Elas revelam muito mais do que a personalidade do dono — no caso daqueles ansiosos que não as tiram da boca. Um exame das unhas e de suas lesões feito por especialistas pode gerar um verdadeiro arsenal de informações sobre hábitos errados e até doenças sistêmicas que repercutem na estrutura de queratina responsável por proteger a ponta dos dedos. De organização semelhante à da pele, é mesmo lógico que ela revele sinais do organismo humano.
Segundo Aloísio Gamonal, chefe do serviço de dermatologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), os médicos podem extrair informações confiáveis das unhas. Contrariando uma ideia disseminada, as manchas brancas, por exemplo, não estão vinculadas à falta de cálcio, mas, às vezes, a uma carência de zinco. As manchas amarelas são frequentes nas pessoas que fumam muito, mas também naquelas que seguem um longo tratamento com antibiótico com ciclinas.
As unhas saudáveis são aquelas de cor rosada, lâminas finas e flexíveis e formato convexo. Todo o resto representa algum tipo de problema, que precisa ser avaliado por um dermatologista. Há unhas, por exemplo, que apresentam faixas pretas como códigos de barras, que surgem em decorrência de disfunções hormonais, como uma insuficiência das glândulas suprarrenais, da ingestão de certos medicamentos ou de tumores da matriz ungueal, de onde nasce a unha.
A forma e a textura das unhas também fornecem indicações. “Unhas convexas e sem brilho encontram-se, às vezes, em pessoas acometidas por uma doença cardíaca ou pulmonar crônica grave. Costuma-se dizer que unhas secas e frágeis resultam de falta de vitaminas A, B ou E ou de uma carência de cálcio, mas a suplementação, muitas vezes proposta, nem sempre é eficaz. Sabemos tratar de unhas côncavas, que assinalam um eventual deficit de ferro na criança”, explica Gamonal.
As unhas frágeis, quebradiças e que com frequência escamam são um dos efeitos da tireoidite de Hashimoto, com que a nutricionista Maria Rita de Cássia Brito, 57 anos, foi diagnósticada anos atrás. A doença foi descoberta em exames solicitados por um endocrinologista, mas as condições das unhas poderiam ter revelado a doença se o problema fosse relatado a um dermatologista. De acordo com a médica Ana Cláudia de Brito Soares, membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia — Regional Minas Gerais, uma análise clínica das unhas pode sugerir problemas, mas é imprescindível seguir a investigação com exames.
A fragilidade das unhas mudou os hábitos de Maria Rita, que vai à manicure a cada 15 dias, e não semanalmente; e precisa tirar o esmalte antes da hora, para deixar a região “respirar” um pouco. Não são necessários remédios específicos para a unha, mas ela mesma preparou uma dieta com aportes de vitamina D. “Acho que o problema é um somatório de fatores e tem inclusive relação com um excesso de vitamina A, que afeta a saúde das unhas”, diz a nutricionista.
A alimentação, aliás, tem influência direta sobre a saúde das unhas — elas refletem o status nutricional do organismo. Vitaminas B3, A e C (encontradas na maioria dos alimentos), ferro (em carnes e feijão), magnésio (em verduras escuras), selênio (em castanha-do-pará), zinco (em carnes e alimentos integrais) e biotina (em ovos e iogurte) são ótimos para o fortalecimento, diferentemente do cálcio, que tem pouca influência.
Ajuda especializada
Segundo Ana Cláudia Brito, se a unha não estiver lisa, brilhante e transparente e não for possível enxergar a meia-lua da cutícula, isso é uma indicação de que algo não vai bem. Alterações na coloração, como opacidade, podem sugerir micoses e psoríase; e até melanomas, no caso de áreas acastanhadas. Descolamentos de unhas podem ser traumas, micoses ou alergias. Já alterações na espessura, como unhas muito grossas e rugosas, principalmente no pé, podem indicar problemas de circulação, micose e psoríase.
E as fracas? “Ah, essas ainda são um mistério para a dermatologia. Geralmente, lâminas mais finas podem ser sinal de uma agressão por agente externo, mas também um estado de desnutrição ou anemia”, diz a médica. O importante é investigar. A manicure Eliana de Souza Cardoso, 46 anos, vive uma “ironia do destino”. Todos os dias zela para que as unhas das clientes fiquem bem cuidadas e bonitas, o que não é possível com as suas próprias. Eliana e uma de suas irmãs nasceram com uma deformação na unha, uma estrutura fina, que mal cresce e é cheia de ondulações. Na adolescência, quando o problema a incomodava muito, chegou a procurar um médico, que lhe assegurou ser um problema genético. Fato é que quatro dos três filhos de Eliana e o neto têm o problema.
No salão (e em casa)
Use material individual para corte e limpeza e nunca o empreste a ninguém. Se fizer a unha com manicures, use apenas ferramentas esterilizadas.
Evite retirar as cutículas. Elas são importantes para proteger pele e unha, pois funcionam como barreira protetora para a entrada de germes e materiais estranhos. A cutícula está para a unha assim como a gengiva está para os dentes. Se, ao escová-los, a gengiva for cortada,
sangramentos, dores, inflamações e infecções serão mais comuns.
Ao cortar as unhas, adote um formato quadrado e não as deixe compridas nem curtas — mas sempre retas.
Ao fazer as unhas e suspeitar que alguma está com micose, deixe para limpá-la por último e evite assim a autocontaminação. Imediatamente, procure tratá-la.
Evite usar objetos pontiagudos para limpar sob as unhas, o que pode provocar seu descolamento (onicólise), de tratamento bastante difícil. O ideal é amolecer a sujeira com sabonete e usar uma escovinha, que agride menos.
Esmaltes não prejudicam as unhas. Sua função é embelezar e proteger.
Não use acetona para remover esmaltes antigos, pois, por ser um solvente, ela agride quimicamente o enxofre das unhas. Dê preferência ao óleo de banana.
Os pedacinhos de pele que costumam ficar perto das unhas, os chamados “padrastos” ou espigos, não devem ser arrancados com os dentes, pois certamente inflamarão. Corte-os com tesoura e aplique um creme hidratante.
Encravaram. E aí?
Ao primeiro sinal de inflamação ou dor na região em volta das unhas, limpe o local e aplique um produto à base de antibiótico (neomicina ou garamicina, por exemplo) duas vezes ao dia, até melhorar. Não tente ficar cortando as laterais na tentativa de “desencravar”, porque isso só vai piorar o processo. Nesses dias, evite atividades físicas (esportivas ou no trabalho) que machuquem ainda mais a região.
Se não melhorar em uma semana, procure seu médico ou um dermatologista para uma melhor avaliação. A cirurgia só é indicada em casos mais avançados. Quando realizada por profissionais treinados, existe grande chance de ser única, com pós-operatório rápido e imediato uso de calçados.
Para evitar unhas encravadas, faça sempre um corte reto, nunca arredondado, principalmente nas unhas dos pés. O corte errado é a principal causa de unhas encravadas. A segunda é o uso de calçados apertados. Evite, portanto, os de bico fino ou passe a usar um número maior do que normalmente calça.
Saiba mais
Exame toxicológico
A análise toxicológica das unhas em medicina legal pode revelar sinais produzidos por envenenamento por arsênico, que provoca faixas brancas transversais em todas elas, as chamadas faixas de Mees. O conhecimento pode ser empregado também na luta contra o doping, para o qual o exame das unhas fornece algumas informações. Pesquisadores britânicos desenvolveram uma técnica baseada na análise da extremidade livre das unhas dos dedos do pé que poderia evidenciar, antes de uma competição, traços de produtos ilícitos dopantes, como a testosterona e a pregnenolona, mais de um ano após seu consumo, já que a renovação de uma unha do dedo do pé ocorre entre 12 e 18 meses. O método foi testado com êxito na busca por sinais de heroína ou de cannabis nos toxicômanos. É por motivos como esses que a onicologia — a ciência das unhas — passou a ser uma realidade científica com crescentes possibilidades terapêuticas, tornando indispensável a inserção da semiologia das unhas no ensino e na prática médicos.
Fonte Correio Braziliense