quarta-feira, 6 de julho de 2011
História da Farmácia no Brasil: parte I
A botica foi uma das instituições ocidentais que aqui aportaram com os portugueses. O cirurgião-barbeiro, os jesuítas e o aprendiz de boticário, que chegaram aqui com os primeiros colonizadores, trouxeram as “caixas de botica”, uma arca de madeira que continha certa quantidade de drogas. Cada “entrada” ou “bandeira”, expedição militar ou científica, no caso dos viajantes naturalistas, os fazendeiros, senhores de engenho e também os médicos da tropa ou senado das câmaras municipais – todos as possuíam com um bom sortimento de remédios para socorros urgentes.
Caixa de Botica. |
Até princípios do Império, os barbeiros concorreram com as boticas no comércio de drogas, suas lojas venderam mezinhas (remédios caseiros), aplicaram, alugaram ou venderam sanguessugas, ou bichas, e manipularam receitas. Nos tempos coloniais existiram poucas boticas. Os jesuítas e os hospitais militares tinham as únicas com que muitas vilas e cidades podiam contar. Os boticários eram oriundos geralmente de famílias humildes e obtinham seus conhecimentos nas boticas tornando-se ajudantes e aprendizes de um encartado. Para a obtenção da Carta de examinação, que lhes possibilitaria o exercício do ofício, submetiam-se a um exame junto aos comissários do físico-mor do reino.
Em fins do século XVII, algumas boticas já tomavam a aparência das boticas do reino. Situadas nas principais ruas, ocupavam dois compartimentos. O boticário e sua família residiam nos fundos. Num cômodo ficavam as drogas expostas a venda. Sobre as prateleiras viam-se boiões de boa louça, e potes com decorações artísticas continham pomadas e ungüentos; frascos e jarros de vidro ou de estanho, etiquetados, guarneciam xaropes e soluções. No outro cômodo, estava o laboratório da botica.
Pintura de Debret. |
Mesa, potes, frascos, balança, medidas de peso, copos graduados, cálices, bastões de louça, almofarizes, alambiques, destiladores, cadinhos etc, e uma edição da Polianteia Medicinal de Curvo Semedo – essencial para preparar a mezinha (remédio caseiro) receitada por um físico ou cirurgião, ou padre, ou curandeiro.
O primeiro boticário a trabalhar no Brasil foi contrato por Tomé de Sousa. Ele recebia 15 mil réis por ano para cuidar da caixa de botica. Fugindo da Inquisição, a maioria dos boticários eram cristãos-novos, de origem judaica, como Luis Antunes, que possuía uma botica em Recife, em frente ao Hospital da Misericórdia.
Os cirurgiões, que formavam a maior parte dos profissionais de saúde, também atuavam como boticários. No século XVIII, como os boticários não tinham formação em química farmacêutica, os droguistas passaram a controlar o preparo e o comércio dos preparados químicos, como sais, tinturas, extratos e várias preparações de mercúrio. Dessa forma, os Vallabela, droguistas italianos radicados em Lisboa, enriqueceram enviando drogas para o Rio de Janeiro e Bahia.
Uma importante fonte de renda para os boticários era o fornecimento para as naus de guerra e fragatas. A preparação das caixas de botica, bem sortidas para as tropas ou em socorro a capitanias com epidemias, podia render boa soma aos boticários. Em função da possibilidade de ganhos que o monopólio da fabricação e comércio de remédios lhes garantia, os boticários foram acusados de zelarem mais pelos próprios interesses que pela saúde dos seus semelhantes.
Entre 1707 e 1749, 89 boticários prestaram exames no Brasil. Nas boticas jogava-se e conversava-se muito. Viajantes observaram que nos cafés e em certas boticas se reuniam, de portas cerradas, sociedades particulares para se entregarem apaixonadamente a jogos de cartas e de dados. No século XVIII, discussões políticas ou religiosas, além de simples confabulações, ocorriam nesses locais. Vários boticários eram membros da Sociedade Literária do Rio de Janeiro e usavam o espaço das suas boticas para reuniões em que se discutiam temas proibidos. Não havendo imprensa, as boticas tornavam-se um dos poucos espaços para a divulgação das idéias que viriam a ameaçar o próprio estatuto colonial, abrindo os caminhos que levariam à Independência.
A formação médica e farmacêutica
No Brasil, a Academia Imperial de Medicina (1829 – 1889) foi o principal fórum de debates sobre o ensino médico e a saúde pública imperial e a principal trincheira voltada a defender o modelo anátomo-clínico francês e as idéias higienistas. A formação médica no ambiente hospitalar se tornou fundamental.
No final do Império, as reformas do ensino médico levantaram a bandeira do ensino experimental. Nesse contexto, a fisiologia experimental e a patologia celular, que viriam a produzir da medicina de laboratório, medicina sem doentes, estavam se consolidando no horizonte da clínica.
A reforma do ensino em 1832 previa a criação do curso farmacêutico junto às faculdades de medicina do Império. As disciplinas a serem ministradas eram divididas em três anos. Para obter o título de farmacêutico, o aluno deveria praticar, pelo mesmo período de três anos, numa botica de um boticário diplomado.
Em 1838, Manoel Francisco Peixoto, farmacêutico diplomado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro no ano anterior, em discurso pronunciado na Academia Imperial de Medicina, reclamava a respeito do esvaziamento do curso farmacêutico em contraste com o curso médico. Os farmacêuticos pertencentes a Academia Imperial de Medicina e às associações farmacêuticas que se formaram a partir de 1850 reivindicavam que as faculdade deveriam ter o monopólio da concessão de diplomas como forma de restringir o exercício da farmácia aos homens de ciência de formação acadêmica.
Escola de Farmácia de Ouro Preto. |
Além dos cursos farmacêuticos oferecidos pelas duas únicas faculdades de medicina no Império – a do Rio de Janeiro e da Bahia -, em 1839 foi criada pela Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais, a Escola de Farmácia de Ouro Preto.
A partir da promulgação da Primeira Constituição Republicana, 1891, que propôs um sistema educacional descentralizado, o ensino farmacêutico estendeu-se a outros estados.
Boticários ou farmacêuticos?
Em 1875, o farmacêutico Manoel Hilário Pires Ferrão proferiu conferência intitulada “Da farmácia no Brasil e de sua importância: meios de promover a seu adiantamento e progresso”. Nessa ocasião, chamou a atenção para a distinção que deveria ser feita entre boticário e farmacêutico. Boticário podia ser qualquer um que resolvesse abrir uma botica e comercializar a retalho vários remédios sem ter direito para isso. Citava a França como exemplo a ser seguido, pois desde finais do século XVIII adotara o nome farmacêutico para designar aqueles que eram formados em cursos regulares de farmácia. Oficina ou laboratório farmacêutico substituía o termo botica. Acreditava que naquele país a farmácia mantinha “um paralelismo de dignidade e proficiência com a classe médica”. Pires Ferrão assinalava a importância da farmácia como estabelecimento que lidava com a saúde, e que por isso deveria ter um tratamento diferenciado de outras casas comerciais, no que se refere à cobrança de impostos e jurisdição. Nota-se assim, o desenvolvimento de uma elite farmacêutica ansiosa em equiparar-se aos médicos e diferenciar-se dos outros curadores e do estigma das velhas boticas.
A designação “boticário” continuou a ser usada pela população para se referir ao farmacêutico diplomado. Apesar da lei de 03 de outubro de 1832 estabelecer que ninguém poderia “curar, ter botica, ou patejar” sem título conferido ou aprovado pelas faculdades de medicina, muitos proprietários de boticas pagavam farmacêuticos diplomados para dar nome a seus estabelecimentos, prática que se estendeu até o século XX.
As boticas ou farmácias, mesmo nos centros urbanos da época, como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Ouro Preto e Recife, acabavam funcionando como locais de assistência médica e farmacêutica, incluindo a prescrição e manipulação dos medicamentos e, provavelmente, a aplicação de procedimentos terapêuticos usuais na época, tais como sangrias, com o emprego de ventosas, lancetas ou sanguessugas, instrumentos que se encontravam à venda nas próprias farmácias.
Da matéria médica à farmacologia
O aparecimento das drogas industrializadas se deve à emergência da profissão farmacêutica. Ao combinar as habilidades e competências dos boticários, botânicos e químicos, ela permitiu o avanço do conhecimento sobre as drogas. Uma descoberta científica, a síntese em laboratório da uréia, em 1828, por Wöhler marcou ao mesmo tempo o crepúsculo do vitalismo e a historio da farmácia, pois abriu as portas para a síntese de substâncias orgânicas.
Justus Liebig (1803-73) lançou as bases da farmacodinâmica moderna ao descobrir as ações farmacológicas e químicas do organismo, sobretudo os fenômenos metabólicos. Medicamentos de uso comum passaram a ser investigados, principalmente na Alemanha, para se descobrir como atuavam nos tecidos. A colaboração entre químicos e fisiologistas tornou-se um procedimento básico para a demonstração de que os princípios ativos tinham os mesmos efeitos das drogas originais.
A farmácia oficinal e a arte de formular
Criada por dom João VI em 1808, a Botica Real Militar atendia aos exércitos da Coroa
(Fonte: Agência FIOCRUZ de Notícias)
(Fonte: Agência FIOCRUZ de Notícias)
No final do século XIX, as farmácias ainda mantinham boa parte do instrumental tecnológico herdado das boticas.
No decorrer do século XX, esses tradicionais estabelecimentos passariam por um longo processo de transformação, que acabaria por excluir do seu perfil as atividades artesanais de preparo de substâncias empregadas na arte de curar, confiando à sua responsabilidade a comercialização de medicamentos industrializados, agora utilizados pelas ciências da saúde.
Esse processo se relacionou, principalmente, ao desenvolvimento da produção de medicamentos e às conseqüentes modificações nas suas formas de distribuição e comercialização ocorridas nas últimas décadas do século XIX.
O advento da microbiologia, as investidas da terapêutica no campo da química e o distanciamento do pensamento médico das concepções hipocráticas que atribuíam uma força curativa à natureza transformariam esse cenário, possibilitando o desenvolvimento de um grande número de novos medicamentos, cada vez mais eficazes na proteção e no combate a doenças específicas.
Concursos na área da saúde
Quer um novo emprego?
Prestar um concurso?
Nós te ajudamos!!
Vá em marcadores/markers e clique em concursos. Lá você vai encontrar os concursos em andamento na área da saúde por todo o Brasil.
Sempre postamos atualizações de novas oportunidades de arrumar um novo trabalho.
Campanha em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Descontentamento? Cidadania? Para pensar
Nao te parece um bom exemplo contra o aumento do número de Vereadores? Mais vereadores para quê? Só para gastar mais em salários, assessores, benefícios...
SERÁ QUE TAMBÉM TEMOS QUE FAZER ISSO EM NOSSAS CIDADES?!
A indústria do sangue: O que acontece com as bolsas que você doa
Nos últimos dias, várias campanhas lembraram os brasileiros da importância da doação de sangue. Diversos municípios organizaram esquemas para estimular as coletas num esforço coordenado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde. Segundo o ministério, 1,9% dos brasileiros doa sangue regularmente. A taxa está dentro do parâmetro de 1% a 3% definido pela OMS, mas, segundo o ministério, precisa melhorar. Para doar sangue é preciso ter entre 18 e 67 anos, pesar mais de 50 quilos e comparecer a um hemocentro com documento com foto e válido em todo território nacional.
Os brasileiros costumam responder a essas campanhas com belas demonstrações de altruísmo. O doador sadio acredita que fazer o bem sem olhar a quem gera uma corrente de solidariedade que também o beneficiará quando estiver na posição incômoda de precisar de uma doação. Se a doação é gratuita, é compreensível que a maioria imagine que terá acesso ao sangue gratuitamente quando precisar dele. Engana-se.
Quem já precisou internar um parente num hospital particular para fazer uma cirurgia cardíaca, por exemplo, provavelmente já passou pela experiência de se surpreender com o tamanho da conta a acertar antes da saída. Só de banco de sangue, a família pode gastar R$ 10 mil ou mais.
E quando o paciente é atendido pelo SUS num hospital de grande porte que também recebe doações de sangue? Aí a coisa fica difícil de entender e de aceitar. O sangue que chega de graça à instituição passa a valer cerca de R$ 1.500 por litro depois de armazenado.
Os administradores de banco de sangue argumentam que os custos inerentes à atividade (pagamento de funcionários, testes para identificar vírus presentes no sangue, conservação das bolsas etc) encarecem o produto. Abusivo ou não, esse valor é cobrado do SUS. Ou seja: é cobrado de todos nós que, com nossos impostos, mantemos esse sistema funcionando aos trancos e barrancos.
Não pretendo desestimular as doações. Elas ainda são absolutas necessárias para salvar vítimas de acidentes, catástrofes e portadores de dezenas de doenças. Mas quem doa tem direito à informação. Tem direito de saber que o líquido vermelho que sai de seu corpo e rapidamente enche as bolsas plásticas está prestes a se transformar num produto valioso.
No círculo de profissionais que lidam com derivados do sangue, o plasma é chamado de ouro líquido. Há uma curiosa comparação entre o sangue e o petróleo. Ambos são fracionados em vários subprodutos. O mercado anual de petróleo é de 500 bilhões de dólares. O preço do barril bruto de petróleo é de U$ 25. O valor dos derivados contidos num barril é de U$ 45.
Embora o mercado anual de plasma seja bem inferior (20 bilhões de dólares), o sangue vale muito mais do que o petróleo. O preço de um barril de plasma bruto é de 16 mil dólares. O valor dos hemoderivados contidos num barril é de 70 mil dólares.
Sangue é um artigo caríssimo e raro na praça. Não faz sentido, portanto, que iniciativas capazes de reduzir a necessidade de transfusões em cirurgias sejam pouco conhecidas e difundidas.
Recentemente contei aqui o exemplo da cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar. Ela coordena a UTI cirúrgica do InCor e a UTI cardiológica do Sírio-Libanês, em São Paulo. E também a UTI do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Quando alguém precisa passar por uma cirurgia demorada (acima de três horas de duração), quase sempre recebe uma transfusão de sangue. O objetivo é compensar a perda sanguínea que ocorre durante o procedimento. As transfusões são muito comuns em cirurgias cardíacas como ponte de safena, troca de válvula e transplantes.
Se a quantidade de hemoglobina (proteína responsável pelo transporte de oxigênio para os tecidos) cai a níveis inferiores a 10 gramas por decilitro de sangue, o cirurgião pede uma transfusão. Os médicos não se perguntavam de onde havia saído esse limite. Ludhmila decidiu investigar o procedimento em seu doutorado, orientado por José Otávio Auler Jr., na Universidade de São Paulo. Descobriu que ele se justifica pela tradição – e não pelo embasamento científico.
A história é antiga. Em 1934, o americano John Lundy criou na Clínica Mayo o primeiro banco de sangue do mundo. Em 1942, ele propôs o limite de 10 g/dL baseado na observação de seus pacientes. Desde então a recomendação vem passando de geração em geração.
“Não podemos continuar fazendo medicina em 2011 baseados num relato de 1942”, afirma Ludhmila. Para colocar a recomendação à prova, ela realizou um estudo com 512 pacientes do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Eram doentes graves, com perfil semelhante (tinham diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca), que foram submetidos a cirurgias cardíacas.
Metade do grupo recebeu sangue quando o nível de hemoglobina caiu a 10 g/dL. A outra metade só passou pela transfusão quando o índice ficou abaixo de 7 g/dL. O que ela comprovou? Os doentes que receberam menos sangue se recuperaram tão bem quanto os que receberam mais sangue.
Uma segunda comparação (pacientes graves que receberam sangue versus pacientes que não receberam sangue, por estar com índices entre 7 g/dL e 10 g/dL) revelou que a transfusão aumenta em 20% a taxa de mortalidade e de complicações clínicas a cada bolsa de sangue recebida. O trabalho sugere que, pelo menos nos casos estudados, quanto menos sangue se receber, melhor. A pesquisa foi publicada em outubro no Journal of the American Medical Association com elogios no editorial.
O excesso de transfusões aumenta o risco de infecções por bactérias ou vírus. Nem todos os bancos fazem o teste rápido do HIV. Se o doador estiver na janela imunológica (período que o organismo leva, a partir de uma infecção, para produzir anticorpos que possam ser detectados por exames), o paciente poderá ser infectado. Também poderão ocorrer disfunções vasculares ou inflamações no pulmão.
Os custos são outro problema grave. Uma bolsa de sangue com 350 mililitros custa de R$ 300 a R$ 800. A maioria dos pacientes recebe de duas a três. Se o doente passa mais de sete dias no hospital, costuma receber pelo menos uma bolsa para compensar o sangue perdido em sucessivas coletas para exames.
“Não pretendo dizer que agora é proibido transfundir”, diz Ludhmila. “O importante é que o médico decida dar o sangue a partir da avaliação individual da condição do paciente, e não baseado num número mágico.” Uma pessoa com infarto agudo ou em choque (estado anormal de falta de oxigenação nos tecidos, que pode ser fatal) pode se beneficiar de sangue numa fase mais precoce.
Não pretendo desestimular as doações. Elas ainda são absolutas necessárias para salvar vítimas de acidentes, catástrofes e portadores de dezenas de doenças. Mas quem doa tem direito à informação. Tem direito de saber que o líquido vermelho que sai de seu corpo e rapidamente enche as bolsas plásticas está prestes a se transformar num produto valioso.
No círculo de profissionais que lidam com derivados do sangue, o plasma é chamado de ouro líquido. Há uma curiosa comparação entre o sangue e o petróleo. Ambos são fracionados em vários subprodutos. O mercado anual de petróleo é de 500 bilhões de dólares. O preço do barril bruto de petróleo é de U$ 25. O valor dos derivados contidos num barril é de U$ 45.
Embora o mercado anual de plasma seja bem inferior (20 bilhões de dólares), o sangue vale muito mais do que o petróleo. O preço de um barril de plasma bruto é de 16 mil dólares. O valor dos hemoderivados contidos num barril é de 70 mil dólares.
Sangue é um artigo caríssimo e raro na praça. Não faz sentido, portanto, que iniciativas capazes de reduzir a necessidade de transfusões em cirurgias sejam pouco conhecidas e difundidas.
Recentemente contei aqui o exemplo da cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar. Ela coordena a UTI cirúrgica do InCor e a UTI cardiológica do Sírio-Libanês, em São Paulo. E também a UTI do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Quando alguém precisa passar por uma cirurgia demorada (acima de três horas de duração), quase sempre recebe uma transfusão de sangue. O objetivo é compensar a perda sanguínea que ocorre durante o procedimento. As transfusões são muito comuns em cirurgias cardíacas como ponte de safena, troca de válvula e transplantes.
Se a quantidade de hemoglobina (proteína responsável pelo transporte de oxigênio para os tecidos) cai a níveis inferiores a 10 gramas por decilitro de sangue, o cirurgião pede uma transfusão. Os médicos não se perguntavam de onde havia saído esse limite. Ludhmila decidiu investigar o procedimento em seu doutorado, orientado por José Otávio Auler Jr., na Universidade de São Paulo. Descobriu que ele se justifica pela tradição – e não pelo embasamento científico.
A história é antiga. Em 1934, o americano John Lundy criou na Clínica Mayo o primeiro banco de sangue do mundo. Em 1942, ele propôs o limite de 10 g/dL baseado na observação de seus pacientes. Desde então a recomendação vem passando de geração em geração.
“Não podemos continuar fazendo medicina em 2011 baseados num relato de 1942”, afirma Ludhmila. Para colocar a recomendação à prova, ela realizou um estudo com 512 pacientes do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Eram doentes graves, com perfil semelhante (tinham diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca), que foram submetidos a cirurgias cardíacas.
Metade do grupo recebeu sangue quando o nível de hemoglobina caiu a 10 g/dL. A outra metade só passou pela transfusão quando o índice ficou abaixo de 7 g/dL. O que ela comprovou? Os doentes que receberam menos sangue se recuperaram tão bem quanto os que receberam mais sangue.
Uma segunda comparação (pacientes graves que receberam sangue versus pacientes que não receberam sangue, por estar com índices entre 7 g/dL e 10 g/dL) revelou que a transfusão aumenta em 20% a taxa de mortalidade e de complicações clínicas a cada bolsa de sangue recebida. O trabalho sugere que, pelo menos nos casos estudados, quanto menos sangue se receber, melhor. A pesquisa foi publicada em outubro no Journal of the American Medical Association com elogios no editorial.
O excesso de transfusões aumenta o risco de infecções por bactérias ou vírus. Nem todos os bancos fazem o teste rápido do HIV. Se o doador estiver na janela imunológica (período que o organismo leva, a partir de uma infecção, para produzir anticorpos que possam ser detectados por exames), o paciente poderá ser infectado. Também poderão ocorrer disfunções vasculares ou inflamações no pulmão.
Os custos são outro problema grave. Uma bolsa de sangue com 350 mililitros custa de R$ 300 a R$ 800. A maioria dos pacientes recebe de duas a três. Se o doente passa mais de sete dias no hospital, costuma receber pelo menos uma bolsa para compensar o sangue perdido em sucessivas coletas para exames.
“Não pretendo dizer que agora é proibido transfundir”, diz Ludhmila. “O importante é que o médico decida dar o sangue a partir da avaliação individual da condição do paciente, e não baseado num número mágico.” Uma pessoa com infarto agudo ou em choque (estado anormal de falta de oxigenação nos tecidos, que pode ser fatal) pode se beneficiar de sangue numa fase mais precoce.
No InCor, o trabalho de Ludhmila já mudou o comportamento dos médicos. “Nossa conduta agora é evitar a transfusão”, diz Noedir Stolf, chefe do departamento de cirurgia cardíaca. Nas últimas décadas, Stolf realizou mais de 300 transplantes de coração. Segundo ele, a ideia de evitar as transfusões não é nova. “Nenhum outro estudo, porém, havia chegado a conclusões sólidas como esse.”
Toda transfusão traz em si um risco imediato ou tardio. São esperados três casos de reações indesejadas a cada mil transfusões realizadas. Segundo dados do sistema de hemovigilância da Anvisa, 80% das reações transfusionais são subnotificadas. Essa é uma boa razão para a busca de alternativas.
Um dos mais destacados pesquisadores nessa área é o professor Aryeh Shander, professor da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York. Em 2009, ele defendeu a busca de alternativas num artigo publicado na revista científica Critical Care Clinics.
“A crença que transfusão de sangue é um meio rápido e fácil de melhorar a condição do paciente e acelerar sua recuperação é mantida por muitos. Entretanto, encarando mais e mais evidências da falta de segurança e eficácia das transfusões de sangue, está se tornando mais claro que estas crenças são amplamente sem substância e carregadas de mitos”, afirmou Shander.
Nos últimos anos, a busca de formas de reduzir a necessidade de transfusões de sangue tornou-se um dos assuntos mais quentes da ciência médica. Muitas das pesquisas foram estimuladas por doentes que se recusavam a receber sangue por razões religiosas. É o caso dos Testemunhas de Jeová. Ao observar como o organismo dessas pessoas se comportava sem receber transfusões, os médicos puderam testar novos limites e encontrar saídas para um problema que extrapola as crenças religiosas. Um problema que é de todos nós.
O avanço da ciência tem demonstrado que não há razão médica para insistir em dar sangue ao paciente nos casos em que ele não é imprescindível. Talvez exista uma razão financeira. Alguém pode estar lucrando (e muito) com o desperdício de sangue. É importante que você saiba: se precisar de sangue, vai pagar caro por ele. Seja em forma de dinheiro vivo, seja em forma de impostos que sustentam o SUS.
Toda transfusão traz em si um risco imediato ou tardio. São esperados três casos de reações indesejadas a cada mil transfusões realizadas. Segundo dados do sistema de hemovigilância da Anvisa, 80% das reações transfusionais são subnotificadas. Essa é uma boa razão para a busca de alternativas.
Um dos mais destacados pesquisadores nessa área é o professor Aryeh Shander, professor da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York. Em 2009, ele defendeu a busca de alternativas num artigo publicado na revista científica Critical Care Clinics.
“A crença que transfusão de sangue é um meio rápido e fácil de melhorar a condição do paciente e acelerar sua recuperação é mantida por muitos. Entretanto, encarando mais e mais evidências da falta de segurança e eficácia das transfusões de sangue, está se tornando mais claro que estas crenças são amplamente sem substância e carregadas de mitos”, afirmou Shander.
Nos últimos anos, a busca de formas de reduzir a necessidade de transfusões de sangue tornou-se um dos assuntos mais quentes da ciência médica. Muitas das pesquisas foram estimuladas por doentes que se recusavam a receber sangue por razões religiosas. É o caso dos Testemunhas de Jeová. Ao observar como o organismo dessas pessoas se comportava sem receber transfusões, os médicos puderam testar novos limites e encontrar saídas para um problema que extrapola as crenças religiosas. Um problema que é de todos nós.
O avanço da ciência tem demonstrado que não há razão médica para insistir em dar sangue ao paciente nos casos em que ele não é imprescindível. Talvez exista uma razão financeira. Alguém pode estar lucrando (e muito) com o desperdício de sangue. É importante que você saiba: se precisar de sangue, vai pagar caro por ele. Seja em forma de dinheiro vivo, seja em forma de impostos que sustentam o SUS.
Hemosul espera aumentar em 13% doação de sangue
Foto: Divulgação |
Hemosul tem conseguido suprir meta mas tem deficiência no tipo de sangue negativo |
O Centro de Hematologia e Hemoterapia de Mato Grosso do Sul (Hemosul) acredita que as doações de sangue no Estado podem aumentar a partir da criação do novo Regulamento Técnico de Procedimentos Hemoterápicos, com novos critérios para a doação de sangue no Brasil. A portaria nº 1.353 do Ministério da Saúde com essa regulamentação foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 14.
A gerente técnica do Hemosul, Marina Sawada Torres, informa que o órgão estadual já tomou conhecimento da nova portaria. “Esperamos que a medida aumente em torno de 13% as doações de sangue no Estado. Temos conseguido suprir nossa meta com a ajuda de divulgação na imprensa. Porém, a maior deficiência é do tipo de sangue negativo”, diz Marina Torres.
Nova portaria
Segundo informações do Ministério da Saúde, a nova legislação estabelece diretrizes voltadas ao aumento da segurança para quem doa e recebe sangue no País e inova ao ampliar a faixa etária para candidatos à doação. Com as medidas, a previsão do Ministério é que aproximadamente 14 milhões de brasileiros sejam incentivados a serem doadores em potencial.
A faixa atinge agora jovens entre 16 e 17 anos (mediante autorização dos pais ou responsáveis) e ampliação para idosos com até 68 anos.
A Portaria 1.353 determina, ainda, que a orientação sexual (heterossexualidade, bissexualidade, homossexualidade) não deve ser usada como critério para a seleção de doadores de sangue, por não constituir risco em si própria. Ou seja, não deverá haver, no processo de triagem e coleta de sangue, manifestação de preconceito e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, hábitos de vida, atividade profissional, condição socioeconômica, raça, cor e etnia.
Os avanços estabelecidos no novo Regulamento Técnico de Procedimentos Hemoterápicos são resultados de consulta pública iniciada em 2010, e que recebeu 500 contribuições de especialistas do setor e da sociedade civil.
Faixa etária
A partir desta nova legislação, jovens entre 16 e 17 anos (autorizados pelo responsável) e idosos com até 68 anos também poderão doar sangue no Brasil. Pela norma anterior, a doação era autorizada para pessoas com idade entre 18 e 65 anos.
Com a ampliação da faixa etária para doação, a expectativa do governo federal é ampliar o volume de sangue coletado no Brasil que, atualmente, chega a 3,5 milhões de bolsas por ano. Esta quantidade é considerada suficiente; porém, o esforço do Ministério da Saúde é atingir os padrões recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS): cerca de 5,7 milhões de bolsas de sangue por ano. Para o próximo ano, a meta é que o País registre, anualmente, quatro milhões de bolsas.
A ampliação da faixa etária para doação de sangue é baseada em evidências científicas, comprovadas por estudos internacionais. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Associação Americana de Sangue (ABB) já havia aprovado que jovens com idade entre 16 e 17 anos e também idosos com mais de 65 anos pudessem doar. Estas novas diretrizes relacionadas à idade dos doadores também já vigoram em países europeus.
Humanização
De acordo com o Ministério da Saúde, a Portaria 1.353 estabelece medidas voltadas à humanização nos serviços de hemoterapia a partir da capacitação de profissionais da Rede Brasileira de Hemocentros (Hemorrede). “O objetivo é melhorar a atenção e o acolhimento dos candidatos à doação”, explica o coordenador de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez.
Desde 2004, o Ministério da Saúde é responsável por normatizar e coordenar a política de sangue, componentes e hemoderivados no país. A Portaria 1.353 aprimora e substitui a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 153/04, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela regulação sanitária dos serviços de hemoterapia.
Quem pode doar sangue
Podem ser doadores de sangue candidatos com:
- Aspecto saudável e declaração de bem-estar geral;
- Idade entre 18 anos completos e 67 anos, 11 meses e 29 dias. Podem ser aceitos candidatos com idade de 16 e 17 anos, com o consentimento formal do responsável legal. E, em caso de necessidades tecnicamente justificáveis, o candidato cuja idade seja inferior a 16 anos ou superior a 68 anos somente poderá ser aceito após análise pelo médico do serviço de hemoterapia.
- Peso mínimo de 50 kg. Candidatos com peso abaixo de 50 Kg podem ser aceitos após avaliação médica e desde que respeitados critérios específicos estabelecimentos na Portaria 1.353/11.
Mato Grosso do Sul: Santa Casa volta a fazer transplantes de coração
Foto: DIVULGAÇÃO |
Na Central Estadual de Transplantes há 14 pacientes cadastrados à espera de coração |
Depois de seis anos, Campo Grande voltará a realizar transplantes de coração. A boa notícia foi dada ao Correio do Estado pelo chefe da equipe de transplantes cardíacos da Santa Casa, doutor João Jazbik, que estabeleceu o prazo médio de um mês para a retomada dos procedimentos. De acordo com o cirurgião, os novos Centros de Tratamento Intensivo (CTIs) geral, cardíaco e de transplante cardíaco do hospital estarão prontos até a segunda quinzena de julho. "A reforma das salas está em fase final e todos os equipamentos novos já chegaram", relata.
A retomada dos transplantes de coração em Campo Grande chega junto com o anúncio de um projeto nacional que pretende capacitar centros de transplantes em 14 Estados, inclusive Mato Grosso do Sul, além de melhorar a remuneração das equipes. Elaborado pelo Comitê Estratégico para Desenvolvimento de Novos Centros de Transplantes, órgão consultivo criado pelo Ministério da Saúde, o projeto propõe treinar equipes nos 14 Estados que hoje não realizam transplantes de forma regular para fazer a captação de órgãos e capacitar médicos para a realização da cirurgia de transplante.
Com 40 anos de profissão, 17 mil cirurgias e 16 transplantes de coração no currículo, João Jazbik já foi convidado pelo cirurgião Silvano Raia, coordenador executivo do comitê, para assumir a coordenação estadual do projeto. O texto deve ser submetido à avaliação do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, nos próximos dias e, uma vez implantado, fará com que o Estado receba mais recursos para capacitação de profissionais e aquisição de remédios e equipamentos. "Não tenho dúvida de que voltaremos a ser a 6ª cidade do país em transplante de coração, como fomos em 2000", espera Jazbik.
Hoje, há 14 pacientes cadastrados na Central Estadual de Transplantes a espera de coração. Um deles é a dona Fátima Pereira de Souza, de 44 anos, diagnosticada com cardiopatia em 2002. Fátima toma sete comprimidos por dia, gasta cerca de R$ 150 por mês com os remédios que o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece e, apesar de ter um quadro estável e conseguir levar uma vida relativamente normal, recebeu com alegria a notícia da retomada dos transplantes. "Dá um fôlego novo, sem dúvida", comemora.
O último transplante de coração realizado pela Santa Casa aconteceu em 2005 e, de lá para cá, o centro, que já foi referência nacional neste tipo de cirurgia, simplesmente parou. "Falta vontade política, falta vontade por parte dos colegas médicos, falta lutarmos por um ideal estabelecido. A retomada dos transplantes cardíacos só será possível graças a uma doação feita pelo senhor Antônio de Moraes e meses de trabalho em busca dos melhores preços de equipamentos", esclarece Jazbik.
Antes de voltar a realizar o procedimento, a Santa Casa precisa reaver a autorização junto ao Ministério da Saúde, suspensa desde o ano passado. "A autorização precisa ser renovada a cada dois anos. Em 2010, não recebemos os documentos necessários e a autorização está suspensa", explica a coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Claire Miozzo. De acordo com Jazbik, o CTI precisa estar pronto para passar por avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Só então os documentos serão encaminhados à Central. "Eu mesmo realizo esses trâmites e garanto que o processo é ágil", esclarece o médico.
Rins
Único hospital do Estado autorizado a fazer transplantes de rins, a Santa Casa também já foi referência neste tipo de cirurgia, chegando a realizar 60 procedimentos por ano. Agora a situação é outra: de janeiro para cá, apenas cinco transplantes de rim foram realizados, média de menos de uma cirurgia por mês. "A situação é caótica. De 2005 para cá, a Santa Casa praticamente parou", lamenta José Roberto Ost, paciente renal que está na fila para transplante há seis anos.
José Roberto está entre os 390 pacientes aptos a transplante de rim cadastrados na Central Estadual, um número que só faz crescer. No final do ano passado, a Santa Casa encaminhou um ofício à Central Estadual de Transplantes comunicando que só realizaria transplantes de rim entre pessoas vivas. "Só neste ano, ofertamos seis rins de cadáveres para outros Estados. Isso significa que a captação funciona muito bem, o problema está no transplante", explica Claire.
Procurada para explicar a situação, a assessoria de imprensa da Santa Casa informou que a licença para realizar os transplantes de cadáveres está vencida. "Este tipo de procedimento precisa de uma autorização específica da vigilância sanitária, que venceu. Já estamos viabilizando a renovação da licença", garantiu a assessoria do hospital.
Córneas
Mas nem tudo são espinhos. Se tem um tipo de transplante que funciona extremamente bem em Mato Grosso do Sul, é o de córneas. Hoje, 20 pessoas estão na fila à espera do tecido, mas não devem esperar muito tempo. "A fila para o transplante de córnes não é grande porque todo o processo funciona muito bem: temos muitas doações, muitas equipes de médicos e estabelecimentos aptos para realizar o procedimento", explica Claire.
Em Campo Grande, o hospital São Julião atende pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e outras três clínicas atendem pacientes particulares ou de convênios. Também há uma clínica particular em Três Lagoas autorizada a realizar o procedimento. "O interesse para realizar transplantes precisa partir da clínica. Ela precisa montar estrutura e equipe e, só então, buscar a autorização do Ministério da Saúde", esclarece a coordenadora da Central.
O que beneficia o interesse pela realização de transplantes de córneas são alguns detalhes importantes. Córneas são tecidos que podem ser retirados do cadáver até seis horas após o óbito, o que confere à equipe médica mais tempo para convencer a família a autorizar a doação. Já órgãos sólidos, como coração e rins, precisam ser retirados do doador com morte encefálica, ainda no CTI. "A família, muitas vezes, vê o coração batendo artificialmente no CTI e não tem coragem de autorizar a retirada dos órgãos", ilustra Claire.
De janeiro até agora, Mato Grosso do Sul ofertou 13 córneas, três corações e um fígado para outros Estados. Quando um doador é encontrado e não há possibilidade de transplante no Estado de origem, a Central Nacional, em Brasília, é acionada. Ela entra em contato com as centrais estaduais e o órgão, ou tecido, viaja em encontro do futuro receptor. Nenhum hospital de Mato Grosso do Sul realiza transplante de fígado; não há estabelecimento nem equipe autorizada pelo Ministério da Saúde.
Humanidade estará sempre exposta a novos surtos, diz infectologista
Na história da humanidade, são muitos os capítulos dedicados às guerras contra micro-organismos patógenos. Desde que o Homo sapiens se fixou no campo e domesticou os animais, bactérias e vírus encontraram um novo hospedeiro que, despreparado imunologicamente, tornou-se presa fácil.
As bactérias já dominavam a Terra há bilhões de anos, sobrevivendo às mais inóspitas condições, enquanto que aquela nova espécie tinha acabado de concluir seu processo de evolução. Era uma luta desigual.
Fósseis pré-históricos não deixam dúvidas de que, quando não morriam em acidentes, os primeiros homens modernos eram vitimados por infecções. As marcas podem ser observadas em ossos e dentes consumidos por micro-organismos. A cosmopolita Roma derrotava impérios, mas não conseguiu enfrentar seres invisíveis. Com um fluxo enorme de estrangeiros e uma população confinada em habitações imundas, a cidade eterna foi um centro mundial de epidemias.
A espada do bravo Marco Aurélio, célebre filósofo e estadista destemido, não conseguiu atingir o micro-organismo que o matou, em 180 d.C. Não se sabe o nome da doença, mas, pela descrição do médico Claudio Galeno, tratava-se de uma infecção que devastou Roma por 15 anos.
Na Idade Média, aumentaram os aglomerados urbanos e, com eles, a suscetibilidade a doenças patógenas. Pessoas amontoadas em péssimas condições de higiene e nenhum saneamento eram um convite a vírus, fungos e bactérias. Nenhuma epidemia foi tão terrível quanto a peste negra, que surgiu em 1347 e tomou conta da Europa em pouco tempo.
Nada menos que um terço da população do continente morreu. Os que sobreviveram tinham de lidar com outra ameaça: a hanseníase, então chamada de lepra.
Não houve Renascimento, Iluminismo e Revolução Industrial que colocasse fim à batalha dos homens contra as pragas. A penicilina, descoberta por acaso pelo microbiologista Alexander Fleming, no início do século 20, mudou, contudo, o placar. A humanidade, enfim, parecia estar no controle. Ninguém mais morreria de infecções ou doenças como tuberculose, sífilis e pneumonia.
A sensação de vitória, porém, era falsa. Logo surgiram vírus letais como o HIV e o H1N1, para novamente desafiar a medicina. Em maio, uma velha conhecida, a E.coli, surpreendeu o mundo. Uma cepa raríssima matou 47 pessoas na Europa e pode não estar restrita ao Velho Continente. Na quinta-feira, a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) divulgou um comunicado afirmando que a origem do surto pode estar em sementes importadas do Egito.
Em entrevista ao Correio, o especialista em superbactérias Guilherme Mendes, da Life Technologies, empresa que sequenciou o genoma da E.coli, com a Universidade de Münster, na Alemanha, afirma que surtos semelhantes podem voltar a surpreender a humanidade.
O que fez essa cepa ser tão letal? É possível que outras cepas da E. Coli também surjam no futuro?
O processo que gerou essa cepa tão agressiva, na verdade, ocorre naturalmente por meio da recombinação de parte do material genético (DNA) de duas ou mais cepas distintas. O que fez dessa cepa tão patogênica e letal foi a combinação genética final que ela adquiriu. Esse processo ocorre naturalmente e é uma das maiores fontes geradoras de variabilidade desses micro-organismos. Por se tratar de um processo frequente e natural, é possível, sim, que surjam outras cepas de E. coli e que voltem a nos surpreender.
De que forma a genética está ajudando a combater os micro-organismos?
A maioria dos micro-organismos não precisa ser combatida, muito pelo contrário, dependemos deles em vários processos e muitas vezes eles são os responsáveis pela nossa defesa. Por exemplo, a nossa microbiota intestinal, popularmente conhecida como “flora intestinal”, impede que muitos micro-organismos causadores de doenças se instalem no nosso organismo. Com relação aos micro-organismos patogênicos, os métodos genéticos estão intimamente ligados à identificação desses micro-organismos, entendimento do seu comportamento, sua virulência e, finalmente, sua origem. Recentemente, grupos de pesquisa, apoiados pela Life Technologies, utilizaram testes genéticos em tempo recorde, apenas três dias, para identificar (sequenciar) e desenvolver testes ainda mais rápidos (PCR em tempo real: Polymerase Chain Reaction, Reação em Cadeia da Polimerase em português) para a detecção das cepas de E. coli responsáveis pelo surto na Europa. Essa medida foi fundamental para a contenção do surto, que poderia tomar proporções globais.
Cada vez mais, as bactérias mostram-se resistentes a antibióticos. Não está na hora de a indústria farmacêutica buscar uma nova substância capaz de combatê-las com eficácia?
A busca por antibióticos e novas drogas movimentam bilhões de dólares por ano. Existem centenas de grupos de pesquisa trabalhando nisso, no entanto o desenvolvimento dessas drogas não é trivial. É difícil pensar em um antibiótico definitivo, mesmo porque existe a evolução desses micro-organismos com o uso dessas drogas. Há algumas décadas, a ampicilina era a solução para quase todos os problemas de infecção, hoje, já observamos muitos casos de micro-organismos resistentes a ela e seus derivados. Nesse sentido, o melhor mecanismo para contenção de surtos como o que ocorreu na Europa é ter um teste rápido, preciso e acessível para identificar novos micro-organismos e tomar as providências cabíveis. O uso do sequenciador Ion Torrent Personal Genome Machine possibilitou a identificação da superbactérica E. coli.
Muitas pessoas têm medo de hospitais hoje em dia por causa de infecções. Esse temor procede?
Nos hospitais, o uso de antibióticos é frequente e, por esse motivo, os micro-organismos que sobrevivem neste ambiente são aqueles adaptados aos antimicrobianos, ou seja, são as cepas resistentes. Os indivíduos sadios que frequentam um hospital têm baixíssimo risco de serem infectados por essas cepas resistentes, pois elas têm baixa capacidade de profileração, são fracas, quando comparadas às cepas que já habitam a flora natural de um indivíduo saudável. Essa “competição pelo domínio da flora” é a seleção natural, onde vence o mais forte. Os pacientes imunocomprometidos e em tratamento com antimicrobianos possuem a flora natural debilitada, pois são sensíveis ao tratamento, o que propicia um ambiente favorável para que as bactérias resistentes ganhem essa competição. Os indivíduos sadios não devem temer o ambiente hospitalar.
Dos micro-organismos que hoje ameaçam a saúde, quais são os mais preocupantes?
Existem muitos micro-organismos que podem vir a ser uma ameaça, dentre eles podemos citar alguns vírus como influenza (vírus causador da gripe) devido à alta taxa de mutação, rápida proliferação e diversidade de vias de contaminação. Tem a Salmonella enterica e a E.coli, que são organismos relacionados a saneamento básico, e os Enterococcus spp e Staphylococcus spp, que estão muito relacionados à multirresistência a drogas e são causadores de grandes casos de infecção hospitalar.
Quando houve o surto do vírus H1N1, o Brasil conseguiu responder rapidamente. O senhor acha que o país está bem preparado para enfrentar epidemias?
Uma epidemia nada mais é do que uma guerra e para enfrentá-la precisamos de um bom exército, boas armas e fundamentalmente uma boa inteligência para articular estratégias. Muito já se avançou, mas o Brasil ainda precisa investir nessas ferramentas que capacitarão nossos profissionais a enfrentar, de forma rápida e efetiva, essas ameaças. Os investimentos devem contemplar não apenas as ferramentas mas também a formação dos profissionais da saúde, pesquisadores e administradores para que se tenha uma equipe integrada, preparada e capacitada para grandes desafios. Certamente, com esses investimentos, o Brasil estará muito bem preparado para qualquer batalha.
A história da humanidade é marcada por períodos de epidemias devastadoras. O senhor acredita que um dia será possível se livrar dessas?
A velocidade e facilidade de deslocamento no mundo hoje permite, por exemplo, que uma pessoa pegue um avião no Brasil e em menos de 24 horas esteja do outro lado do mundo, ou ainda que em menos de quarenta e oito horas estejamos consumindo no Brasil uma hortaliça produzida por um agricultor no interior da Europa. Isso sem dúvida é fantástico, porém, gera um alerta, pois, com essa rapidez, aumenta também a velocidade de propagação de doenças. Os micro-organismos estão evoluindo conosco há milhares de anos, desenvolvendo mecanismos de sobrevivência e nós, mecanismos de defesa, no entanto algumas vezes essa relação se desequilibra. Acredito que epidemias devastadoras possam diminuir e até mesmo serem controladas mais rapidamente devido a essa velocidade de comunicação.
Qual o papel da prevenção nas epidemias? O Brasil consegue
fazer bem esse trabalho?
A prevenção é sempre a melhor estratégia e deve ser prioridade em qualquer gestão de saúde pública. O governo brasileiro tem desenvolvido um bom trabalho na prevenção de algumas doenças, com importantes campanhas de vacinação e ações de divulgação, mas muito ainda precisa ser feito e não apenas por parte do governo, mas principalmente por parte da população. Por exemplo, basta vermos que por mais propagandas e ações que sejam tomadas, a dengue está aí todos os anos matando e adoecendo a população. O Brasil está num ótimo caminho mas precisa investir muito ainda em saúde, tecnologia e principalmente, educação.
As bactérias já dominavam a Terra há bilhões de anos, sobrevivendo às mais inóspitas condições, enquanto que aquela nova espécie tinha acabado de concluir seu processo de evolução. Era uma luta desigual.
Fósseis pré-históricos não deixam dúvidas de que, quando não morriam em acidentes, os primeiros homens modernos eram vitimados por infecções. As marcas podem ser observadas em ossos e dentes consumidos por micro-organismos. A cosmopolita Roma derrotava impérios, mas não conseguiu enfrentar seres invisíveis. Com um fluxo enorme de estrangeiros e uma população confinada em habitações imundas, a cidade eterna foi um centro mundial de epidemias.
A espada do bravo Marco Aurélio, célebre filósofo e estadista destemido, não conseguiu atingir o micro-organismo que o matou, em 180 d.C. Não se sabe o nome da doença, mas, pela descrição do médico Claudio Galeno, tratava-se de uma infecção que devastou Roma por 15 anos.
Na Idade Média, aumentaram os aglomerados urbanos e, com eles, a suscetibilidade a doenças patógenas. Pessoas amontoadas em péssimas condições de higiene e nenhum saneamento eram um convite a vírus, fungos e bactérias. Nenhuma epidemia foi tão terrível quanto a peste negra, que surgiu em 1347 e tomou conta da Europa em pouco tempo.
Nada menos que um terço da população do continente morreu. Os que sobreviveram tinham de lidar com outra ameaça: a hanseníase, então chamada de lepra.
Não houve Renascimento, Iluminismo e Revolução Industrial que colocasse fim à batalha dos homens contra as pragas. A penicilina, descoberta por acaso pelo microbiologista Alexander Fleming, no início do século 20, mudou, contudo, o placar. A humanidade, enfim, parecia estar no controle. Ninguém mais morreria de infecções ou doenças como tuberculose, sífilis e pneumonia.
A sensação de vitória, porém, era falsa. Logo surgiram vírus letais como o HIV e o H1N1, para novamente desafiar a medicina. Em maio, uma velha conhecida, a E.coli, surpreendeu o mundo. Uma cepa raríssima matou 47 pessoas na Europa e pode não estar restrita ao Velho Continente. Na quinta-feira, a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) divulgou um comunicado afirmando que a origem do surto pode estar em sementes importadas do Egito.
Em entrevista ao Correio, o especialista em superbactérias Guilherme Mendes, da Life Technologies, empresa que sequenciou o genoma da E.coli, com a Universidade de Münster, na Alemanha, afirma que surtos semelhantes podem voltar a surpreender a humanidade.
O que fez essa cepa ser tão letal? É possível que outras cepas da E. Coli também surjam no futuro?
O processo que gerou essa cepa tão agressiva, na verdade, ocorre naturalmente por meio da recombinação de parte do material genético (DNA) de duas ou mais cepas distintas. O que fez dessa cepa tão patogênica e letal foi a combinação genética final que ela adquiriu. Esse processo ocorre naturalmente e é uma das maiores fontes geradoras de variabilidade desses micro-organismos. Por se tratar de um processo frequente e natural, é possível, sim, que surjam outras cepas de E. coli e que voltem a nos surpreender.
De que forma a genética está ajudando a combater os micro-organismos?
A maioria dos micro-organismos não precisa ser combatida, muito pelo contrário, dependemos deles em vários processos e muitas vezes eles são os responsáveis pela nossa defesa. Por exemplo, a nossa microbiota intestinal, popularmente conhecida como “flora intestinal”, impede que muitos micro-organismos causadores de doenças se instalem no nosso organismo. Com relação aos micro-organismos patogênicos, os métodos genéticos estão intimamente ligados à identificação desses micro-organismos, entendimento do seu comportamento, sua virulência e, finalmente, sua origem. Recentemente, grupos de pesquisa, apoiados pela Life Technologies, utilizaram testes genéticos em tempo recorde, apenas três dias, para identificar (sequenciar) e desenvolver testes ainda mais rápidos (PCR em tempo real: Polymerase Chain Reaction, Reação em Cadeia da Polimerase em português) para a detecção das cepas de E. coli responsáveis pelo surto na Europa. Essa medida foi fundamental para a contenção do surto, que poderia tomar proporções globais.
Cada vez mais, as bactérias mostram-se resistentes a antibióticos. Não está na hora de a indústria farmacêutica buscar uma nova substância capaz de combatê-las com eficácia?
A busca por antibióticos e novas drogas movimentam bilhões de dólares por ano. Existem centenas de grupos de pesquisa trabalhando nisso, no entanto o desenvolvimento dessas drogas não é trivial. É difícil pensar em um antibiótico definitivo, mesmo porque existe a evolução desses micro-organismos com o uso dessas drogas. Há algumas décadas, a ampicilina era a solução para quase todos os problemas de infecção, hoje, já observamos muitos casos de micro-organismos resistentes a ela e seus derivados. Nesse sentido, o melhor mecanismo para contenção de surtos como o que ocorreu na Europa é ter um teste rápido, preciso e acessível para identificar novos micro-organismos e tomar as providências cabíveis. O uso do sequenciador Ion Torrent Personal Genome Machine possibilitou a identificação da superbactérica E. coli.
Muitas pessoas têm medo de hospitais hoje em dia por causa de infecções. Esse temor procede?
Nos hospitais, o uso de antibióticos é frequente e, por esse motivo, os micro-organismos que sobrevivem neste ambiente são aqueles adaptados aos antimicrobianos, ou seja, são as cepas resistentes. Os indivíduos sadios que frequentam um hospital têm baixíssimo risco de serem infectados por essas cepas resistentes, pois elas têm baixa capacidade de profileração, são fracas, quando comparadas às cepas que já habitam a flora natural de um indivíduo saudável. Essa “competição pelo domínio da flora” é a seleção natural, onde vence o mais forte. Os pacientes imunocomprometidos e em tratamento com antimicrobianos possuem a flora natural debilitada, pois são sensíveis ao tratamento, o que propicia um ambiente favorável para que as bactérias resistentes ganhem essa competição. Os indivíduos sadios não devem temer o ambiente hospitalar.
Dos micro-organismos que hoje ameaçam a saúde, quais são os mais preocupantes?
Existem muitos micro-organismos que podem vir a ser uma ameaça, dentre eles podemos citar alguns vírus como influenza (vírus causador da gripe) devido à alta taxa de mutação, rápida proliferação e diversidade de vias de contaminação. Tem a Salmonella enterica e a E.coli, que são organismos relacionados a saneamento básico, e os Enterococcus spp e Staphylococcus spp, que estão muito relacionados à multirresistência a drogas e são causadores de grandes casos de infecção hospitalar.
Quando houve o surto do vírus H1N1, o Brasil conseguiu responder rapidamente. O senhor acha que o país está bem preparado para enfrentar epidemias?
Uma epidemia nada mais é do que uma guerra e para enfrentá-la precisamos de um bom exército, boas armas e fundamentalmente uma boa inteligência para articular estratégias. Muito já se avançou, mas o Brasil ainda precisa investir nessas ferramentas que capacitarão nossos profissionais a enfrentar, de forma rápida e efetiva, essas ameaças. Os investimentos devem contemplar não apenas as ferramentas mas também a formação dos profissionais da saúde, pesquisadores e administradores para que se tenha uma equipe integrada, preparada e capacitada para grandes desafios. Certamente, com esses investimentos, o Brasil estará muito bem preparado para qualquer batalha.
A história da humanidade é marcada por períodos de epidemias devastadoras. O senhor acredita que um dia será possível se livrar dessas?
A velocidade e facilidade de deslocamento no mundo hoje permite, por exemplo, que uma pessoa pegue um avião no Brasil e em menos de 24 horas esteja do outro lado do mundo, ou ainda que em menos de quarenta e oito horas estejamos consumindo no Brasil uma hortaliça produzida por um agricultor no interior da Europa. Isso sem dúvida é fantástico, porém, gera um alerta, pois, com essa rapidez, aumenta também a velocidade de propagação de doenças. Os micro-organismos estão evoluindo conosco há milhares de anos, desenvolvendo mecanismos de sobrevivência e nós, mecanismos de defesa, no entanto algumas vezes essa relação se desequilibra. Acredito que epidemias devastadoras possam diminuir e até mesmo serem controladas mais rapidamente devido a essa velocidade de comunicação.
Qual o papel da prevenção nas epidemias? O Brasil consegue
fazer bem esse trabalho?
A prevenção é sempre a melhor estratégia e deve ser prioridade em qualquer gestão de saúde pública. O governo brasileiro tem desenvolvido um bom trabalho na prevenção de algumas doenças, com importantes campanhas de vacinação e ações de divulgação, mas muito ainda precisa ser feito e não apenas por parte do governo, mas principalmente por parte da população. Por exemplo, basta vermos que por mais propagandas e ações que sejam tomadas, a dengue está aí todos os anos matando e adoecendo a população. O Brasil está num ótimo caminho mas precisa investir muito ainda em saúde, tecnologia e principalmente, educação.
Estudo condena medicamento Champix; Pfizer se defende
O medicamento Champix, prescrito para quem quer deixar de fumar, apresenta riscos cardiovasculares significativos, segundo um novo estudo, publicado nesta segunda-feira, e criticado pelo laboratório Pfizer, que comercializa o produto.
Segundo o estudo publicado na revista científica Canadian Medical Association Journal (CAMJ) e realizado com 8.000 pessoas que, em geral, não têm problemas cardíacos, o uso da molécula vareniclina (comercializada com o nome Champix) "está associado a um risco crescente de 72% das hospitalizações por acidentes cardiovasculares graves como um ataque ou uma arritmia cardíaca".
"Sabemos há anos que o Champix é um dos medicamentos com receita mais perigosos do mercado americano, basta observarmos os efeitos colaterais declarados", disse, em comunicado, o professor Curt Furberg, principal autor do estudo.
"O medicamento provoca perdas de memória, trastornos visuais, suicídios, estados de violência ou depressão e agrava os casos de diabetes", disse. "A esta lista, podemos, agora, agregar graves problemas cardiovasculares".
Após a publicação, a Pfizer rejeitou as acusações e criticou o método do estudo, especialmente "a maneira em que foram contados e classificados os acidentes cardiovasculares".
Secretaria de Saúde tem novos médicos
Médicos foram empossados na manhã desta terça-feira
Quarenta de três médicos tomaram posse na manhã desta terça-feira (05/07) em solenidade no auditório da sede da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Os novos profissionais, de diversas especialidades, passam agora a integrar o quadro de pessoal da SES e serão lotados nos hospitais regionais e no Hospital de Base.
O secretário adjunto de Saúde, Elias Miziara recepcionou os novos servidores juntamente com o subsecretário de Atenção à Saúde, Ivan Castelli. Segundo Miziara, os gestores esperam que os médicos recém-empossados cumpram o seu papel como lideres em suas equipes de trabalho e que sejam parceiros dos colegas.
A posse dos novos servidores faz parte do esforço da Secretaria de Saúde na recomposição do seu quadro de pessoal. Os profissionais são especialistas em acupuntura, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia vascular, endocrinologia e metabologia, gastroenterologia, otorrinolaringologia e urologia.
O início do exercício profissional dos novos servidores será no dia 11 de julho, também no auditório da Secretaria de Saúde, às 14h. Os profissionais empossados participam do Curso de Acolhimento de Novos Servidores da Secretaria de Saúde nos dias 12 e 13 das 8h às 12h no auditório da Fundação Hemocentro, próximo ao Hospital Regional da Asa Norte.
Garanta sua dose de gordura
A grávida deve acertar na escolha
Foto: Alex Silva
Uma dica dos nutricionistas é abrir espaço no prato para as chamadas gorduras mono e poli-insaturadas, que zelam pela saúde cardiovascular. Alimentos como o azeite de oliva, os peixes, as castanhas, as amêndoas e as nozes são os grandes fornecedores dessa dupla benéfica.
Por outro lado, a gestante deve banir da dieta a mal-afamada gordura trans, que ainda aparece em alguns alimentos e tem sido associada com a resistência à insulina, ou seja, pode servir de estopim para o diabete. Para não cair em ciladas, observe com atenção os rótulos.
Confira, agora, uma receita que contém nozes e azeite e foi desenvolvida pela nutricionista Vanderlí Marchiori. A sugestão é consumir no período da tarde, entre o almoço e o jantar.
Sanduíche de agrião e nozes
Rende 1 porção
Ingredientes
1/2 xícara de folhas de agrião picado
1 colher de sopa de nozes picadas
1 xícara de cottage
1 pitada de sal
1 fio de azeite
2 fatias de pão preto
Modo de preparo
Misture bem todos os ingredientes e coloque no pão preto.
Dicionário de Termos Médicos
http://www.efeitoscolaterais.blog.br/2009/03/dicionario-de-termos-medicos-doencas-sintomas-reacoes-ac/
AGNOCASTO
Resumo
O agnocasto é uma planta medicinal utilizada contra a dismenorréia (cólicas menstruais) que pode ser encontrada frequentemente em forma de cápsulas.
ObservaçõesCerca de 70% das mulheres em idade fertil sofrem de dores menstruais. O agnocasto pode ser uma boa alternativa. Planta muito interessante em caso de tensão pré-menstrual.
NomesNome em português: AgnocastoNome latim: Vitex agnus castus
Nome inglês: Monk's pepper tree
Nome francês: Gattilier, Agnus castus, poivre des moines, arbre au poivre, agneau chaste
Nome alemão: Mönchspfeffer
NomesNome em português: AgnocastoNome latim: Vitex agnus castus
Nome inglês: Monk's pepper tree
Nome francês: Gattilier, Agnus castus, poivre des moines, arbre au poivre, agneau chaste
Nome alemão: Mönchspfeffer
FamíliaVerbanaceae
Constituintes Casticina, iridóide (agnusídeo), óleos essenciais, óleos graxos
Partes utilizadas
Frutos
Frutos
Propriedades do agnocasto
Regulador do sistema hormonal na mulher (na região da hipófise e na regulação do hormônio LH), efeito ainda não comprovado, galactogogo (favorece a lactação). No entanto, acredita-se que determinados princípios ativos da planta têm um efeito dopaminérgico fixando os receptores D2 na dopamina.
Regulador do sistema hormonal na mulher (na região da hipófise e na regulação do hormônio LH), efeito ainda não comprovado, galactogogo (favorece a lactação). No entanto, acredita-se que determinados princípios ativos da planta têm um efeito dopaminérgico fixando os receptores D2 na dopamina.
Antigamente era considerado um antiafrodisíaco no homem e nos frades (lenda).
Indicações do agnocasto
Cólicas menstruais (tensão nos seios), tensão pré-menstrual (TPM), lactação, excesso de desejo sexual (em homens - o agnocasto diminuiu a libido), menopausa, endometriose.
Cólicas menstruais (tensão nos seios), tensão pré-menstrual (TPM), lactação, excesso de desejo sexual (em homens - o agnocasto diminuiu a libido), menopausa, endometriose.
Efeitos secundários
Ao comprar um medicamento, queira ler a bula e pedir orientações a um especialista.
Ao comprar um medicamento, queira ler a bula e pedir orientações a um especialista.
Contra-indicações
Evite o agnocasto se você estiver utilizando outros tratamentos hormonais, se estiver grávida, amamentando ou com câncer de mama. Ao comprar um medicamento, queira ler a bula e pedir orientações a um especialista. Interações do agnnocasto
Ao comprar um medicamento, queira ler a bula e pedir orientações a um especialista.
Ao comprar um medicamento, queira ler a bula e pedir orientações a um especialista.
Preparações à base de agnocasto
Comprimidos ou cápsulas em forma de extrato alcóolico de agnocasto
Onde cresce o agnocasto?
Esta planta pode ser encontrada na região mediterrânea.
Portugal: ICBAS desenvolve possível vacina contra a obesidade
A obesidade é considerada a "epidemia do século XXI" pela OMS Foto: Seridec
Uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) desenvolveu aquilo que poderá vir a ser uma vacina contra a obesidade.
Embora o conceito não seja novo, uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) está a desenvolver uma vacina contra a obesidade. Os resultados obtidos por esta tentativa liderada pelo instituto da Universidade do Porto (UP) são promissores. "Já se sabe desde há vários anos que a ghrelina é uma hormona produzida principalmente no estômago que estimula o apetite e diminui o gasto de calorias", explica a endocrinologista Mariana Monteiro, que lidera a equipa de investigação.
A maioria dos doentes obesos têm níveis de ghrelina baixos, mas estes aumentam "quando perdem peso com a dieta e o exercício físico", explica, o que causa o aumento do apetite e conduz à "recuperação do peso perdido".
Estudos anteriores já tinham demonstrado que, "quando a perda de peso ocorre após cirurgia bariátrica, os níveis de ghrelina não aumentavam com o emagrecimento", pelo que este é "um dos possíveis mecanismos para que a perda de peso se mantenha a longo prazo". Foi com base neste conhecimento que a equipa tentou desenvolver "uma forma farmacológica de bloquear os efeitos biológicos da ghrelina", especialmente quando esta "aumenta no contexto de uma dieta".
A vacina leva, assim, "ao desenvolvimento de anticorpos contra a ghrelina, impedindo-a de actuar", explica a investigadora. Desta forma, o apetite é diminuído e o gasto de calorias aumenta. "Esta vacina terapêutica poderá vir a ajudar um doente obeso a perder peso e a mantê-lo durante e após um programa adequado de dieta e exercício", entende.
Como tal, esta vacina terapêutica "não se destina à prevenção da obesidade". Para prevenir o aumento de peso é necessário promover "estilos de vida saudáveis". Um produto do género poderá chegar ao mercado, entende a investigadora, dentro de "dez a quinze anos".
A obesidade é considerada a "epidemia do século XXI" pela OMS. Portugal tem cerca de 13% de obesos, encontrando-se entre os países com maior obesidade. A obesidade é considerada um factor de risco, que pode conduzir a problemas cardíacos ou doenças como a diabetes ou o cancro da próstata.
http://jpn.icicom.up.pt/2011/06/20/icbas_desenvolve_possivel_vacina_contra_a_obesidade.html
Portugal: Ministro da Saúde indiano declara homossexualidade uma “doença”
Ghulam Nabi Azad diz que sexo entre homens não deveria acontecer (Fayaz Kabl/Reuters)
Ghulam Nabi Azad, ministro da Saúde na Índia, provocou um grande alvoroço ao afirmar, durante uma conferência sobre a SIDA, que o sexo entre pessoas do mesmo género é “anti-natural.”
Azad, para além de comparar a homossexualidade a uma patologia, declarou-a uma “doença proveniente de outros países” e sublinhou que “o sexo entre homens não deveria acontecer, embora seja uma realidade”. E acrescentou, citado pela BBC: “Apesar de não ser natural, existe no nosso país e está a expandir-se rapidamente, tornando-a difícil de detectar.”
O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh e a líder do Partido do Congresso, Sonia Gandhi, estavam presentes na conferência juntamente com vários ministros do Governo que, no entanto, saíram do colóquio antes das declarações feitas por Ghulam Nabi Azad.
Em 2009, a questão das relações homossexuais foi abordada durante um julgamento memorável, no qual ficou definido que ter relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo não é um acto criminoso. Segundo o Supremo Tribunal de Deli, a lei que existia há 148 anos, e que condenava actos homossexuais podendo levar a sentenças de 10 anos de prisão, era não só discriminatória como também “uma violação dos direitos fundamentais.”
No entanto, a discriminação homossexual continua generalizada e activistas pelos direitos dos homossexuais continuam a lutar contra esta tendência.
Uma dessas activistas, líder da campanha contra a SIDA da Fundação Naz, ficou chocada com as palavras do ministro da Saúde e respondeu que Azad “vive noutro planeta". E adiantou: "Ou ele está muito mal informado ou está a falar para um público muito restrito”.
Anjali Gopalan acrescentou também que é muito mais fácil um homem infectar uma mulher do que uma mulher infectar outra, uma vez que as mulheres casadas têm poucas possibilidades de negociar com os maridos a prática de comportamentos mais seguros.
Anand Grover, relator especial das Nações Unidas sobre a saúde, também criticou os comentários de Azad. Em declarações ao jornal "Hindustan Times", Grover disse: “É lamentável e totalmente inaceitável que um ministro deste estatuto ainda seja insensível a grupos vulneráveis como os homossexuais.”
Por seu turno, o activista dos direitos homossexuais Mohnish Kabir Malhotra considerou que Azad deve pedir desculpas imediatamente e declarou à AFP que “a homossexualidade faz parte da natureza e até tem referências em textos religiosos, por isso chamá-la anti-natural é um absurdo."
Assinar:
Postagens (Atom)