Rejeição ao tratamento psicológico é mais comum entre os homens e pessoas de
idade
Uma médica anestesista com medo de enfrentar seus relacionamentos. Um
atirador de elite que erra o alvo e mata uma criança. Uma ginasta adolescente de
sonhos olímpicos que tenta encontrar o seu lugar no mundo. Um casal apaixonado,
porém agressivo.
Histórias como essas, que têm em comum o questionamento sobre a própria
intimidade, são o mote do programa Sessão de Terapia, que acaba de estrear no
canal por assinatura GNT. Inspirada no seriado israelense "Be Tipul", a série
aborda dilemas de cinco pacientes a partir do ponto de vista do terapeuta Theo
Cecatto.
Sucesso de audiência e crítica em mais de 30 países, o programa atrai a
curiosidade do público para a psicanálise e leva os analistas a acreditarem que
podem derrubar o preconceito que faz muitos brasileiros fugirem da prática.
Não admitir a necessidade de tratamento ou evitar seu início sempre foi algo
comum. Psicólogos dizem que o preconceito existe, principalmente, para homens e
pessoas mais velhas.
— A mulher é mas voltada para as questões subjetivas, como os afetos e
emoções. Os homens são mais duros e pragmáticos, além de serem orgulhosos —
explica o psicólogo Leonardo Della Pasqua, psicanalista e presidente da
Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul.
Segundo ele, muitos evitam o enfrentamento de forma inconsciente, como uma
forma de defesa. Acaba sendo comum, nesses casos, projetar o problema em algo
externo e culpar o chefe, a esposa ou irmão, em vez de reconhecer a
responsabilidade.
Ao afirmar que nem todo mundo precisa de terapia, o psicólogo admite: há quem
consiga sublimar aos problemas de maneira produtiva. O desafio de liberar
tensões por meio de atividades criativas ou esportivas, porém, não está ao
alcance de todas as pessoas.
Aliás, é geralmente quando estoura o problema que o paciente vai buscar
ajuda. Até lá, muitos ficam protelando (e sofrendo), segundo a psicóloga Daniele
Abreu. Ela explica que fazer terapia chega a ser um status elevado para
determinado público. Porém, a maioria tem uma resistência natural a enfrentar
seus dilemas existenciais. Essa dificuldade, diz a psicóloga, decorre de dois
fatores: um é o fato de que mexer em problemas requer desacomodar-se, e ninguém
quer sair da sua zona de conforto. O outro é a preguiça:
— Fazer terapia é algo doloroso. É preciso descortinar certas questões, e as
pessoas querem muito encontrar receitas prontas.
Apesar do movimento antimanicomial e da reintegração de pacientes
psiquiátricos, Daniele explica que o aspecto histórico influenciou diretamente o
preconceito. E que "embora tenha mudado essa cultura, ela ainda está muito
arraigada na nossa sociedade".
Ela afirma que, se por um lado, quem trata as dores da alma foi
historicamente tachado de louco e esteve submetido a internações em manicômios,
localizado em espaços isolados, por outro, o acesso à informação e a
popularização da psicologia em diversas linhas fez com que os mais jovens (ainda
que de espírito) não herdassem o mesmo preconceito.
Vozes contrárias - o que dizem aqueles que rejeitam
a terapia:
Paz interior
"Não sou contra terapia, só não vejo necessidade. A pessoa procura terapia
quando precisa resolver alguma questão pessoal. Eu busco outras formas. A mesa
de bar é uma estratégia. Porém, não é a única. Questões mal resolvidas podem ser
processadas com a leitura, com um isolamento reflexivo ou tomando café com um
amigo. Eu conto sobre minha vida, sem me abrir demais, acumulo opiniões,
exemplos e faço um filtro dos melhores conselhos. Não acho legal aquelas pessoas
que se tornam reféns do que diz o psicólogo."
Vinicius Simas, assessor político
Autoterapia
"Procuro entender minhas atitudes e achar soluções em mim. Na grande maioria
das vezes, encontro. Já fiz terapia em grupo e também individual — para poder
ter conhecimento de causa — mas, depois que experimentei, vi que a resposta está
em nós mesmos. O terapeuta não vai te julgar de forma tão dura, afinal tem que
tratar bem o cliente. Ele sempre tem uma frase pronta e confortável para te
dizer. Quando contamos nossos problemas para um amigo, temos um ônus, pois
certamente vamos receber um feedback, seja ele o que queremos ouvir ou não."
João Pio de Miranda Neto, inspetor que equipamentos petroquímicos
Exercício reflexivo
"Tentei três vezes, mas realmente acho desnecessário. Se a pessoa fica
triste, em vez de fazer um esporte ou melhorar a qualidade de vida, vai pagar um
estranho pra dizer algo que seria capaz de pensar sozinha. Acredito que a
química liberada pelo exercício é meio caminho andado. Tenho muita convicção de
que a mente é quase infinita em possibilidade de aprendizado e acredito muito em
disciplina pessoal. Reflexão diária é meu grande segredo. A questão é tentar
racionalizar".
Raul Nunes, cozinheiro e estudante de Relações Internacionais
Pare, pense, mude
"Até já procurei ajuda de um profissional, mas percebi que eu posso resolver
sozinha e não botar dinheiro fora. Quando fui achei que estava fazendo papel de
boba, pois ela (terapeuta) não conseguia falar comigo sobre aspectos mais
profundos, nos quais só eu consigo chegar. Ler e ficar quieta me ajuda a
resolver os problemas que tenho. Já conversei com pessoas que fazem e percebi
que, se elas parassem um pouco e pensassem melhor, conseguiriam resolver (os
problemas)."
Mara Rosângela Moreira Lima, motorista
Confira na TV
Sessão de Terapia
De segunda a sexta-feira, às 22h30min
GNT (canal por assinatura)
Fonte Zero Hora