Pesquisa americana revela que diagnóstico precoce e adoção dos medicamentos antirretrovirais imediatamente após infecção previne a multiplicação do vírus no cérebro
Atraso na detecção do HIV e demora para iniciar o tratamento pode causar deficiência cognitiva |
Um estudo divulgado na revista científica PLoS Pathogens feito pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, aponta que com apenas quatro meses de infecção inicial pelo vírus HIV o cérebro já pode sofrer danos por causa da sua reprodução no local. O estudo acompanhou 72 pacientes nos dois primeiros anos da infeção.
Por meio da análise do fluido espinhal dos participantes e também de amostras de sangue, o estudo mostrou que 20% dos indivíduos sofria uma replicação do vírus no sistema nervoso central com apenas quatro meses de infecção. Além disso, 30% dos participantes apresentaram ao menos um sinal inflamatório, sugerindo que a replicação do vírus no cérebro acontecia dentro de dois anos.
“Isso mostra que a replicação viral e inflamação podem acontecer cedo, e os danos causados por elas podem ser irreversíveis”, disse em comunicado o infectologista Ronald Swanstrom, diretor do centro de pesquisa sobre a AIDS da Universidade da Carolina do Norte. “HIV e inflamação têm o potencial de acelerar o processo de envelhecimento e causar deficiência cognitiva, e, em casos extremos, resultar em demência associada ao HIV”, alerta.
Diagnóstico e terapia
Estudos anteriores mostraram que o HIV consegue penetrar no cérebro e causar problemas neurológicos e eventualmente a demência. No entanto, não havia evidências de que o vírus poderia causar danos tão rapidamente.
A diretora da divisão de pesquisa sobre a AIDS do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, Dianne Rausch, conta que a pesquisa aponta para a importância do diagnóstico precoce e da terapia antirretroviral.
“Qualquer atraso aumenta o risco do vírus encontrar refúgio e causar danos ao cérebro, onde algumas medicações são menos efetivas, potencialmente facilitando o vírus a reemergir, mesmo depois de ser suprimido no sangue periférico”, comentou.
Evidências do estudo também sugerem que, na maioria dos pacientes, o vírus chega ao cérebro por meio do sangue periférico. No entanto, em alguns pacientes, diferentes versões genéticas do vírus que não são encontradas no sangue podem atingir o cérebro. De acordo com a pesquisa, o órgão pode se tornar então um compartimento de reserva de vírus capaz de gerar formas resistentes a tratamentos e que podem reinfectar o corpo depois de um tratamento de sucesso.
Um terço das pessoas que não fazem terapia antirretroviral para controlar o HIV eventualmente desenvolverá demência associada ao vírus, disse Swanstrom. Ele reforça que o resultado do estudo mostra a importância de detectar o HIV o mais cedo possível.
Estudos posteriores poderão focar se o dano causado ao cérebro precocemente por causa da replicação do vírus e também da inflamação podem ser reversíveis.
iG
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