Pesquisa é amostra do poder viciante do tabaco e reforça necessidade de prevenir consumo por jovens
Pelo menos três em cada cinco pessoas que experimentam cigarros pela primeira vez se tornam fumantes diários, ainda que temporariamente. O achado é de estudo que angariou dados de diferentes levantamentos sobre o assunto com a participação de mais de 215 mil pessoas que está sendo publicado nesta quarta-feira no periódico “Nicotine & Tobacco Research”.
Segundo os cientistas, o resultado é uma amostra do poder viciante do tabaco e reforça necessidade de prevenir consumo por jovens, especialmente os adolescentes.
– Esta é a primeira vez que documentamos a notável capacidade viciante que os cigarros têm depois de uma única experiência em uma amostragem tão grande – destacou Peter Hajek, professor da Universidade Queen Mary, em Londres, e líder do estudo.
– No desenvolvimento de comportamentos adictos, sair da experimentação para a prática diária é um marco importante, já que isso implica que a atividade recreacional está se tornando uma necessidade compulsiva. E vimos que a taxa de conversão de “fumar pela primeira vez” para um “fumante diário” é surpreendentemente alta, o que ajuda a confirmar a importância de prevenir a experimentação dos cigarros em primeiro lugar.
Para o estudo, os cientistas fizeram buscas no Global Health Data Exchange, um grande repositório de levantamentos, censos, estatísticas e outros dados relacionados à saúde em nível mundial, por pesquisas relevantes que incluíram perguntas sobre a experimentação de cigarros e o tabagismo. Com isso, eles obtiveram dados de oito levantamentos feitos no Reino Unido, EUA, Austrália e Nova Zelândia cuja metodologia foi classificada como condizente com as melhores práticas na área.
Os pesquisadores então analisaram os dados para calcular a taxa de conversão de experimentar alguma vez cigarros e se tornar um fumante diário. Ao todos, eles estimaram que 60,3% dos participantes experimentaram cigarros, dos quais 68,9% progrediram para se tornarem consumidores diários do produto.
Mas como as metodologias usadas em cada levantamento são diferentes, estas estimativas têm uma grande margem de erro, com a taxa de conversão ficando entre um mínimo de 60,9% e um máximo de 76,9%. Dados estes números altos, os pesquisadores sugerem ainda que ao menos parte da redução da prevalência do tabagismo nos últimos 20 anos pode ser creditada à menor experimentação de cigarros pelos jovens.
– Preocupações foram expressadas com relação aos cigarros eletrônicos de que eles seriam tão viciantes quanto os cigarros convencionais, mas este não parece ser o caso – acrescentou Hajek. – É notável como poucos não fumantes que experimentam cigarros eletrônicos se tornam consumidores diários, enquanto uma grande proporção dos não fumantes que experimentam cigarros convencionais se tornam fumantes diários. A presença de nicotina claramente não conta toda a história.
O estudo, no entanto, tem limitações. A começar, o fato de cada levantamento ter apresentado resultados tão diferentes faz da taxa de conversão calculada apenas uma aproximação. Também há dúvidas quanto à capacidade das pessoas lembrarem e relatarem acuradamente seu histórico de tabagismo. Por fim, Hajek também destaca ter prestado consultoria e recebido financiamento para suas pesquisas de empresas fabricantes de medicações para a cessação do tabagismo.
O Globo