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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sexo cada vez mais cedo e sem responsabilidade


Se há algumas décadas falar de sexo era tabu, hoje, porém, o assunto é necessário para entender mudanças do ponto de vista moral e social, principalmente na fase das descobertas: a adolescência.

Apesar de as diferenças entre meninos e meninas diante do assunto persistirem, abordar a sexualidade na adolescência é quesito básico para entender as influências que levam ao início da vida sexual cada vez mais cedo. Segundo dados do Ministério da Saúde, na média, os adolescentes brasileiros começam a fazer sexo com 14,5 anos de idade e as adolescentes com 15 anos.

"O mercado e os meios de comunicação aproveitam o adolescente como um consumidor em potencial, e o sexo faz parte do consumo, assim como sucesso e beleza, por exemplo", explica a psicóloga Shirley Rialto, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Ela revela que o adiantamento dessa fase é possibilitado pela ausência da repressão vivida pelas gerações anteriores. "O interesse pelo sexo nessa idade sempre existiu. A diferença é que hoje não é mais reprimido, existe espaço social para isso", revela. Além disso, segundo a psicóloga, os valores culturais encaminham para a iniciação sexual precoce. "Se não começam a vida sexual cedo, ficam fora do contexto social", complementa.

Eles x elas
O que se conserva, porém, são as diferenças do início da prática sexual entre meninos e meninas. Os fundamentos para a "primeira vez" têm origem histórica. O assunto embasou a pesquisa de mestrado da psicóloga. Ela enfatiza que os meninos sempre foram convocados a ter iniciação sexual cedo, dando notícias aos amigos sobre a perda da virgindade e, de preferência, sobre quantas mulheres conseguiam "levar para a cama". "Para eles, isso é prova de masculinidade", justifica. "A única diferença entre hoje e há 50 anos é que eles geralmente mantinham relações sexuais com prostitutas e 'empregadinhas', já que não tinham a figura do pai e dos irmãos na cidade para proteger sua reputação", explica. Havia, portanto, as meninas separadas para o casamento e aquelas somente para o sexo.

O sexo feminino, no entanto, conserva uma atitude paradoxalmente machista. Apesar das defesas em prol da liberdade e independência para as mulheres, elas, como constatou Shirley em sua pesquisa, conservam uma certa "dor-de-cotovelo" em relação aos homens, proveniente de muito tempo. "Há 50 anos, elas os invejavam porque eles podiam e elas não. Hoje, elas podem, mas têm posição masculinizada do sexo, como se fizessem também coleção de quantos homens beijaram ou fizeram sexo", conta. "Mas isso não é natural das mulheres. Perde-se a noção de cooperação entre os sexos, dando espaço para a competição."

Os tempos mudaram, mas a segregação ainda acontece em alguns casos. De acordo com a psicóloga, hoje os homens procuram para o casamento não mais necessariamente mulheres virgens, mas que de alguma forma tenham se "guardado", tendo poucos parceiros e intimidade preservada. "Iniciação sexual precoce não tem necessariamente relação com promiscuidade. O problema de começar a fazer sexo cedo é a responsabilidade. Eles são convocados a ter experiência sexual, mas ainda não têm experiência de vida para isso, não podendo responder por seu lugar no mundo como homem ou mulher", acredita a psicóloga.

Influência familiar
Para o hebiatra - médico de adolescentes - Walter Marcondes Filho, fatores familiares têm contribuído para as relações sexuais mais precoces. "Deixando de lado o moralismo religioso, o abandono dos pais na orientação dos filhos, por trabalho ou omissão, e a conseqüente ausência das figuras parentais e dos modelos familiares têm sido fundamentais para isso", acredita. O médico preside a Associação Brasileira de Adolescentes (Asbra), sediada em Londrina, que desenvolve trabalhos de estudos e divulgação de informações sobre questões da adolescência, promovendo congressos e palestras dentro e fora do Brasil.

Marcondes Filho constata em seus trabalhos que o adiantamento das fases seguintes à infância é também decisivo nesse sentido. "A penetração nociva e maciça da mídia televisiva coloca como normal o relacionamento precoce, a sensualidade em crianças, sedução com consumismo exagerado de produtos adultos em crianças. Cada vez mais vemos crianças adultizadas, encolhendo a infância e tornando precoce demais a adolescência." De acordo com o médico, "seria fácil desligar o aparelho, porém os pais não estão mais em casa, precisam trabalhar e têm receio da violência das ruas". A exposição desperta, como conseqüência, curiosidade acima do normal e antes do tempo pelo sexo. (LM)

Sem afeto e sem prazer, experiência traumática
Afinal, o sexo é vivido da mesma forma entre adultos e adolescentes? Para o hebiatra Walter Marcondes Filho, não. Isso porque os mais jovens nem sempre carregam na atividade sexual noções de responsabilidade e respeito ao parceiro. "Além disso, se feito também sem afeto e amor, traz conseqüências devastadoras para alguns jovens, que não sentem o prazer de um orgasmo maduro", explica o médico.

Ele afirma que muitas jovens, principalmente, dizem ter relações precoces por influência de amigos e por curiosidade, mas que sentem dor e desprazer pela inexperiência do parceiro, que quase nunca as respeita. "As meninas são as maiores vítimas deste destempero e despreparo. A curiosidade é um fator universal e imponderável, que ocorre através dos anos, porém, hoje, ter relação com 14 anos é uma premissa de coragem e permissão para se freqüentar grupos de amigos", conta Marcondes Filho.

O médico acrescenta que, emocionalmente, "as relações sexuais não acrescem em nada na vida cotidiana desses adolescentes, e muitas vezes são decepcionantes. Poucos jovens falam com prazer das primeiras relações sexuais". Além disso, os meninos, que quase sempre dão início à vida sexual mais cedo, geralmente não possuem conhecimento real de uma paternidade responsável. "Eles têm mais liberdade para desde cedo pensar em sexo como maneira de desafogar seus desejos, sem se preocupar com as parceiras. São conceitos que devem ser repensados pela sociedade e pelos pais", esclarece.

Questão levantada pela psicóloga Shirley Rialto é também a freqüente confusão estabelecida pelos adolescentes entre amor e sexo. "Quando se apaixonam e se fecham, podem criar uma reprodução do amor maduro - pai, mãe, bebê - logo no primeiro relacionamento. Surge um ciúme doentio", afirma. Nesses casos, de acordo com a psicóloga, apenas o fato de haver um só parceiro não garante relacionamentos saudáveis. "É preciso ter maturidade para responder pelas conseqüências físicas e emocionais que o sexo envolve." (LM)

Prefeitura promove educação sexual
O programa Adolescente Saudável é uma das iniciativas da Prefeitura de Curitiba para informar, desde cedo, sobre as conseqüências e responsabilidades envolvidas no sexo. O programa trata também de assuntos como saúde e drogas, mas possui uma vertente específica sobre educação sexual, inclusive com fornecimento de preservativos.

No programa, adolescentes e jovens de 10 a 20 anos são orientados sobre os aspectos físicos e afetivos do sexo. Este público é alcançado nas escolas pelos profissionais das unidades de saúde municipais, treinados para acolher o adolescente e promover atividades educativas, como oficinas e gincanas.
A médica Júlia Cordellini, que coordena o programa, lembra que recentemente foi lançado o ônibus "Adolescente Saudável", instrumento que considera importante na disseminação de informações para este público. "Nele fazemos jogos educativos que trabalham assuntos como puberdade, sexualidade, gravidez na adolescência, paternidade responsável, DSTs, anticoncepção e família", descreve. "Este ano pretendemos alcançar cerca de 20 mil adolescentes."

Com uma equipe multiprofissional, a Unidade de Saúde Bairro Novo é uma das 18 unidades capacitadas a atender grupos de adolescentes. Para eles, falar de sexo não é nenhum tabu. "A gente pergunta se dói, como é. Não tenho vergonha das palestras, não é nada rígido", conta uma das adolescentes, de 14 anos. Todos revelam receber orientação não apenas sobre gravidez e DSTs, mas também do envolvimento emocional do sexo. "Acho que deve ser bom, mas espero o momento apropriado, quando estiver um pouco mais velha e com a pessoa certa. Mesmo assim, acho que não quero casar virgem", diz outra adolescente, de 12 anos.

Os meninos também participam. Um deles, de 15 anos, confirma que a pressão dos amigos acontece, mas acredita que vale mais a orientação adequada e formação de opiniões próprias. "Acho que agora tenho consciência das responsabilidades. Não vale a pena ter a primeira vez com uma pessoa se não gostar ou não quiser ficar com ela", opina. (LM)

Adolescentes representam 21% das grávidas paranaenses
Uma das principais conseqüências vividas por jovens que praticam sexo é a gravidez precoce. O médico Fernando César de Oliveira Júnior, que coordena um ambulatório voltado para adolescentes grávidas no Hospital Vítor do Amaral, em Curitiba, vem desenvolvendo pesquisas especificamente sobre o tema e acredita que a escolaridade é um fator decisivo nesse ponto. "A Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS) de 1996 revelou que, das adolescentes que tinham até três anos de estudo, 34% já tinham estado grávidas; entre as que tinham mais de onze anos de estudos, apenas 6%", cita. "Os anos de estudo também fazem diferença na proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)."

Em suas pesquisas, Oliveira Júnior constatou que a maior parte dessas jovens pertence a classes sociais baixas e, além de terem menor controle com métodos de prevenção, recebem exemplo de mães e irmãs que engravidaram antes do tempo desejado. "Entre as conseqüências disso estão abortos e abandono da escola", aponta. Ele comparou um grupo de adolescentes com idade entre 13 e 19 anos e um de adultas entre 20 e 29 anos, ambos de classe baixa, atendidos no Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba. "As adolescentes tinham mais dependência econômica da família, renda mais baixa e só 25% trabalhavam. Metade delas não estudava antes de engravidar. A outra metade deixou a escola depois que descobriu a gravidez."

De acordo com o ginecologista, atualmente 21% de todas as grávidas do Paraná são adolescentes, enquanto a média nacional está em 25%. "Em Curitiba, as taxas têm caído, graças às políticas públicas. No ano passado registramos média de 16%; há dois anos, eram 18%."

Interior
Segundo o hebiatra Walter Marcondes Filho, de Londrina, os números no interior do Estado são altos. "Nos primeiros cinco meses de 2005, o Centro de Referência de Atenção ao Adolescente de Londrina (CRAAL) apresentou um número de 50 jovens grávidas, acompanhadas nos serviços, com uma média de 14 anos e meio." O médico lembra que, em 2000, foram registradas 127.740 internações por aborto no SUS, 59% delas com mulheres entre 20 e 24 anos , 39% entre jovens de 15 a 19 anos e 2,5% entre adolescentes na faixa de 10 a 14 anos. (LM)

Fonte parana-online.br

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