Apu Gomes/Folhapress Usuários de drogas em centro terapêutico de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo |
Assinados na administração anterior, de Gilberto Kassab (PSD), os convênios
venceram e não foram renovados.]
Com essa medida, a Prefeitura de São Paulo vai priorizar um modelo de
atendimento que reduz internações prolongadas e mantém usuários de drogas nas
chamadas unidades de acolhimento, onde é permitido que eles passem por
tratamento sem ficarem isolados.
As vagas de internação fechadas, diz o município, foram "reabertas" nesses
locais.
Em vez de isolamento por um período de três a seis meses, como nas
comunidades terapêuticas, os usuários de drogas ficam em casas da prefeitura,
com a possibilidade de sair para trabalhar ou estudar e, depois, voltar para
dormir.
A administração municipal chama essa política de "redução de danos".
A coordenadora de Saúde Mental da prefeitura, Myres Cavalcanti, afirma que a
internação prolongada de dependentes não é ideal.
Ela diz que os leitos fechados já foram repostos em novas casas de
acolhimento --seis delas foram abertas neste ano, aumentando o total de unidades
para 16.
Programa estadual
Mais uma tentativa de reduzir o número de viciados em crack, o novo modelo se
confronta com o programa do governo paulista, iniciado em janeiro deste ano, que
prevê internação involuntária --contra a vontade do dependente-- em hospitais e
clínicas da rede estadual.
Representantes das comunidades dizem que a mudança põe em risco o tratamento
iniciado com dependentes químicos graves.
"As famílias estão desesperadas. Tenho experiência em dependência química e
não acredito em redução de danos", disse uma funcionária da Comunidade Sagrada
Família, em Cotia (Grande São Paulo), que pediu para não ser identificada.
"Nesse método, a pessoa costuma usar [droga] controladamente para tentar
chegar ao ponto de abstinência."
A prefeitura nega que permitirá o uso controlado.
Além da Sagrada Família, cujo contrato foi encerrado em 15 de agosto, as
comunidades Estância Verão, em Cajamar (Grande São Paulo), e Padre Haroldo, em
Campinas (100 km de SP), também não tiveram os acordos renovados.
Os convênios firmados com outras três entidades vencem neste ano. A
prefeitura ainda estuda se haverá ou não a renovação.
Gestor de convênios da Estância Verão, o psicólogo Edson Terra Tomazi disse
que o município vai precisar ampliar os leitos das unidades de acolhimento.
"Do ponto de vista técnico, não acho que a prefeitura esteja errada. O que
não pode é fechar leitos sem abrir outros para dar continuidade. E não é
possível dizer que isto esteja acontecendo."
Mantido
Usuário de crack desde os 26 anos, A., 49, desempregado, teria o tratamento
interrompido numa das clínicas cujo convênio acabou. Ele se recusou a sair e
pediu à direção que o mantivesse. Conseguiu.
Morador do Itaim Paulista (zona leste), A. está há cinco meses internado. "O
pessoal da prefeitura queria me levar para essa unidade de acolhimento. Eu iria
voltar a usar [droga], certamente. Ninguém passa o dia na rua sem usar. A
recaída é muito mais fácil."
Folhaonline
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