Os medicamentos antiobesidade vêm sendo estigmatizados há muito tempo. Muitas pessoas são contra a utilização de tratamento medicamentoso ou mesmo cirúrgico para esta doença.
O tratamento clínico clássico da obesidade baseia-se em programas multidisciplinares de orientações dietéticas, incremento das atividades físicas e mudança comportamental. Apesar dessa estratégia terapêutica estar bem estabelecida como um método efetivo de tratamento para redução de peso, uma grande parte dos indivíduos é refratária a esta forma de abordagem e a recuperação de peso é uma regra (Serdula MK et al., 1993).
Além disso, esses procedimentos não têm sido capazes de impedir a crescente epidemia de obesidade que está fora de controle em muitos países, incluindo o Brasil. Infelizmente, o preconceito contra as medicações contra a doença continua grande. Essa barreira por parte de muitas pessoas deverá ser, contudo, gradualmente transposta pelo resultado de pesquisas clínicas realizadas neste campo.
A necessidade do auxílio de medicações para tratamento e controle da obesidade deriva da frequente falha do tratamento clássico aliado a um melhor entendimento dos aspectos biológicos dessa enfermidade, uma vez que se trata de uma doença crônica e multifatorial, de tratamento extremamente difícil. Esses dois fatores resultaram na tentativa de associação dessas duas propostas com o objetivo de proporcionar maior eficácia à terapia.
No entanto, em 2011, o arsenal terapêutico disponível para o tratamento da obesidade ficou bastante limitado no Brasil após a retirada de três medicamentos: a anfepramona, o fenproporex e o mazindol. Apenas a sibutramina foi mantida e, ainda assim, com controle mais rigoroso, o que restringiu muito o tratamento dessa doença, inclusive para os obesos diabéticos, bem como aos que não respondem ou não toleram esse remédio. Isso deixou os endocrinologistas muito apreensivos não apenas com o possível aumento da prevalência de pessoas obesas (incluindo os mórbidos), mas também com o ganho de peso dos indivíduos que se beneficiavam com os medicamentos retirados.
Novos medicamentos
No entanto, notícias muito animadoras acabam de ser divulgadas. O FDA (Food and Drugs Administration), órgão que regulamenta a comercialização de medicamentos nos Estados Unidos, que há 13 anos não aprovava uma nova substância antiobesidade, acabou de autorizar a lançamento de dois novos medicamentos.
Um deles acabou de ser liberado (17/07/2012) pelo FDA e tem o nome comercial de Qsymia, do laboratório Vivus Inc. O produto é composto de duas substâncias: a fentermina e o topiramato. Os estudos mostraram que o Qsymia quando utilizado na dose máxima recomendada é capaz de promover, em média, uma redução sustentada de cerca de 9% do peso corporal. Além disso, observou-se redução de 5% do peso em torno de 70% dos pacientes tratados (Garvey et al., 2012). A expectativa é de que o Qsymia esteja disponível no mercado americano no quarto trimestre de 2012.
A fentermina, um dos compostos da combinação aprovada, é um agente que atua nas catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) e já está disponível no mercado americano há muitos anos. Seus efeitos colaterais são muito parecidos com os da anfepramona e do fenproporex, tais como: secura da boca, irritabilidade, ansiedade, insônia, tremor e intestino preso (Kang et al., 2012). Já o topiramato (o outro composto) é um fármaco anticonvulsivante que pode induzir efeitos colaterais como parestesias (sensação de formigamento), tontura, alteração do paladar, sonolência e redução de apetite (Kang et al., 2012). A combinação fentermina e topiramato é especialmente interessante, já que ela age de forma sinérgica intensificando o poder de diminuição de apetite, além de reduzir os efeitos adversos dos dois medicamentos.
Outra medicação antiobesidade, a locarserina (Belviq, do laboratório Arena Pharmaceuticals) foi aprovada pelo FDA para o tratamento de adultos obesos (IMC de 30 ou mais) ou com excesso de peso (Índice de Massa Corporal - IMC - de 27 ou mais), que tenham pelo menos mais uma complicação associada, como diabetes mellitus tipo II, pressão alta ou níveis altos de colesterol.
Diferentemente do Qsymia, o Belvic estimula o receptor de serotonina, ou seja, é um agente serotoninérgico, que atua no aumento da saciedade e, consequentemente, na redução da ingestão alimentar.
Os estudos mostraram boa segurança para o sistema cardiovascular e pulmonar (BLOOM-DM). Os efeitos colaterais mais comumente observados foram cefaleia, fadiga, tonturas, náusea e intestino preso. Esse medicamento mostrou-se capaz de promover redução de 3% no peso a mais do que no grupo placebo após um ano. Isso significa que sua eficácia é inferior à da sibutramina, do orlistate e do novo Qsymia (fentermina e topiramato).
Mesmo não sendo superior aos medicamentos disponíveis no mercado, certamente a locarserina poderá ser uma nova opção, principalmente para os pacientes que não toleram os demais fármacos, já que temos pouquíssimos medicamentos disponíveis para tratar a obesidade. Dessa forma, ambos os medicamentos aprovados poderão ser utilizados como auxiliares para os pacientes que não obtém sucesso por meio do tratamento clássico, já que se mostraram eficazes em promover a redução de peso e os benefícios da sua utilização foram considerados maiores que os riscos decorrentes da obesidade, a qual predispõe a inúmeros problemas de saúde e resulta em expressiva redução da qualidade de vida.
Certamente, a decisão de medicar um paciente obeso deverá levar em consideração cada indivíduo, em termos dos potenciais riscos e benefícios. Será fundamental que as pesquisas continuem em ritmo acelerado para o aprimoramento de novos medicamentos cada vez mais eficazes e seguros, com o objetivo de atenuar o sofrimento dos pacientes acometidos por dessa doença.
Por fim, a posição do FDA de aprovar esses medicamentos demonstra que esta agência reviu sua posição anterior, provavelmente, em face dos resultados de extensas pesquisas na área e da urgente necessidade de conter uma verdadeira epidemia de obesidade. Mas no Brasil, por enquanto, não há informações sobre a possibilidade da aprovação.
Fonte Minha Vida
Colecionar objetos não tem nada de errado. Até certo ponto. Uma pesquisa feita na Espanha indica que esse hábito pode ser indício de transtorno obsessivo-compulsivo.