Colo de mãe é maravilhoso, e isso é indiscutível. No entanto, além de deixar os filhotes dengosos, esse carinho materno ainda controla a ansiedade e, consequentemente, o peso dos filhos.
A conclusão é de Carola Eva, especialista do Instituto de Neurociência Ottolenghi Cavalieri, da Universidade de Turim, na Itália. Em estudo realizado com camundongos geneticamente modificados, publicado este mês na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), os filhos que foram assistidos pela mamãe rato tinham menos sinais de ansiedade e peso normal.
A italiana trabalhou com ratinhos geneticamente modificados para que seus cérebros não produzissem o neuropeptídeo Y, um neurotransmissor que regula o comportamento metabólico, emocional e energético nos mamíferos, incluindo o homem. Depois, a equipe de Carola comparou os efeitos dessa intervenção genética em duas situações diferentes: quando os animais recebiam desde cedo o carinho da mãe e quando não tinham esse tipo de atenção.
Os cientistas perceberam, então, que, quando não havia cuidado da mãe, os efeitos da alteração genética eram praticamente nulos. Tanto os ratos normais quanto os modificados apresentavam comportamento ansioso e baixo peso. Porém, quando os filhotes recebiam atenção da mãe, a diferença entre os normais e os geneticamente modificados era enorme. Os primeiros permaneciam saudáveis, enquanto os últimos continuavam apresentando os problemas.
A conclusão da pesquisadora foi, portanto, que a produção do neurotransmissor no cérebro depende do carinho da mãe, afinal, mesmo os ratinhos normais que não receberam cuidados apresentaram os sintomas de ansiedade e perda de peso. “A atenção materna altera permanentemente o comportamento ansioso e o peso corporal dos filhotes por meio da regulação do gene, ou seja, a produção do neurotransmissor no cérebro depende do carinho da mãe”, diz ao Correio Carola (leia entrevista).
Perda
Como em muitas pesquisas com animais, os resultados, apesar de terem sido obtidos em ratos, trazem dados que podem dizer muito sobre os seres humanos. A própria pesquisadora lembra que há estudos que apontam a influência da atenção materna na parte emocional das crianças. Nesse caso específico, porém, a falta de amor materno pode ter um resultado um pouco diferente em crianças: aumento de peso. Isso porque é comum que a ansiedade faça as pessoas descontarem o sentimento de estresse comendo.
De acordo com a psicóloga infantil Jaqueline Pessoa de Lima, do Espaço Clínico Psicoarte, a ansiedade é um indicativo de perda, ou seja, é sinal de que a criança está sentindo falta da mãe. Ela explica que o bebê pode então tentar suprir essa carência na alimentação. “Às vezes a mãe não percebe que está falhando em dar atenção ao filho, mas precisa ficar atenta, pois pode prevenir problemas emocionais futuros”, destaca. “Hoje em dia é muito comum as mães terceirizarem essa atenção ou até mesmo recompensarem os filhos com presentes, o que é um erro. A criança precisa de participação ativa, de carinho, e não de objetos”, completa.
Foi o que percebeu Luna Boechat, 28 anos, mãe de Pedro, 1 ano e 10 meses. Segundo ela, o garotinho começou a apresentar sintomas de ansiedade quando ela voltou a trabalhar, passando a ficar agitado e carente. A situação se tornou ainda mais delicada porque o pai, o geólogo Bruno Velasco, 33, precisa viajar com frequência. Segundo Luna, já houve muitas situações em que Pedro perguntou insistentemente pelo pai, chegando ao extremo de colocar uma cadeira do lado da porta para esperá-lo.
O comportamento do pequeno acendeu o sinal de alerta na mãe, que passou a conversar mais com o filho. Ela também passou a reservar todo o seu tempo livre para dar atenção ao menino, momentos em que procura demonstrar o quanto é querido. Os fins de semana, por exemplo, são sagrados, dias para serem vividos em família. “Se ele quer minha atenção é porque ele está precisando dela, então não posso negar”, diz Luna.
Equilíbrio
Muito carinho também é a fórmula encontrada pela família de Iago Brazil, 6 anos, para ajudá-lo a controlar a ansiedade. O menino mora com o pai, Igor, 31, desde que tinha 1 ano e meio e se mostra agitado e com dificuldade de se concentrar. Igor conta que sempre procura conversar com o filho para entendê-lo melhor e acalmá-lo. Ele acha que a ansiedade do garoto nada tem a ver com a ausência da mãe, mas sim com o fato de ele ter hiperatividade. Até porque o menino mantém contato constante com a mãe e outros familiares. “Ele também tem muito carinho da minha mãe, minha irmã e minha noiva”, conta o pai. “Ele recebe muito amor.”
O segredo parece estar no equilíbrio. A psicóloga Jaqueline Lima alerta também para o excesso de atenção, que também não faz bem. “Superproteger os filhos pode trazer danos ainda piores, pois a criança não se desenvolve e fica sempre dependente dos pais”, salienta. Segundo a especialista, muitas mães, em consulta, se preocupam com o fato de o filho brincar sozinho, por exemplo. “Mas isso quer dizer que a criança está em desenvolvimento”, observa. Para Jaqueline, é necessário que as mães prestem mais atenção aos filhos e ao próprio comportamento para, só então, dosar essa atenção e aplicá-la de forma efetiva.
Três perguntas para
Carola Eva, pesquisadora da Universidade de Turim
Qual foi o principal propósito de seu estudo?
Queríamos estudar a importância do receptor Y1R no sistema límbico e os efeitos dos cuidados maternos nas emoções e no crescimento.
Como a pesquisa foi realizada?
Para realizar o estudo, geramos ratos geneticamente modificados, dos quais foi retirado o gene Npyr1 no sistema límbico, uma região do cérebro que exerce funções cruciais no aspecto emocional e metabólico. Nós mostramos que a remoção desse gene causa ansiedade e diminuição do peso corpóreo nos animais. No entanto, o efeito dessa remoção só é nítida em comparação a ratos normais quando eles são criados por mães que demonstravam cuidado intenso. Quando as mães não são cuidadosas, os efeitos genéticos não são mais vistos, porque mesmo ratos normais podem ter seu peso e níveis de ansiedade alterados (quando não recebem carinho).
O seu estudo vale para as pessoas?
É difícil dizer. Mas existem estudos que mostraram como o cuidado materno ajuda a regular o modo como a pessoa lida com a ansiedade e sua capacidade de responder ao estresse.
Os cientistas perceberam, então, que, quando não havia cuidado da mãe, os efeitos da alteração genética eram praticamente nulos. Tanto os ratos normais quanto os modificados apresentavam comportamento ansioso e baixo peso. Porém, quando os filhotes recebiam atenção da mãe, a diferença entre os normais e os geneticamente modificados era enorme. Os primeiros permaneciam saudáveis, enquanto os últimos continuavam apresentando os problemas.
A conclusão da pesquisadora foi, portanto, que a produção do neurotransmissor no cérebro depende do carinho da mãe, afinal, mesmo os ratinhos normais que não receberam cuidados apresentaram os sintomas de ansiedade e perda de peso. “A atenção materna altera permanentemente o comportamento ansioso e o peso corporal dos filhotes por meio da regulação do gene, ou seja, a produção do neurotransmissor no cérebro depende do carinho da mãe”, diz ao Correio Carola (leia entrevista).
Perda
Como em muitas pesquisas com animais, os resultados, apesar de terem sido obtidos em ratos, trazem dados que podem dizer muito sobre os seres humanos. A própria pesquisadora lembra que há estudos que apontam a influência da atenção materna na parte emocional das crianças. Nesse caso específico, porém, a falta de amor materno pode ter um resultado um pouco diferente em crianças: aumento de peso. Isso porque é comum que a ansiedade faça as pessoas descontarem o sentimento de estresse comendo.
De acordo com a psicóloga infantil Jaqueline Pessoa de Lima, do Espaço Clínico Psicoarte, a ansiedade é um indicativo de perda, ou seja, é sinal de que a criança está sentindo falta da mãe. Ela explica que o bebê pode então tentar suprir essa carência na alimentação. “Às vezes a mãe não percebe que está falhando em dar atenção ao filho, mas precisa ficar atenta, pois pode prevenir problemas emocionais futuros”, destaca. “Hoje em dia é muito comum as mães terceirizarem essa atenção ou até mesmo recompensarem os filhos com presentes, o que é um erro. A criança precisa de participação ativa, de carinho, e não de objetos”, completa.
Foi o que percebeu Luna Boechat, 28 anos, mãe de Pedro, 1 ano e 10 meses. Segundo ela, o garotinho começou a apresentar sintomas de ansiedade quando ela voltou a trabalhar, passando a ficar agitado e carente. A situação se tornou ainda mais delicada porque o pai, o geólogo Bruno Velasco, 33, precisa viajar com frequência. Segundo Luna, já houve muitas situações em que Pedro perguntou insistentemente pelo pai, chegando ao extremo de colocar uma cadeira do lado da porta para esperá-lo.
O comportamento do pequeno acendeu o sinal de alerta na mãe, que passou a conversar mais com o filho. Ela também passou a reservar todo o seu tempo livre para dar atenção ao menino, momentos em que procura demonstrar o quanto é querido. Os fins de semana, por exemplo, são sagrados, dias para serem vividos em família. “Se ele quer minha atenção é porque ele está precisando dela, então não posso negar”, diz Luna.
Equilíbrio
Muito carinho também é a fórmula encontrada pela família de Iago Brazil, 6 anos, para ajudá-lo a controlar a ansiedade. O menino mora com o pai, Igor, 31, desde que tinha 1 ano e meio e se mostra agitado e com dificuldade de se concentrar. Igor conta que sempre procura conversar com o filho para entendê-lo melhor e acalmá-lo. Ele acha que a ansiedade do garoto nada tem a ver com a ausência da mãe, mas sim com o fato de ele ter hiperatividade. Até porque o menino mantém contato constante com a mãe e outros familiares. “Ele também tem muito carinho da minha mãe, minha irmã e minha noiva”, conta o pai. “Ele recebe muito amor.”
O segredo parece estar no equilíbrio. A psicóloga Jaqueline Lima alerta também para o excesso de atenção, que também não faz bem. “Superproteger os filhos pode trazer danos ainda piores, pois a criança não se desenvolve e fica sempre dependente dos pais”, salienta. Segundo a especialista, muitas mães, em consulta, se preocupam com o fato de o filho brincar sozinho, por exemplo. “Mas isso quer dizer que a criança está em desenvolvimento”, observa. Para Jaqueline, é necessário que as mães prestem mais atenção aos filhos e ao próprio comportamento para, só então, dosar essa atenção e aplicá-la de forma efetiva.
Três perguntas para
Carola Eva, pesquisadora da Universidade de Turim
Qual foi o principal propósito de seu estudo?
Queríamos estudar a importância do receptor Y1R no sistema límbico e os efeitos dos cuidados maternos nas emoções e no crescimento.
Como a pesquisa foi realizada?
Para realizar o estudo, geramos ratos geneticamente modificados, dos quais foi retirado o gene Npyr1 no sistema límbico, uma região do cérebro que exerce funções cruciais no aspecto emocional e metabólico. Nós mostramos que a remoção desse gene causa ansiedade e diminuição do peso corpóreo nos animais. No entanto, o efeito dessa remoção só é nítida em comparação a ratos normais quando eles são criados por mães que demonstravam cuidado intenso. Quando as mães não são cuidadosas, os efeitos genéticos não são mais vistos, porque mesmo ratos normais podem ter seu peso e níveis de ansiedade alterados (quando não recebem carinho).
O seu estudo vale para as pessoas?
É difícil dizer. Mas existem estudos que mostraram como o cuidado materno ajuda a regular o modo como a pessoa lida com a ansiedade e sua capacidade de responder ao estresse.