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segunda-feira, 28 de março de 2011

Práticas de farmacêuticas aumentam riscos de efeito adverso, diz cientista

Livro que reúne estudos publicados nos últimos 40 anos aponta que 85% dos medicamentos aprovados no período são pouco inovadores Karina Toledo - O Estado de S.Paulo
Usuários de medicamentos estão cada vez mais expostos ao risco de sofrer reações adversas graves por causa de problemas existentes no sistema de pesquisa, aprovação e divulgação de novas drogas. Para piorar, mais de 85% dos remédios lançados pela indústria nos últimos 40 anos oferecem pouca ou nenhuma vantagem terapêutica - quando comparados aos já existentes - que faça esse risco valer a pena. As conclusões estão no livro The Risks of Prescription Drugs (Os Riscos dos Medicamentos, em tradução livre), lançado recentemente nos Estados Unidos. Na obra, o cientista social Donald Light reúne pesquisas que mostram, por exemplo, que as notificações de reações adversas crescem 15% por ano nos EUA, além de o problema ter se tornado a quarta causa de morte no país. O autor elenca uma série de práticas dos laboratórios - batizadas de "síndrome da proliferação do risco" - que aumenta a probabilidade de os usuários sofrerem reações adversas. A primeira delas é o fato de a maioria dos testes feitos para avaliar a eficácia e a segurança de novas drogas ser conduzida pela própria indústria, de forma a maximizar os benefícios e minimizar evidências de efeitos colaterais. "Há vários estudos que mostram as técnicas usadas para minimizar a documentação de efeitos adversos", diz Light. Uma delas, segundo ele, é encurtar os ensaios clínicos e excluir idosos, mulheres e outros voluntários com maior probabilidade de apresentar problemas. "Quando as agências reguladoras aprovam uma droga é porque a consideram segura. Mas a verdade é que elas não têm evidências suficientes para saber isso." Crítica. O sanitarista José Rubens Bonfim, da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (Sobravime), concorda. A forma como os estudos clínicos são concebidos, diz ele, não permite avaliar direito a segurança. "Os melhores ensaios são feitos com cerca de 3 mil pacientes. É pouco." Bonfim conta que os testes do rimonabanto (remédio para obesidade da Sanofi-Aventis, cujo nome comercial era Acomplia) foram feitos com 5 mil voluntários e ainda assim não detectaram o principal efeito adverso, a propensão ao suicídio, que fez a droga ser retirada do mercado. Segundo dados do livro, cerca de um em cada cinco novos medicamentos causa efeitos colaterais graves o suficiente para necessitar a inclusão de um alerta na bula ou ser retirado do mercado na primeira década de uso. Exemplos recentes não faltam, como o remédio contra acne da Roche, Accutane (isotretinoína), relacionado a doenças inflamatórias intestinais. E o anti-inflamatório Prexige, da Novartis, proibido no Brasil depois de causar diversos casos de hepatite, hemorragia, arritmia e enfartes. "Todo mundo deseja evitar o dano. A empresa perde credibilidade e dinheiro quando tem problema com produto. Mas, às vezes, só com o grande consumo os problemas são descobertos", diz Nelson Mussolini, do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Sindusfarma). Procurada pela reportagem, a Pharmaceutical Research and Manufacturers of America (PhRMA, que representa os principais laboratórios americanos) não respondeu. As campanhas massivas de marketing feitas logo após uma droga ser aprovada são outro problema citado por Light. Práticas como deixar amostras grátis nos consultórios médicos, diz ele, encorajam o tratamento com um produto sobre o qual não se tem certeza da segurança. "Ao longo do primeiro ano, o medicamento deveria ser usado com cuidado, em população monitorada", sugere. Além disso, diz, as empresas patrocinam estudos em que médicos apresentam evidências de que a droga também pode ser usada para tratar condições diferentes daquela para a qual foi aprovada - o uso off label. "Nesse caso, a chance de benefício é ainda menor, mas o risco de efeito adverso, não", diz o autor. "Medicalização". Para completar a síndrome, Light aponta a influência da indústria na produção científica que redefiniu os critérios de saúde e transformou condições naturais - como menopausa, ansiedade e tristeza - em doenças. "As pessoas estão tomando mais medicamentos por períodos mais longos. Isso eleva o risco de efeito adverso e de interação medicamentosa." Os critérios usados para definir o que é diabete, hipertensão e obesidade foram afetados pela indústria farmacêutica, afirma a pesquisadora da Universidade Georgetown Adriane Fugh-Berman, especialista no tema. O que era considerado pressão arterial normal há 20 anos, exemplifica, hoje é visto como pré-hipertensão. Pessoas com índice de massa corporal (IMC) 30, que antes não eram consideradas obesas, hoje são obesos moderados. Isso aumenta o número de pessoas que precisam de tratamento. "A indústria está pagando médicos para dizerem que é preciso tratar as pessoas mais cedo. Estão usando os médicos como marionetes para levar sua mensagem de marketing", diz Adriane. http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110327/not_imp697819,0.php

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