A cirurgia bariátrica, também conhecida como redução de estômago, é um procedimento cada vez mais popular para a reversão de obesidade, especialmente quando o problema já atingiu níveis críticos, como no caso dos obesos mórbidos.
Entretanto muitas pessoas encaram esse tipo de procedimento cirúrgico como algo “mágico”, ou seja, que apenas reduzir o estômago é o suficiente para diminuir radicalmente o excesso de gordura corporal. Não se engane: o procedimento só tem resultados positivos caso haja comprometimento do paciente com novos padrões de consumo alimentar. Afinal, diminuir o estômago é só parte de um tratamento amplo para um problema muito complexo.
“Para aqueles que precisam da cirurgia para conseguir emagrecer adequadamente em um tempo menor do que um indivíduo mais saudável, é preciso entender que a gordura acumulada durante anos não irá sumir de um dia para o outro”, explica a psicóloga Isabel Paegle, que atua em avaliações psicológicas dos pacientes do do Hospital CECMI, especializado em cirurgias deste tipo.
“O acompanhamento psicológico antes e após o procedimento é fundamental para a preparação e aceitação do indivíduo às mudanças de hábitos e estilo de vida”, completa Isabel.
Avaliação antes e depois da cirurgia
Durante o processo de avaliação anterior à cirurgia bariátrica, o trabalho do psicólogo é identificar parte das causas ou gatilhos envolvidos com o comportamento alimentar exagerado ou compulsivo. “Os indícios de transtornos que precisam de maior atenção são aqueles relativos aos transtornos alimentares como a bulimia nervosa, o binge, a compulsão e a síndrome do comer noturno”, aponta a psicóloga.
Além desses, os transtornos ansiosos, depressivos e do humor (como a bipolaridade) também devem ser observados, pois podem estar associados a uma alimentação fora do padrão.
“Às vezes o paciente não desenvolveu nenhum desses trantornos, mas já tem traços – ou seja um maior risco de desenvolvê-los – e isso nos traz uma outra questão: após a cirurgia eles podem aflorar de vez. Por isso, ter este histórico do paciente e estar alerta para um possível transtorno é importantíssimo”, diz Isabel.
Sem avaliação psicológica o risco de morte pode aumentar
A preocupação da psicóloga é baseada nos riscos reais dos pacientes. Afinal, após uma cirurgia desse porte, passa-se meses readequando o tipo de alimentação. Para se ter uma ideia, no primeiro mês após a cirurgia os pacientes se alimentam exclusivamente de comidas na forma líquida, em pouquíssima quantidade.
“Estes indivíduos podem se desestabilizar e transtornos ansiosos ou a bipolaridade podem aflorar de forma intensa. Caso isso ocorra e o paciente recém-operado tenha um acesso de alimentação compulsiva os riscos são gravíssimos. Pode haver uma fístula – rompimento do orgão operado – resultando em morte”, alerta a psicóloga.
Foi isso o que ocorreu, por exemplo, com o colunável Chiquinho Scarpa, em 2009. A ingestão descontrolada de suco de fruta o levou à UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
“Por isso é importante o acompanhamento pós-cirúrico também. Para que esse tipo de risco seja mitigado.Além disso o apoio familiar é fundamental para motivar quem se submete ao procedimento”, observa a especialista.
Pacientes com balão intragástrico também são avaliados
Para os pacientes com obesidade moderada, uma outra opção à cirurgia bariátrica é a utilização do balão intragástrico (que não necessita de cirurgia). Menos invasiva, a utilização desse tipo de procedimento também necessita de readaptações no padrão alimentar após a cirurgia.
Isso se dá principalmente pelo fato de que, após a retirada do balão, e sem alterações no estômago, os pacientes podem voltar a engordar rapidamente caso algum transtorno mental que não foi controlado ou resolvido aflore novamente.
“Pessoas acima do peso, e principalmente os obesos em todos os níveis, precisam de acompanhamento psicológico pois essa condição é, naturalmente, acompanhada de muitos traumas. Há o isolamento social, desgaste psicológico causado por bulliyng, grande insatisfação com o próprio corpo e baixa auto-estima”, pontua Isabel.
“Por tudo isso, essas cirurgias são apenas parte do tratamento do problema, que deve ser visto de forma global e multidisciplinar. E nesses casos a máxima ‘mente sã em corpo são’ não poderia ser mais correta”, finaliza.
Fonte O que eu tenho