Aplicativos, carreira, concursos, downloads, enfermagem, farmácia hospitalar, farmácia pública, história, humor, legislação, logística, medicina, novos medicamentos, novas tecnologias na área da saúde e muito mais!



sábado, 31 de maio de 2014

Pessoas com intolerância e alergia alimentar buscam receitas alternativas para viver melhor

Pessoas com intolerância e alergia alimentar buscam receitas alternativas para viver melhor Fernando Gomes/Agencia RBS
Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Depois de se descobrir celíaca, Michele começou a fabricar
 e vender receitas sem glúten
Apesar de crescimento, oferta de produtos ainda é escassa no mercado
 
Fábricas de pães e bolos sem trigo e leite são inauguradas, cervejeiros tiram o glúten da composição da bebida, nutricionistas mudam o foco de atuação e chefs de cozinha se reinventam. Ofertas de alimentos que servem de remédio a intolerantes e alérgicos se multiplicam, deixando mais fácil a vida de quem não lida bem com a ingestão de glúten, lactose e proteínas alimentares. Mas o crescimento do número de pessoas que sofrem com o problema não é unanimidade.
 
Para o chefe do Serviço de Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Luiz Fernando Jobim, virou moda achar que os alimentos estão fazendo mal:
 
— A quantidade de gente que aparece no consultório dizendo que tem intolerância, que é celíaco, é grande, mas poucos se confirmam. Temos um mundo de neuróticos e o intestino sempre foi uma fonte de neurose. Só que agora existem umas doenças novas para se apegarem.
 
Fábio Cardoso, especialista em medicina preventiva, garante que essas doenças estão mesmo aumentando, e estima que mais ou menos metade da população mundial tenha algum tipo de intolerância alimentar. Segundo Cardoso, 25% da população mundial não se adapta bem ao glúten, enquanto 75% das pessoas com origem americana ou europeia têm chance de ter algum nível de intolerância ao leite.
 
— Geneticamente não somos predispostos a ter a enzima digestiva adequada ao leite, vamos perdendo a partir dos quatro anos — alerta Cardoso.
 
A julgar pelos personagens que ilustram esta reportagem, unanimidade é a peregrinação de quem sofre com essas doenças a consultórios em busca de respostas para as dores, problemas de evacuação intestinais e alterações no peso.
 
A vida de Michele König, 35 anos, por exemplo, transformou-se depois do nascimento do único filho, João Pedro, há seis anos. Só que com ela essa frase-clichê não teve o sentido romântico da maternidade. Desmaios e vômitos se repetiam e as noites conectadas a soros em hospitais se tornaram frequentes. Depois de passar, em um ano, por cinco médicos e enxugar 10 quilos, ela recebeu o diagnóstico de doença celíaca (alergia ao glúten).
 
— Fui para a internet, procurei o nome do exame que eu deveria fazer e levei para o médico. Ele duvidou que eu pudesse ter a doença, disse que eu ia morrer sem descobrir o que eu tinha, devido à complexidade que é o intestino, mas receitou o exame e o resultado deu positivo para doença celíaca — lembrou.
 
E Michele, que sempre foi comilona, precisou prestar atenção a tudo o que ingere. Sofria, pois oferta até havia nos supermercados, mas os produtos não tinham o sabor que ela gostava. Começou, então, a testar em casa receitas que resultavam em pães e bolos fofinhos.
 
Há um ano, abandonou a carreira de executiva de contas e abriu uma fábrica e uma loja em Gravataí (www.manasemgluten.com.br), onde hoje muita gente busca comida sem glúten e sem lactose: um remédio e um consolo.
 
Brigadeiro alternativo
A paulista Fernanda Teixeira Delabio, 36 anos, abandonou a profissão como administradora hospitalar para viver em função do filho Lucas, sete anos, depois que ele descobriu ser alérgico à proteína de vários alimentos, incluindo leite, ovo, trigo e soja.
 
Temendo reações como as que já deixaram a criança hospitalizada por duas vezes, Fernanda passa horas na cozinha testando receitas e substituindo os alimentos alergênicos. Como Lucas almoça no colégio, a mãe consulta o cardápio e prepara a mesma comida que será servida aos colegas, para que ele não se sinta excluído. Nas festas de aniversário, tem brigadeiro que Lucas pode comer, sem leite condensado (foto abaixo).
 
— Psicologicamente é importante que ele participe das atividades, por isso me esforço muito para que a situação seja a melhor possível para ele — explica Fernanda.
 
Entenda o problema
 
Alergia
— É uma resposta do sistema imunológico a uma determinada proteína contida no alimento do qual a pessoa é alérgica, independentemente da quantidade consumida.
 
— O alimento é considerado uma toxina para o corpo, gerando uma reação inflamatória e imunológica. Ela ataca, geralmente, o intestino.
 
— Os principais causadores de alergias são leite de vaca, farinha de trigo, ovo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar.
 
Intolerância
— O organismo não produz as enzimas responsáveis por digerir e metabolizar determinado alimento (quebrar as partículas do alimento até termos condições de absorvê-los).
 
— A reação depende da dose.
 
— Diminui a capacidade de absorver nutrientes. O organismo pode desenvolver doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, além das imunológicas, como o câncer.
 
— Os principais causadores são glúten, lactose, frutos do mar, corantes, conservantes e intensificadores de sabores.
 
Sintomas
Eles se confundem nas duas situações e podem surgir depois de horas ou até dias da exposição ao alimento.
 
Curto prazo
Cólica, gases, diarreia ou prisão de ventre, enjoo e vômito. Em alergias, podem provocar inchaço, tosse e, em casos graves, choque anafilático.
 
Longo prazo
Irritabilidade, depressão, alteração dermatológica (acnes, lesões vermelhas que descascam) e ganho de peso.
 
Diagnóstico
— Em geral, os testes de intolerância alimentar são feitos por meio de exames de sangue,
requisitados por médicos e nutricionistas. Mais de 370 tipos de alimentos são passíveis de diagnóstico nesses exames, não cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e podem custar entre R$ 400 e R$ 1,5 mil.
 
— Endoscopia do intestino delgado ou duodeno, com biópsia, ajuda a comprovar a doença celíaca.
 
— O Hospital de Clínicas de Porto Alegre desenvolveu um kit para tipagem molecular por DNA dos genes da doença celíaca, que poderia substituir a endoscopia com biopsia do duodeno. É um teste de sangue.
 
É importante saber
 
Contaminação cruzada
Existe, nas indústrias, o compartilhamento de maquinário, e resquícios de proteínas podem ficar nas máquinas mesmo após a higienização. Esses resquícios, por menores que sejam, podem fazer mal a alguém que apresente sensibilidade. O mesmo ocorre com o glúten que, além disso, fica no ar por pelo menos dois dias, podendo contaminar outros alimentos.
 
Lactose x proteína do leite
Lactose é o açúcar do leite e pode causar intolerância. As proteínas do leite, como a caseína, entre outras, são as causadoras da alergia alimentar.
 
Doença celíaca
No Brasil, há incidência de 1% da população. Trata-se de uma alergia crônica grave com predisposição genética. Assim que ingerido, o glúten é atacado pelo sistema de defesa do organismo, que gera uma ação inflamatória, destruindo partes do intestino. Com isto, o sistema pelo qual se absorve nutrientes e que serve de barreira de defesa fica prejudicado.

Zero Hora

Nenhum comentário:

Postar um comentário