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Bryce Vickmark for The New York Times
Stephen J. Elledge professor de genética |
Todo e qualquer vírus que uma pessoa já teve pode ser visto em uma gota de sangue. É o que dizem os desenvolvedores desse novo teste
O exame, que ainda é experimental, pode ser realizado por algo em torno de 100 reais e se tornar um importante instrumento de pesquisa para rastrear padrões de doença em várias populações, ajudando os cientistas comparar o velho e o novo, ou populações em diferentes partes do mundo.
Esse teste também poderia ser usado para tentar descobrir se os vírus, ou a resposta imunológica do corpo para eles, contribuem para o desenvolvimento de eventuais doenças crônicas e câncer.
De acordo com o autor principal do estudo, Stephen J. Elledge, professor de genética na Escola de Medicina de Harvard (EUA), apenas uma gota de sangue é suficiente para matar a sede por muitas informações.
É uma coisa tão nova e tão genial que nem sabemos onde vai dar e o que poderia descobrir.
O exame
O exame pode detectar a exposição a mais de 1.000 cepas de vírus de até 206 espécies – o que significa todos os vírus conhecidos que infectam pessoas. Também funciona para detecção de anticorpos, proteínas altamente específicas que o sistema imunitário tenha feito em resposta a um vírus.
Coletando apenas uma gota de sangue de 569 pessoas nos Estados Unidos, África do Sul, Tailândia e Peru, os pesquisadores constataram que a maioria das pessoas tinham sido expostas a cerca de 10 espécies diferentes de vírus, incluindo suspeitos habituais, como os causadores de resfriados, gripe, doença gastrointestinal e outros doenças comuns.
Mas alguns indivíduos apresentavam indícios de exposição à cerca de 25 espécies, segundo o Dr. Elledge. As primeiras análises mostraram algumas diferenças nos padrões de exposição de continente para continente.
Em geral, as pessoas fora dos Estados Unidos tiveram maiores taxas de exposição a vírus. A razão não é conhecida, mas os pesquisadores disseram que isso poderia ser devido a “diferenças de densidade populacional, práticas culturais, saneamento ou susceptibilidade genética”.
Tesouro
Para o Dr. William Schaffner, especialista em doenças infecciosas da Universidade Vanderbilt, este será um tesouro para epidemiologia das doenças transmissíveis.
Uma possibilidade seria implantar o teste em grandes populações para descobrir as idades em que as crianças estão expostas a várias doenças, a fim de ajudar a determinar o melhor momento para vacinação.
Outra grande ideia, segundo Schaffner, seria testar coleções de amostras de sangue congeladas – já que laboratórios de governos e algumas universidades os armazenam a partir de estudos anteriores – para aprender sobre padrões históricos de doenças.
Avanços e curas
Ao mostrar o repertório completo de anticorpos que uma pessoa produziu ao longo da vida contra os mais variados tipos de vírus, o teste pode clarear nosso conhecimento sobre várias doenças. Se a gente souber mais sobre elas, podemos desenvolver tratamentos cada vez mais eficientes.
Os candidatos mais óbvios para possíveis curas são doenças autoimunes, como esclerose múltipla e diabetes tipo 1.
Os pesquisadores já suspeitavam que os vírus podiam contribuir para tais doenças ao provocar o sistema imunológico a produzir anticorpos que confundem as próprias células de uma pessoa. Mas nenhum desses vírus ou anticorpos já foram identificados. Essencialmente, até agora, os cientistas tinham que os procurar um por um, o que não deve mais acontecer.
A tecnologia poderia também ajudar a responder perguntas sobre o câncer, por exemplo, por que a mesma doença progride mais rápido em alguns pacientes do que em outros, e porque a quimioterapia funciona melhor em algumas pessoas. Os anticorpos podem desempenhar um papel que ainda não conhecemos.
Limitações
O teste tem algumas limitações, contudo. Ele pode não detectar certos vírus muito pequenos ou infecções para a qual a resposta imune tenha sido muito pequena. Mas versões mais recentes do teste podem ser mais sensíveis, de acordo com o Dr. Elledge.
Embora não seja perfeito, a expectativa é que o método represente um grande passo à frente em direção ao objetivo de uma análise mais abrangente de infecções virais.
Hoje, o exame pode levar até dois meses para ser concluído, mas com investimento, poderia ser feito em dois ou três dias.