As promessas da impressão 3D para a medicina regenerativa --a construção de
órgãos e tecidos para substituir partes danificadas do corpo-- ainda estão em
fase de pesquisa e longe da realidade dos consultórios médicos.
Mas aplicações mais simples dessa tecnologia já começam a ajudar médicos a
planejar procedimentos e a explicar a estudantes e aos seus próprios pacientes
qual é a doença em questão e como será feita uma cirurgia.
O neurocirurgião Joel Teixeira, dos grupos de dor e de coluna do Hospital das
Clínicas e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, começou a usar a
impressora 3D em seu consultório particular há cerca de um mês.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress |
Seis pacientes com problemas de coluna de difícil diagnóstico ou que
precisariam passar por cirurgias tiveram suas vértebras e articulações
reproduzidas pelo aparelho.
Para criar o protótipo, impresso em plástico, o médico usou os dados da
tomografia computadorizada dos seus pacientes. Os pixels em três dimensões foram
convertidos por um programa de computador em um "objeto" 3D virtual, enviado à
impressora, que traduziu as informações em camadas de plástico depositadas
sucessivamente até formar a parte da coluna que interessava ao médico.
"Aquele desastre de coluna é a minha", diz, aos risos, o gerente de
contabilidade Antonio Carlos Sousa dos Santos, 53, que foi submetido há quase
duas semanas a uma cirurgia minimamente invasiva para fixar uma parte de sua
coluna.
Teixeira usou a réplica da coluna do gerente para se certificar de como a
coluna do paciente estava se apoiando em uma das vértebras, que estava
deteriorada, e para simular a fixação dos parafusos que seriam usados.
Enxergando além
A vantagem, diz o médico, é especialmente para a cirurgia minimamente
invasiva, que usa só pequenos cortes na tentativa de reparar a coluna. Nesse
tipo de operação, o médico não enxerga a coluna inteira do paciente, só pequenos
pedaços. Exames de imagem ajudam nessa navegação, mas "é fácil se perder",
segundo Teixeira.
Segundo o neurocirurgião Manoel Jacobsen, professor da Faculdade de Medicina
da USP e chefe do grupo de dor do HC, hoje, o comum é simular as cirurgias em
modelos de coluna padronizados.
O uso dos exames de imagem durante a cirurgia e a navegação por uma espécie
de GPS que orienta o trabalho do médico também fazem parte dos procedimentos, em
especial os pouco invasivos.
Jacobsen afirma que já está sendo avaliada a compra de um equipamento de
impressão 3D para uso na faculdade. "Essa tecnologia tem uso pertinente na
educação de estudantes de graduação e de pós, além do treinamento dos cirurgiões
e fisiatras."
João Amadera, fisiatra do Spine Center do HCor (Hospital do Coração), afirma
que a função educativa dessas reproduções em 3D é válida, mas que a impressão
com base na tomografia pode não reproduzir com exatidão a situação vivida na
cirurgia. "O exame é feito de barriga para cima e a cirurgia, de barriga para
baixo. Isso muda a posição da coluna."
O neurologista Jefferson Gomes Fernandes, superintendente de educação em
ciências no hospital Oswaldo Cruz, diz que a instituição está incorporando essa
tecnologia. "Para planejar a abordagem cirúrgica, a impressão 3D é muito útil. E
o paciente vê o problema, pode levar aquilo para outro médico e ter uma segundo
opinião."
Avanços
Fernandes diz que além dessa aplicação mais simples da impressão, o hospital
planeja colaborar com pesquisas feitas pela Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) no campo da medicina regenerativa.
A ideia é estudar a impressão de estruturas como cartilagens e suportes para
o crescimento de células-tronco.
Nos EUA, avanços nesse sentido vêm se acumulando. Em maio deste ano, por
exemplo, médicos relataram o sucesso do implante de um brônquio impresso em 3D
com plástico absorvível em um bebê.
Silvio Duailibi, cirurgião-dentista, professor e pesquisador da Unifesp,
estuda a criação de tecidos substitutos a partir de material biológico que,
futuramente, poderá ser impresso em 3D.
No Brasil, diz ele, essa tecnologia está em fase embrionária, mas é
importante formar parcerias, como a que o laboratório onde ele trabalha está
iniciando com o hospital Oswaldo Cruz, para que haja investimento na tecnologia.
"Essa é uma área estratégica, que precisa de recursos públicos e privados."
Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário