Cerca de 9% do total de auxílios-doença são decorrentes desse tipo de adoecimento. Empregadores e trabalhadores tem que reconhecer a importância da promoção da saúde do trabalhador
Mudanças de humor, tristeza, ansiedade, apatia, culpa, descontentamento geral, desesperança, perda de interesse, solidão, sofrimento emocional, automutilação, choro excessivo, irritabilidade e isolamento social. Esses são alguns dos sintomas de quem sofre de transtornos mentais e comportamentais.
As condições dos ambientes e dos processos de trabalho das pessoas podem desencadear esse tipo de adoecimento. Por isso, no Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro), a Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe discussão global sobre saúde mental no ambiente de trabalho.
De acordo com coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro, várias situações relacionadas ao ambiente de trabalho podem acabar funcionando como um gatilho que, juntamente com outras situações, pode desencadear um transtorno mental. “Por exemplo, situações de grande estresse no ambiente de trabalho com carga horária elevada, com um ambiente de trabalho que exige do trabalhador um desempenho além do que é possível, situações de assédio moral, de assédio sexual, são situações que comprovadamente estão relacionados com o aumento da prevalência de transtornos mentais”, destaca Cordeiro.
Auxílio-doença
No Brasil, transtornos mentais e comportamentais são a terceira causa de incapacidade para o trabalho, correspondendo a 9% da concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, de acordo com dados do 1º Boletim Quadrimestral sobre Benefícios por Incapacidade (Secretaria de Previdência/Ministério da Fazenda/2017).
Ainda de acordo com o levantamento, episódios depressivos são a principal causa de pagamento de auxílio-doença não relacionado a acidentes de trabalho, correspondendo a 30,67% do total, seguido de outros transtornos ansiosos (17,9%).
Quando se olha para o quadro de auxílios pagos relacionado ao trabalho, os números são ainda mais expressivos. Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação, episódios depressivos e outros transtornos ansiosos causaram 79% dos afastamentos no período de 2012 a 2016.
“Esses números mostram a importância da saúde mental no ambiente de trabalho. E como esse local pode, se não for um ambiente bem organizado e que leve em consideração a saúde do trabalhador, ser danoso para o funcionário. Daí a importância de trabalhadores, empresas e a sociedade como um todo, atentar para essa situação”, conclui o coordenador de Saúde Mental.
De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), os cinco grupos de atividades mais vulneráveis a transtornos mentais são transporte coletivo urbano (motoristas e cobradores), atividade bancária (gerente de contas e agências), educação fundamental (professor da1° a 4° serie) e vigilância e segurança (armada e desarmada).
A coordenadora de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Karla Baêta, explica que os riscos à saúde mental devem ser identificados e geridos da mesma forma lógica e sistemática que outros riscos de saúde e segurança no local de trabalho. “O reconhecimento por parte dos empregadores e dos trabalhadores da relação entre o trabalho e o adoecimento mental é o primeiro passo para a melhoria dos ambientes e processos, resultando na prevenção destes agravos e na promoção da saúde do trabalhador”, ressalta Baêta.
Na Europa
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Europa, o estresse ocupa a segunda posição entre os problemas de saúde relacionados ao trabalho, afetando cerca de 40 milhões de pessoas. Ainda de acordo com a organização, entre 50 e 60% de todos os dias de trabalho perdidos no continente estariam ligados a esta condição.
A OIT entende que a prevenção de acidentes e de danos à saúde do trabalhador vai muito além da identificação e eliminação de ameaças visíveis, alcançando a percepção dos chamados riscos psicossociais, capazes de afetar a saúde mental do indivíduo.
Ainda contribuem para o cenário de agravamento do adoecimento mental no âmbito do trabalho as situações de banalização da violência, como o assédio moral institucionalizado, as relações interpessoais norteadas por autoritarismo e competitividade, a demanda constante por produtividade e a desvalorização das potencialidades e subjetividades dos trabalhadores.
Fique alerta
Várias condições de trabalho podem conduzir a riscos psicossociais. Empregadores e trabalhadores devem ficar atentos aos primeiros sinais e, quando for o caso, apoiar e indicar ajuda a quem precisa. Por isso, é preciso ficar alerta em situações como:
- Cargas de trabalho excessivas;
- Exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções;
- Falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controle sobre a forma como executa o trabalho;
- Má gestão de mudanças organizacionais, insegurança laboral;
- Comunicação ineficaz, falta de apoio da parte de chefias e colegas;
- Assédio psicológico ou sexual e violência de terceiros.
Esses tópicos têm sido observados em diversas atividades pela inspeção do trabalho, tornando-se uma preocupação e um desafio para os órgãos que atuam na segurança e saúde do trabalhador.
Luiz Philipe Leite para o Blog da Saúde