Aplicativos, carreira, concursos, downloads, enfermagem, farmácia hospitalar, farmácia pública, história, humor, legislação, logística, medicina, novos medicamentos, novas tecnologias na área da saúde e muito mais!



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Mídias sociais podem interferir e prejudicar o comportamento sexual

Foto: Reprodução
Desenvolvimento de doenças e mudança na relação médico-paciente são questionados
 
A vivência da sexualidade na era virtual levanta inúmeras questões sobre até que ponto a internet e as mídias sociais interferem na saúde sexual das pessoas e provoca indagações sobre a ética e valores na era digital, tema desta última reportagem do Estado de Minas da série sobre transtornos da sexualidade. Ao atravessar fronteiras, pôr fim a barreiras culturais e garantir o anonimato, tanta exposição (permitida ou roubada) põe em xeque a possibilidade de aumento das perversões sexuais, desenvolvimento de doenças e até a interferência dessas redes sociais na relação médico-paciente.

Para o professor-adjunto do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Amaury Castilino, doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento, o mundo virtual facilita determinadas formas de comunicação que podem concretizar algumas relações afetivas reais. Além disso, algumas pessoas tímidas e outras mais recatadas encontram na internet oportunidades de exposição de desejos que são partilhados por outros. Mas a dúvida é: esse aumento de exposição pessoal pode aumentar as perversões sexuais?. "Pensamentos ou desejos sexuais menos comuns podem ser compartilhados na internet, tornando-os aparentemente usuais para o indivíduo que eventualmente acreditava que estava sozinho naquela fantasia. Esse aspecto pode favorecer a expressão comportamental do desejo por meio de um afrouxamento dos freios morais."

A psiquiatra e psicanalista mineira Marília Brandão Lemos Morais enfatiza que a internet é um meio de comunicação social valioso e um veículo por meio do qual as pessoas podem se apegar afetiva e socialmente, já que as redes sociais promovem o diálogo on-line e off-line. Ao propiciar acesso a conteúdos diversos, vão estar à disposição sites de pornografia, de encontros amorosos e sexuais e de sexo virtual, que, se antes se limitavam ao texto, agora agregam imagens, vídeos, a possibilidade de usar a webcam em tempo real e o contato virtual. "As pessoas compulsivas sexuais usam a internet como veículo da sua compulsão. Muitos têm vida real com seus parceiros, mas não controlam o poder aditivo e viciante de apenas um clique ao seu alcance. No mundo virtual, elas encontram seus grupos e pares com as mesmas preferências, vivências, fantasias. E sabem que serão aceitas, não rejeitadas."
 
Marília reforça que a internet promove dependência por três fatores. Primeiro, pela acessibilidade, 24 horas, sete dias por semana e, ainda, com a facilidade de aparelhos móveis, podendo estar em qualquer lugar. Segundo, pelo anonimato. A pessoa se sente protegida. E terceiro, por ser um empreendimento de baixo custo, todos têm acesso. "O problema é que quem faz parte do grupo de risco vai estimular o transtorno ao vivenciar na internet a busca de suas fantasias. É uma tendência de ser repetitivo." A médica lembra que há características de personalidade que podem predispor a esse comportamento. São pessoas em fase de fragilidade, solitárias, tímidas e que usam a internet como escape, forma de enfrentamento e desvio dos problemas da vida real. "Num primeiro momento, podem achar interessante. Mas ao se tornar viciante, vai gerar prazer fácil, imediato e estimular um circuito de recompensa e gratificação que, por ser repetitivo, causará problema na vida pessoal. O refúgio na internet é uma forma de alienação afetiva, social e do trabalho que só causa sofrimento", pontua.

A psiquiatra conta que de 5% a 10% dos usuários da população mundial podem se tornar dependentes e não só de sexo, mas de jogos (pôquer e RPG) e da própria navegação. "Há pessoas que acessam por curiosidade. E os compulsivos são capturados pela rede. A internet passa a ser um problema grave. As obsessivas não conseguem desviar o pensamento e, no caso de doentes e criminosos, como os pedófilos, a usam para atrair suas possíveis vítimas."

Vida moderna
A médica mineira chama a atenção para o sofrimento dos dependentes. "Eles precisam buscar ajuda porque sozinhos não vão se desvencilhar. Têm de tratar a dependência, ficar um tempo longe, como ocorre no caso da droga ou do álcool. A internet é instrumento da vida moderna, impossível viver sem (usada no trabalho, para acessar banco, fazer compras etc.) e, por isso, é fundamental procurar um tratamento tanto medicamentoso quanto psicoterápico." Marília lembra ainda que pessoas compulsivas e dependentes podem aprender a conviver com o uso da internet de forma saudável, com equilíbrio e contenção.

Segundo ela, a dependência é recente e nem conta na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) ou no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSMs). "Vários autores escrevem livros, há trabalhos, mas é tudo novo ainda. O doente na internet entra em estado alterado de consciência. A sensação de tempo e hora muda, assim como a de espaço, de quebras de fronteiras, de conversar com alguém na China como se estivesse ao seu lado. Vivem num estado de imersão prazeroso e tudo é novidade, surpresa, sem começo ou fim. Ele pensa que tem controle, mas na realidade o perde. É bom destacar que o ser humano é social, precisa estar agregado, que a fantasia é necessária, mas não pode descontrolar."

Saúde Plena

Nenhum comentário:

Postar um comentário