Doença essencialmente biológica, ela é confundida com depressão e fibromialgia
Difícil de ser diagnosticada, a síndrome da fadiga crônica (SFC) é muito confundida com outros distúrbios, como fibromialgia e depressão, e cercada de mitos e concepções erradas.
“Médicos, psicólogos e outros profissionais travam debates intermináveis. Alguns alegam que são apenas nomes diferentes para a mesma doença. Outros acreditam que sejam distúrbios separados, embora com certo grau de sobreposição”, diz a psicóloga clínica e pesquisadora Kristina Dowing-Orr, que lutou durante anos contra a SFC.
“Do meu ponto de vista, são doenças distintas, isoladas. O problema é que as pessoas com SFC ou fibromialgia geralmente são tratadas como se tivessem depressão quando, na verdade, não tem”, completa Kristina, que depois de ser negligenciada pelos médicos, resolveu estudar o assunto e reuniu informações de suas pesquisas no livro “Vencendo a Fadiga Crônica – seu Guia Passo a Passo para o Restabelecimento Completo”, recém-lançado pela Summus Editorial.
Trata-se de uma doença essencialmente biológica, embora fatores psicológicos com frequência desempenhem papel central em precipitar e manter os sintomas. Em muitos casos o estresse está envolvido na questão – tanto como gatilho quanto como sustentador dos sintomas –, mas a patologia envolve mais do que estresse e cansaço físico.
Além disso, fatores emocionais, como depressão, também podem co-existir, devido a mudanças químicas no cérebro ou como reflexo da doença ou ainda reação à piora aguda da qualidade de vida.
“É uma doença cruel e debilitante, que provoca dores intensas, cansaço constante, infecções recorrentes, insônia, desânimo distúrbios gastrointestinais e incapacidade de executar as tarefas mais básicas do dia a dia”, explica Kristina.
Segundo a autora, uma das melhores definições do distúrbio é: síndrome que afeta os sistemas nervoso, imune e diversos outros sistemas e órgãos, resultando em exaustão crônica e/ou em numerosos sintomas potencialmente debilitantes.
“Devido à excessiva tensão física ou psicológica, o corpo entra em curto-circuito e é incapaz de se recuperar, deixando a pessoa em estado de enfermidade permanente”, diz.
A SFC pode afetar qualquer pessoa. Mas alguns estudos indicam que adolescentes e pessoas na faixa dos 40 anos são particularmente mais propensas a desenvolver o distúrbio. Outras pesquisas apontam que as mulheres são mais suscetíveis. Elas teriam de duas a quatro vezes mais probabilidade de desenvolver a síndrome, em comparação aos homens.
“A SFC é uma doença real. Não é produto da sua imaginação, nem sinônimo de depressão, nem necessidade patológica de compaixão ou atenção, nem medo de fadiga”, reforça Kristina.
Síndrome da fadiga crônica: problema começa pela definição
A síndrome é mais comum do que se imagina. Estima-se que mais de 250 mil pessoas no Reino Unido sofram do distúrbio, embora o professor Basant Puri, especialista do Hammersmith Hospital de Londres, sugira números entre 750 mil e 1,5 milhão para contabilizar o total de britânicos que têm a doença ou estão próximos de seus critérios diagnósticos. Nos Estados Unidos seriam 9 milhões de pessoas com SFC. Pesquisadores dizem, no entanto, que 80% das pessoas com a enfermidade nunca recebam o diagnóstico.
Problemas com o tratamento derivam principalmente do fato de que os sintomas são muito diversificados e não há exame diagnóstico definitivo.
Os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, ligados ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (equivalente ao Ministério da Saúde brasileiro) estabeleceram alguns critérios diagnósticos da enfermidade. A Síndrome da Fadiga Crônica é uma doença na qual a fadiga:
- Não é causada por qualquer doença do ponto de vista clínico
- É recente
- Está evidente há seis meses
- Não é causada por esforço excessivo (como exercícios intensos ou excesso de responsabilidades)
- Não é aliviada pelo descanso
- Está reduzindo consideravelmente a vida profissional, pessoal e acadêmica da pessoa
Além disso, também deve haver pelo menos quatro sintomas complementares:
- Perda cognitiva, inclusive problemas de memória e lapsos de concentração
- Dor de garganta
- Gânglios doloridos ou sensíveis (pescoço e axilas)
- Dores de cabeça inéditas ou mais fortes
- Músculos doloridos
- Sono que não elimina o cansaço
- Sintomas de pós-esforço que duram mais de um dia
- Articulações doloridas, sem inchaço ou vermelhidão
O primeiro passo para descobrir se você tem SFC é conferir se seus sintomas batem com os critérios oficiais da doença e procurar ajuda médica.
“A fim de se recuperar da SFC, você precisa tratar os sintomas biológicos, aprender estratégias eficazes para enfrentar o estresse e lidar com os fatores psicológicos que deram origem aos sintomas. Uma vez que o corpo tenha se curado, então – e só então – se considera recondicionar os músculos e melhorar a forma física e o vigor com exercícios”, resume Kristina.
Fonte IG