|
Foto: reprodução |
Além de divertida, brincadeira desempenha importantes funções no aprendizado
Em ano de Copa do Mundo, é comum deparar com grandes grupos de crianças (e até de adultos e idosos) empenhados em trocar figurinhas e completar o álbum do torneio o mais rapidamente possível. Craques das mais consagradas seleções de futebol passam de mão em mão e terminam afixados nas páginas dos colecionadores. Mas não são apenas os cromos que se tornam intercambiáveis nesse processo.
— Cria-se um ambiente de negociação e barganha, um verdadeiro mercado de escambo sustentado por uma rede social bastante extensa e complexa. As pessoas envolvidas e, principalmente os pequenos, são estimulados a constituir valores simbólicos aos objetos permutados e a serem desinibidos para estabelecer o maior número de contatos que conseguirem — explica Tânia Fortuna, pedagoga e professora da UFRGS.
De acordo com a especialista, o colecionismo pode ser considerado um resquício do ato de brincar já que, à medida que crescemos, a prática acaba se tornando uma espécie de brincadeira para os adultos.
— Quando colecionamos objetos, fazemos com que o brincar persista, mas de outra maneira. Ao amadurecermos, a ênfase que damos àquelas peças recai sobre a questão da posse, e não mais somente sobre a diversão — esclarece a pedagoga.
Outro aspecto marcante é o fato de que a atividade também desempenha a função de trampolim para assuntos relacionados às coleções, estimulando a busca e a descoberta por outros temas que derivam do interesse inicial dos pequenos. No caso do álbum da Copa, você pode aproveitar o interesse das crianças e incentivá-las a pesquisar, por exemplo, onde fica a Croácia ou como vivem os iranianos.
Na contramão do imediatismo
Não se sabe ao certo quando o hábito de colecionar começou. Desde que a atividade deixou de ser restrita a reis e a aristocratas, há cinco séculos, ficou difícil dizer o que ainda não virou objeto de coleção. De cartões-postais, selos e moedas, até excentricidades como embalagens usadas, mechas de cabelo e sabonetes de hotel, tudo é válido para os seguidores da tradição. Classificada como hobby ou mesmo como uma profissão digna de grandes investimentos, a prática se mantém com o passar das gerações.
— Hoje ela acaba se destacando porque, no nosso mundo imediatista, a sociedade não investe em conquistas e aquisições a longo prazo. Os colecionadores, por outro lado, impõem metas muito definidas e se empenham durante muito tempo para cumprir os objetivos. É um exercício de persistência — defende Sônia Sebenelo, psicóloga clínica e presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul (SPRGS).
Além disso, vale lembrar que, atualmente, a maioria das nossas ações são planejadas e desempenhadas com uma preocupação utilitária, para que alcancem sempre um nível máximo de produtividade. Por isso, o prazer de colecionar visando à satisfação dos próprios desejos é tão valorizado.
Armários lotados de coleções
O quarto de Lorenzo Fontoura Brasil Barcellos, nove anos, tem quatro prateleiras totalmente preenchidas com pequenos bonecos da famosa saga Star Wars, incontáveis ao primeiro olhar.
— Conheço bem todas as peças que tenho e sei o lugar de cada uma. E sei também quando alguém troca elas de lugar ou se some alguma — garante ele, orgulhoso da coleção.
O irmão Henrique, de sete anos, segue os passos de Lorenzo, talvez até com mais gosto e afinco, conta Gabriela Fontoura Brasil, a mãe da dupla. Ambos começaram a juntar seus objetos preferidos aos quatro anos e, desde então, os acervos só têm aumentado:
— Fomos reunindo as peças aos poucos, algumas compramos pela internet e outras trocamos com colecionadores. O Henrique já fez coleção de cofres e carrinhos, e agora estava empenhado em completar o álbum da Copa. Ele mobilizou toda a família.
Segundo Gabriela, é notável o elevado nível de organização e obstinação das crianças depois que elas passaram a cultivar o hábito de colecionar.
— Eles são totalmente focados nas metas que propõem para si mesmos, não desistem até alcançar o que querem, até conseguir uma peça específica ou ter uma coleção que julguem suficientemente boa em termos de quantidade e qualidade — conta Gabriela.
Por que é bom colecionar?
— Aproxima e mobiliza a família
— Cria noções de responsabilidade, disciplina e persistência
— Estimula a interação, a sociabilidade e a desinibição
— Aumenta o senso de organização
— Incentiva a negociação e a flexibilidade
— Potencializa a cognição
— Desperta interesse e curiosidade para assuntos correlatos
— Exercita a paciência, a criatividade e a imaginação
— Combate o estresse e a ansiedade
— É uma ótima opção para os períodos de ociosidade
— Faz com que os pequenos valorizem os bens que possuem
— Torna as pessoas mais centradas e decididas, com objetivos e metas bem definidas
Zero Hora