansiedade”, explica Ricardo Manzochi Assmé, médico psiquiatra e diretor secretário da Associação Paranaense de Psiquiatria.
Essa deficiência é considerada grave, na visão do médico psiquiatra, porque a maioria das depressões carrega um fator de ansiedade. “Uma pessoa deprimida não está apenas triste, indisposta e sem energia. Ela também está preocupada, com medo de que as coisas deem errado, com medo de que ela falhe. Essa parte é a ansiedade”, reforça Assmé.
Memória e concentração protegidas
Por outro lado, uma qualidade importante dos multimodais é a proteção cognitiva que ele traz, que é defendida por Saint Claire Bahls, médico psiquiatra psicoterapeuta, professor dos cursos de Medicina e Psicologia da Universidade Positivo. A cognição diz respeitos aos processos do pensamento, da concentração e da memória dos pacientes.
“Do ponto de vista mercadológico, é uma mina de ouro, porque um medicamento que melhore um pouco a memória dos pacientes deprimidos vai ser espetacular. Outros antidepressivos tentaram justificar a mesma ação, mas não é um efeito marcante, nem consistente”, explica o professor.
Dos nove sintomas essenciais para diagnosticar a depressão, um deles é o prejuízo à função da memória e da concentração – ao lado de tristeza, perda de prazer, falta de energia, insônia, apetite aumentado ou diminuído, desesperança, culpa e pensamentos de morte. Além disso, o uso contínuo de medicamentos antidepressivos pode também afetar a cognição.
“É importante lembrar que os antidepressivos multimodais devem ser indicados a um nicho de pacientes, com um subtipo de depressão e que sofrem com efeitos colaterais mesmo em uma concentração baixa da substância. Não são todos que sofrem os efeitos dos medicamentos, que são prescritos em doses baixas” – Ricardo Manzochi Assmé, médico psiquiatra e diretor secretário da Associação Paranaense de Psiquiatria.
Gazeta do Povo
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