Procedimentos mais simples e em um tempo máximo de 24horas para internação fazem com que hospitais exijam de seus projetos arquitetônicos mais eficiência nos ambientes e no fluxo de pacientes
A desospitalização é um conceito cada vez mais presente no cotidiano do setor de saúde. A adoção de novos protocolos e tecnologias contribuem, consideravelmente, para que o tempo de internação seja cada vez menor. Outro fator que estimula para esse conceito é o hospital dia, que possui a arquitetura como grande aliada para a redução no tempo de permanência no ambiente hospitalar.
O conceito surgiu na década de 30, na extinta União Soviética, como hospital para o tratamento de pacientes psiquiátricos. Ao longo do tempo, esse tipo de unidade de saúde foi se espalhando pelo mundo e abrangendo outras especialidades até chegar ao Brasil, na década de 90. Atualmente, dos sete mil hospitais brasileiros, 365 são hospitais dia, sendo 41 públicos, sete filantrópicos e 317 privados, de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes).
Como grande aliada dessas instituições, cujo período de internação é de, no máximo, 24 horas, a arquitetura reúne conceitos de humanização do ambiente, organização do fluxo de pacientes e equipes assistenciais, além de tornar o edifício saúde uma construção atraente para a captação de clientes, sejam eles, médicos, operadoras ou pacientes.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar (Abdeh), Fábio Bitencourt, a arquitetura tem a função de abrigar novas tecnologias e oferecer elementos de conforto necessários para a recuperação do paciente. “O cuidar, o tratar e o curar não se processam apenas com medicamentos. Outras características fazem parte deste processo e a arquitetura, certamente, é uma delas, além de simplificar fluxos e eliminar barreiras que possam dificultar o acesso do usuário.”
Direcionado a um curto período de internação, os hospitais dia são dispostos de duas maneiras: em unidades próprias ou dentro de centros médicos. Independente do modelo, é importante que estas instituições tenham planejamento na hora de executar obras de adequação ou expansão.
Para esse tipo de unidade operar com eficiência, planejar as obras pensando no ambiente como um todo é fundamental. Entre os pontos contemplados pelo projeto, devem ser considerados: fluxo, acesso e humanização do ambiente. Para facilitar este fluxo, essas unidades devem ser alocadas na região térrea dos hospitais, vizinho aos ambulatórios, unidades diagnósticas e farmácias – um dos serviços do hospital dia é a aplicação de medicamentos, como quimioterapia, por exemplo , além da localização próximas aos estacionamentos, para que não ocorra a necessidade de circulação por todo o edifício.
Na contramão do cenário brasileiro, os hospitais dia norte-americanos investem significativamente em arquitetura para tornar as instituições mais atraentes para o consumidor de saúde e aumentar o fluxo de paciente. Segundo a arquiteta Patricia Biasi, que baseou sua tese de doutorado neste tema, é muito comum encontrar no País salas coletivas para infusão de medicamentos, por exemplo. “Nos EUA, uma das grandes diferenças nesses ambientes é a divisão das salas em pequenos compartimentos, sendo uma cortina hospitalar ou box, que criará um ambiente privativo de atendimento. Ou seja, você tem o salão coletivo que proporciona um acesso visual às equipes assistenciais, transmitindo mais segurança ao paciente, ao contrário dos quartos privativos.”
Como parte dos hospitais dia brasileiros estão alocados em instituições públicas, que não foram projetadas para comportar esse tipo de serviço, os problemas com manutenção, disposição espacial e falta de ambientes para armazenagem de insumos, por exemplo, são recorrentes.
Um dos maiores problemas apontado pelo estudo da arquiteta é a falta de dimensionamento do espaço hospitalar, que não comporta a crescente demanda para este tipo de serviço, ocasionado pela falta de planejamento em longo prazo por parte dessas unidades.
Outro fator que dificulta a criação de ambientes coletivos nos hospitais dia brasileiros é o comportamento de consumo do cliente de saúde. Para o presidente do Hospital Paulista, especializado em otorrinolaringologia e hospital dia, Braz Nicodemo Neto, o cliente mede a qualidade da instituição de saúde de acordo com ambiente onde é internado, e valoriza muito mais quartos individuais do que salas coletivas.
Há três anos, a entidade iniciou suas obras de adequação. Nicodemo explica que o principal objetivo do projeto arquitetônico foi a humanização do ambiente hospitalar, principalmente nos leitos de internação, e a criação da UTI como retaguarda para as equipes médicas. “Fizemos um esboço de uma sala coletiva, com diversos boxes, no entanto, achamos que a cultura do País ainda não está adequada a este padrão, pois o paciente quer conforto e um leito privativo”.
No plano diretor, elaborado pelo hospital, ainda está previsto um terceiro andar, que mudará a configuração da unidade, transferindo todo o setor de diagnóstico e ambulatório para este novo ambiente e deixando as atuais instalações, no térreo da unidade, para a construção de mais leitos.
“O Paulista é um hospital horizontal, o que facilita o fluxo das operações e reduz o custo. Nosso plano diretor está alinhado com o planejamento estratégico e pode sofrer alterações caso ocorra alguma mudança nos planos do hospital.”
Futuro
O modelo de atendimento oferecido por essas unidades se enquadra na tendência de desospitalização, que toma conta do mercado de saúde, seja por questão de custo operacional das unidades ou perfil de doenças . Bitencourt acredita que o número de hospitais dia deve triplicar nos próximos anos, enquanto o crescimento dos hospitais convencionais será menos significativo.
Para Patricia, a simplificação das tecnologias aplicadas às práticas assistenciais, da relação entre espaço e custo e de determinados procedimentos médicos proporcionará a recuperação do paciente em menor tempo, reduzindo também o risco de infecção. Isso permitirá a aplicação de uma arquitetura mais enxuta, simplificada e que priorize o fluxo de pessoas e a segurança do paciente em ambientes menores. “Esta lógica é o caminho para o futuro das instituições.”
Fonte SaudeWeb