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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Novos centros oncológicos apostam na humanização do atendimento

Investimentos das intuições de saúde brasileiras na oncologia geram espaços que apostam em ambientes mais acolhedores, que buscam a humanização para reduzir o sofrimento dos pacientes
 
Humanização e oncologia são termos que caminham juntos quando se trata dos edifícios desta especialidade lançados nos últimos anos. Os investimentos cada vez maiores em prédios e alas altamente adaptados chamam a atenção não só pelo aspecto da assistência, mas também pelo diferencial competitivo. Afinal, a expectativa de vida e a incidência da doença na população brasileira crescem na mesma medida que a disposição dos pacientes em gastar o necessário para obter a cura.

Não há dados consolidados sobre os investimentos em centros e institutos oncológicos por parte do setor de saúde, mas a análise dos mais recentes permite verificar o fortalecimento de uma tendência.
 
A Beneficência Portuguesa de São Paulo, por exemplo, aumentou substancialmente os aportes em oncologia nos últimos dois anos, quando trouxe para o corpo clínico os médicos Antonio Buzaid e Fernando Maluf (mais uma equipe de 15 especialistas), oriundos do Hospital Sírio-Libanês. Em junho último foi a vez de lançar o Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, estrutura dividida entre os hospitais São José e São Joaquim, e que consumiu cerca de R$ 12 milhões. Quando for inaugurado um terceiro prédio do centro (ainda sem previsão de data), exclusivo para atendimento oncológico, os investimentos devem alcançar R$ 160 milhões.
 
O superintendente de infraestrutura da Beneficência, Luiz Celso Camargo, explica que o centro representa o alinhamento da administração e dos recursos aplicados pela instituição em oncologia. Para isso, algumas áreas do Hospital São José e do bloco 5 do Hospital São Joaquim tiveram que ser completamente reformados. “Os consultórios para o atendimento são bastante amplos, assim como os quartos e boxes individuais para quimioterapia, com espaço para os acompanhantes e privacidade para os pacientes”, explica o executivo.
 
Pensados para atender públicos de alto poder aquisitivo, os espaços do Centro Oncológico buscam tornar mais agradável a permanência do paciente. Receberam particular atenção, a decoração e a iluminação dos ambientes. Além disso, os quartos foram adaptados para que a quimioterapia possa ser feita em pacientes deitados, e os boxes tradicionais são a prova de som, garantindo tranquilidade.
 
Outro ponto importante, na opinião de Camargo, é a centralização do diagnóstico e do tratamento do paciente com câncer em um mesmo espaço físico: os dois hospitais contam com estruturas semelhantes, com equipamentos para consultas e terapia, dispensando deslocamentos desnecessários e permanecendo sob cuidado da mesma equipe multidisciplinar. “Humanização não é só espaço físico, a parte humana também é fundamental”, pondera.
 
A Beneficência estima um incremento de 20% a 30% no número de pacientes oncológicos atendidos a partir do estabelecimento do centro.
 
Privacidade
Outro prédio pensado em detalhes para humanizar o atendimento em oncologia é o da Unidade Perdizes Higienópolis do Hospital Israelita Albert Einstein. O acesso ao Centro de Oncologia é facilitado por rampas e elevadores, e o trânsito interno desobriga o paciente à passar pelas salas de espera, garantindo a privacidade de quem não queira ser visto.
 
Inaugurado em 2010, o espaço possui boxes individuais, isolados e privativos, mas pensados para serem confortáveis, “praticamente um quarto hospitalar”, explica o médico responsável pela área oncológica da unidade, Rafael Kaliks Guendelmann. A própria localização do prédio, afastada do hospital central no Morumbi, é apontada como outra vantagem.
 
“É um bairro mais distante para trazer um ambiente mais tranquilo”, explica o médico do Einstein, que também aposta na multidisciplinaridade da equipe de apoio. “A estrutura conta com uma equipe de atendimento psicológico e dental, entre outras especialidades. A proximidade com a equipe de exames evita que o paciente se desloque para outras áreas.”
 
Para aumentar a capacidade de acolhimento destes pacientes, a unidade adotou o modelo Planetree, filosofia que coloca o paciente no centro do processo assistencial. Assim, estão à disposição serviços de nutrição, entretenimento, terapias de integração e até espiritualidade. Objetivo: minimizar os impactos dos agressivos tratamentos oncológicos.
 
Alicerce
Inaugurado no fim de junho na capital paulista, o Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula (HSP) custou cerca de R$ 26 milhões. Localizado bem ao lado do prédio hospitalar da instituição na zona sul da capital paulista, a gestão técnica da estrutura está a cargo do Sírio-Libanês, liderada pelo renomado Paulo Hoff. A capacidade de atendimento ambulatorial é de cerca de 800 pacientes por mês, meta que o hospital espera alcançar em cerca de um ano.
 
Com a qualidade da assistência assegurada pela parceria, a atenção se volta para a infraestrutura do prédio, construído desde a base considerando os princípios de humanização. Os consultórios, por exemplo, são maiores que os tradicionais com o objetivo de abrigar não só o paciente, mas “toda a família, que fica doente junto”, conforme explica o diretor clínico do Santa Paula, Otávio Gebara.
 
São cinco andares que somam 4 mil m²: os dois primeiros possuem consultórios médicos e os dois últimos boxes individuais – as grandes janelas permitem que o paciente em tratamento olhe para a cidade de São Paulo durante as horas que obrigatoriamente ali ficará. Abaixo do nível da rua, no quarto subsolo, está o acelerador linear para radioterapia. Embora protegido por paredes e portas imensas, mesmo este pavimento busca agradar o paciente: as paredes espessas e portas pesadas são decoradas com quadros e papeis de parede claros.
 
No terceiro andar está o centro de convivência do instituto, que abriga uma biblioteca, um cybercafé, uma sala de nutrição e de estética (com assessoria de maquiagem e perucas) e o auditório, para conferências e palestras educativas entre médicos e pacientes. Há também um sino dourado na parede central do centro, tocado todas as vezes em que um paciente recebe um diagnóstico de cura.
 
“Todo o Instituto de Oncologia foi concebido através de um longa pesquisa no exterior e com pacientes do próprio Santa Paula”, explica a diretora da Duarte Schahin Arquitetura, Célia Schahin, responsável pelo projeto do prédio. “Os aspectos de humanização foram fundamentais: conforto térmico, acústico, diferentes iluminações nos boxes para cada ocasião… Tudo para que o processo de cura seja menos sofrido.”
 
Segundo o diretor presidente do Hospital Santa Paula, George Schain, a nova unidade do Santa Paula faz parte da estratégia de ampliar o atendimento a pacientes com câncer. Espera-se que o investimento aumente o faturamento global da instituição entre 25% e 30%, e que a oncologia responda com 50% de todas as receitas, algo entre R$ 12 e R$ 14 milhões por ano. “Nossas prioridades são três: oncologia, oncologia e oncologia”, reitera o executivo.
 
Eficiência
Para Luiz Gonzaga Leite, responsável pelo corpo de psicólogos do Hospital Santa Paula que atende no Instituto de Oncologia, o espaço pensado de forma humanizada tem a capacidade de alterar o estado de consciência dos pacientes, influindo sobre o sistema imunológico. “O ambiente tem o poder de facilitar a relação psíquica, promover a integração e o crescimento da pessoa, assim como pode adoecê-la”, explica.
 
O trabalho de humanização na área oncológica busca minimizar o sofrimento causado desde o diagnóstico da doença, explica Leite, que coloca o paciente em contato próximo com o medo da morte. “A arquitetura hospitalar pode ser considerada um elemento chave para a construção de um ambiente de cura. Esta qualidade do espaço físico tem uma influência real no processo de recuperação.”
 
Mas João Carlos Bross, sócio da Bross Consultoria e Arquitetura, especializada em edifícios para a área de saúde, diz que a humanização não depende só do ambiente, mas também da visibilidade dada ao indivíduo que o frequenta. Para isso devem ser considerados elementos como o comportamento, a mecânica do processo assistencial, os serviços de suporte ao funcionamento do hospital e, mais importante, o tratamento dos profissionais que ali atuam, “a principal humanização”, defende o arquiteto.
 
Setor público
Localizada em Salvador (BA), as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), entidade filantrópica que administra um dos maiores complexos hospitalares operando integralmente no SUS, teve que esperar mais de 10 anos para receber do governo do estado um terreno localizado ao lado do Hospital Santo Antônio, pertencente ao complexo. O espaço abrigará a Unidade de Radioterapia e Quimioterapia (URQ), que deve ampliar o número de pacientes em tratamento contra o câncer atendidos dos atuais 500 por mês para mais de 2 mil – inclusive em radioterapia, tratamento até então não oferecido pela OSID.
 
A superintendente da entidade, Lucrécia Savernini, diz que o projeto do novo Centro Oncológico – já aprovado pelo Ministério da Saúde – busca desafogar uma estrutura que está no limite da capacidade de atendimento, mas que o tema da humanização não foi desconsiderado. A sala de espera, por exemplo, será muito maior que a atual que está em funcionamento no Hospital Santo Antônio.
 
Também crescerão o número de consultórios (de quatro para dez), de poltronas para infusão (serão 30 novas) e, principalmente, o espaço físico (1600 m²).
 
“É uma quebra de paradigma”, explica Arturo Braga, líder do Núcleo de Projetos e Obras da OSID, departamento responsável pelo projeto do novo prédio. “A possibilidade do acompanhante estar sempre junto do doente é algo que geralmente não acontece no hospital público.”
 
Apesar das diferenças óbvias, a intensidade das preocupação estruturais não são tão diferentes daquelas das instituições dos grandes centros. Sob o ponto de vista da humanização, o projeto da URQ considera facilidade e flexibilidade de acesso, privacidade dos leitos, necessidade de interação com o espaço, iluminação, entre outros aspectos. Organizacionalmente, representa a capacidade para crescimento orgânico da instituição, principalmente no campo oncológico.
 
O início das obras está programado para setembro e inauguração prevista para junho de 2014.
 
SaudeWeb

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