O tratamento prolongado em comunidades terapêuticas não é a solução para
dependentes químicos, afirma a coordenadora de saúde mental da Prefeitura de São
Paulo, Myres Cavalcanti.
Segundo ela, as internações referentes a casos graves continuarão a ocorrer,
mas em hospitais gerais.
"Não acreditamos que trancar a pessoa por seis meses seja o que vai deixá-la
curada ou abstêmia", afirmou.
Ela diz que as comunidades terapêuticas ficam fora da capital e que esse
distanciamento da rede Caps (Centros de Atenção Psicossocial) prejudica o
tratamento. Por isso, ela afirma que optou por não renovar os convênios com
clínicas e ampliar as unidades de acolhimento (UAs).
De acordo com Myres, não há uso controlado de drogas nessas casas. "É um
plano de convivência monitorado por profissionais. As pessoas trabalham, estudam
e voltam para a casa, onde são escaladas para serviços, como cozinhar, por
exemplo. Todos têm responsabilidades. Ninguém usa droga na casa", disse.
'Insucesso'
Myres afirmou que os casos de internação serão encaminhados para os
hospitais.
"Se a pessoa quer se tratar, vai para um hospital geral e ficará num leito
por até 15 dias. Depois que ela sair, vai para um Caps, com o apoio da família.
Se não tiver nessas condições, pode ir para as casas [de acolhimento]."
Segundo ela, o plano inclui suporte às famílias e acompanhamento de
psiquiatras e assistentes sociais.
A coordenadora defende que o tratamento que não esteja vinculado à rede Caps
"tende ao insucesso".
"As estatísticas mostram que, do total de dependentes, 30% vão ficar sem uso
[de droga] para sempre. Os 70% restantes temos que trabalhar para a redução de
danos, com esforço para a cura. Esse é o tratamento para dependência."
De acordo com Myres, a internação contra a vontade do dependente só é
necessária quando há risco de morte.
Várias opções
Para o psiquiatra Arthur Guerra, professor do Departamento de Psiquiatria da
USP, as internações prolongadas devem ocorrer nos casos mais graves.
"Não defendo internação prolongada, mas, em termos de saúde pública, acredito
que deve haver diversas opções, seja de período prolongado, curto prazo ou
redução de danos. O que não pode é fechar numa opção só, de forma radical",
afirmou.
"Para alguns pacientes, a internação prolongada é a única opção. Não adianta
eu, por uma questão ideológica, achar que não é ideal e o paciente sentir que
é", disse.
Folhaonline
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