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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dois em cada três formandos de medicina não sabem tratar dor de garganta


médico provaEstudantes de São Paulo tiveram dificuldades para responder questões simples

Alunos que estão terminando o sexto e último ano do curso de medicina no Estado de São Paulo têm dificuldades para detectar e indicar tratamentos para doenças simples, como uma infecção de garganta. O diagnóstico é de um exame aplicado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) em outubro deste ano e que teve os resultados divulgados nesta quarta-feira (9).

Uma das questões com maior índice de erro testava a capacidade do aluno de decidir qual medicamento não era a melhor indicação para um paciente com infecção de garganta que fosse fazer o tratamento em casa. 66% dos 418 alunos que fizeram a prova responderam a pergunta errado.

Reinaldo Ayer, conselheiro do Cremesp e responsável pelo exame, disse ao R7 que a situação descrita na questão é “muito frequente” e requer “noções básicas de saúde”.

– Com o diagnóstico e o tratamento corretos, você aliviaria os hospitais, porque não precisaria internar o paciente.

Outra questão com alto índice de erros foi a que cobrava que os estudantes soubessem diagnosticar sepse (infecção generalizada) e meningite em um recém-nascido, algo que, de acordo com Ayer, exige um “raciocínio mais ou menos tranquilo”. 62% dos alunos erraram.

O índice de reprovações no exame foi alto. Apenas 54% dos alunos que fizeram o teste tiveram nota maior que 6, valor considerado de corte. No ano passado, o índice de aprovação foi de 57%, o melhor desde que a prova deixou o estágio experimental, em 2007. Em média, 2.500 médicos se formam por ano no Estado.

Nota baixa todo ano O índice de aprovações tem se mantido baixo nos últimos anos: se forem levados em conta os exames aplicados entre 2005 e 2011, realizados por 3.135 candidatos ao todo, a reprovação chega a 58,4%.

Nos últimos cinco anos, o índice de aprovação foi sempre menor que 60%, resultado que, de acordo com o conselho, “mantém uma tendência consistente e é considerado insatisfatório e preocupante”.

O teste, aplicado em outubro deste ano, foi realizado por 25 dos 30 cursos de medicina do Estado. Duas das escolas ainda não têm classes se formando e alunos de três faculdades - Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto, Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) e FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) - não tiveram qualquer representante.

Esses 418 estudantes representam 16% dos estudantes que cursam o sexto ano de medicina em São Paulo.

Deficiências de ensino O conselheiro diz que, em parte, esses resultados ruins são um reflexo do aumento no número de faculdades de medicina no Estado de São Paulo – ele considera 30 cursos um número “incontrolável”.

Nem todas as instituições conseguem manter um padrão de ensino, com professores capacitados e estrutura de laboratórios e hospitais que permitam que os alunos aprendam. Para ele, o exame revela que “nós temos estudantes que saem da faculdade com formação inadequada”.

– Hoje nós temos um número incontrolável de escolas, sem ambientes de ensino e hospitais universitários adequados, e professores que não têm formação para serem professores.

No geral, os alunos de universidades públicas tiveram resultados melhores que os estudantes das instituições privadas. 76% dos futuros médicos que estudam em escolas públicas foram aprovados, enquanto entre as particulares a taxa foi de 42,5%. Mas é preciso analisar esses dados com cuidado porque o comparecimento de alunos formados em escolas públicas foi menor e, de acordo com o conselho, “o resultado não é homogênio”.

– Há escolas privadas com bom desempenho e públicas com resultados menos satisfatórios.

O conselho defende que o exame seja obrigatório para quem se forma em medicina, assim como acontece com a prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), necessária para formandos em direito que queiram exercer a advocacia. Mas isso depende de uma mobilização nacional.

Em nota, o presidente do Cremesp, Renato Azevedo Junior, diz que o órgão está “convencido de que uma medida excepcional precisa ser tomada, em respeito à população que confia a saúde e a vida aos médicos”.

Fonte R7

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