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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Venda de calmantes e antidepressivos cresce quase 10% em 4 anos no Brasil

Reprodução
Cobrança “a todo instante” não dá tempo para as pessoas
“também refletirem o que fizeram de errado”, diz especialista
Especialistas explicam que aumento de pressão faz pessoas procurarem mais por remédios
 
A venda de calmantes e antidepressivos aumentou 8,4% em quatro anos em todo o Brasil, de acordo com o levantamento feito pela consultoria IMS Health para o R7. Foram considerados os remédios com princípios ativos normalmente prescritos por médicos para essa finalidade, sem ser considerada apenas a indicação terapêutica da bula.
 
Segundo dados da consultoria, em 2009, foram vendidos 49.629 milhões e, em 2013, 53.819. Uma das classes mais vendidas, com o princípio ativo clonazepam (que inclui o calmante rivotril), subiu de 17.418 milhões para 22.158.  Uma pesquisa recente divulgada pela Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos ainda mostra que o rivotril foi o remédio mais prescrito pelos médicos entre fevereiro de 2013 e o mesmo mês deste ano.
 
O psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do HC da FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Luiz Cuschnir, o consumo deste tipo de medicamento tem aumentado por “causa dos desafios, cada vez maiores, que a sociedade impõe, elevando o nível de ansiedade nas pessoas”.
 
—  Esse número só diminuirá se tivermos mais possibilidade de oferecer uma psicoterapia que fortaleça os indivíduos para lidarem melhor com isso.
 
A opinião do especialista é a mesma do psicanalista e professor da PUC-SP Claudio César Montoto. De acordo com ele, as pessoas têm procurado cada vez mais ajuda psicológica por “se sentirem mal por não atenderem aos padrões estabelecidos pela sociedade”.  De acordo com o especialista, o aumento nas vendas se explica pela busca de uma vida “pessoal e profissional perfeita”.
 
― Muitas vezes, as pessoas recorrem aos remédios para esquecerem seus problemas, para deitarem na cama e não terem que pensar em tudo o que deu errado.
 
Ainda segundo Montoto, o brasileiro “está muito apegado à crença popular de que tempo é dinheiro” e exige resultados muito bons em um curto espaço de tempo.
 
Para ele, a cobrança “a todo instante” não dá tempo para as pessoas “também refletirem o que fizeram de errado” naquele dia.
 
— Os remédios se tornam uma forma de antecipar uma felicidade ou tranquilidade que a pessoa ainda não tem ou que nunca terá.
 
Na opinião do professor do departamento de psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Miguel Jorge, o crescimento nas vendas pode estar associada ao aumento dos pacientes com quadros depressivos. Além do uso abusivo pelos pacientes deste tipo de medicação.
 
— Hoje temos uma demanda maior por esses remédios. As pessoas passaram a procurar os médicos alegando dificuldades para dormir e relaxar, assim os médicos acabam receitando esses medicamentos.
 
Jorge ainda acredita que o aumento nas vendas pode estar relacionado à prescrição por médicos não especializados na área.
 
— Muitos médicos de outras áreas acabam receitando esses calmantes mesmo sem ter base para uma análise psiquiátrica dos pacientes, na maioria das vezes, eles receitam por pedido dos pacientes.
 
Acesso à saúde
A facilidade do acesso a consultas médicas e a “popularização” da psicologia podem explicar a alta do uso de calmantes no País, de acordo com a análise da psicóloga da Unifesp, Clarice Madruga.
 
— As pessoas têm mais acesso às consultas médicas. Antigamente não era todo mundo que tinha um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Assim, um maior número de consultas pode representar um maior número de prescrição desses remédios.
 
Consequências para saúde
Os pacientes que usam calmantes devem ser acompanhados “de perto pelos médicos devido à necessidade de reajuste das doses”, explica o especialista da USP Cuschnir.
 
― Muitos desses remédios provocam tolerância, que consiste em doses cada vez maiores para diminuir os sintomas da ansiedade. Quando ocorrem efeitos colaterais ou excesso de tempo de administração, o médico responsável deve reavaliar e acompanhar de perto constantemente o paciente em consultas para dar o melhor encaminhamento do caso.
 
Além disso, Montoto alerta que quando usados de maneira exagerada e contínua, os tranquilizantes podem condicionar o corpo a depender das substâncias presentes nos comprimidos.
 
— O problema é que quando a pessoa decide ou é forçada a parar de ingeri-los, mostra sintomas de abstinência, semelhantes aos processos de desintoxicação de outras drogas.
 
Para Montoto, “infelizmente o número de pessoas que usam esses medicamentos tende a crescer”.
 
— As pessoas passaram a acreditar que os remédios podem curar tudo, até mesmo a infelicidade.
 
Tirando os casos especiais de psicose, especialmente a esquizofrenia, esses medicamentos só servem para entorpecer e limitar as atitudes e os pensamentos do ser humano. As pessoas que precisam de rivotril para dormir, por exemplo, tomam algumas gotas do remédio para “desligarem” da realidade e acreditam que quando acordarem no dia seguinte tudo estará melhor.

R7

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