Nunca se falou tanto sobre a importância das pessoas nos processos produtivos e de serviços como atualmente. Nada mais correto e coerente. Nenhuma máquina, por mais completa e autônoma, funciona sem a necessidade da pessoa. Logo, pessoas serão sempre o agente e o receptor de todo o progresso. Elas são o centro de tudo.
Em serviços, isso tem contornos e situações muito mais específicos, pois sua finalidade é quase sempre a pessoa ou o grupo de pessoas. Transportando este conceito para a área da gestão em serviços de saúde, temos outro componente sumamente importante: a segurança com que o serviço deve ser entregue. Afinal, a atividade da saúde lida com um “produto” extremamente sensível – a vida ou as atitudes que possam preservá-la ou interrompê-la.
Na prática, isso se traduz em sistemas de gerenciamento de riscos e de não conformidades, adoção de protocolos assistenciais e monitoramento constante de indicadores das mais diversas naturezas. Para conduzir tais processos, é essencial a formação de pessoas – no nosso caso, médicos, enfermeiros e demais integrantes da equipe multiprofissional – nas mais modernas ferramentas de gestão e da qualidade.
Ser responsável pela vida ou pela melhora da qualidade de vida é uma questão séria e que demanda competências extras na execução dos processos e tarefas de forma certa e correta. Exige uma formação adequada e na maioria das vezes longa, mas também habilidades e comportamentos próprios. Em suma exige um alto grau de competência.
Em tese o mercado, deveria suprir os serviços de saúde de profissionais competentes e qualificados. Em tese, pois não é o que acontece. A realidade é totalmente diversa. Grande parte desses profissionais apresenta-se mal preparada, com importantes lacunas no seu preparo e altos riscos para as instituições contratantes e, consequentemente, para seus clientes. Muitos não dominam sequer as quatro operações aritméticas. Não sabem calcular adequadamente as diluições de medicamentos, por exemplo. Têm dificuldades em escrever corretamente, sua caligrafia é sofrível. Não têm as noções básicas de gramática.
Confrontar esta realidade com a possibilidade de atender aos 60 milhões de pessoas de diferentes países que, estima-se, seja o contingente de pacientes dispostos a atravessar fronteiras e engrossar as estatísticas do turismo de saúde, é preocupante. Estamos preparados para receber essas pessoas, que não só falam outro idioma, mas também esperam tratamento diferenciado, no sentido de compreender suas peculiaridades culturais e a elas adaptar-se?
O que resta para os serviços de saúde?
Montar programas de capacitação com ensino básico para estas pessoas, com altos investimentos, assumindo um papel que não lhes cabe, mas sim do mercado responsável pela preparação. Totalmente fora do seu negócio, que é prestar assistência ao doente. Não me refiro à educação continuada em serviço. Esta, sim, é de total responsabilidade de qualquer instituição. Esta, sim, é o diferencial competitivo de cada organização. Esta é inerente à qualidade do produto ou do serviço que pretendemos entregar ao cliente.
Embora seja apropriado aplicar o conceito da bilateralidade – ao mesmo tempo em que o profissional deve ter ânsia pelo novo e pelo conhecimento, é preciso que as instituições apliquem recursos para estimular as pessoas buscarem aprendizado –, o cenário ideal é aquele em que as instituições não precisem, salvo nas ações de educação continuada desviar-se de seu foco de negócio para formar profissionais.
Os grandes hospitais encontram-se em posição privilegiada, pois sua gestão profissional lhes permite promover cursos, simpósios e congressos na área de saúde. Contudo, de uma forma geral o que se vê no quesito formação de pessoas é um descompasso entre necessidades e recursos disponíveis, devido à gestão deficiente, desperdício, softwares inadequados e deficiências de controle e avaliação.
O grande desafio para a gestão dos serviços de saúde nos próximos anos resume-se na: busca, preparação e retenção de talentos. Da mesma forma que o zelo para recrutar e selecionar o melhor, é preciso também cuidar para retê-lo, feliz e realizado naquilo que faz. Isso contribuirá para que a instituição de saúde fidelize seus clientes, parceiros e fornecedores.
Fonte SaudeWeb