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John Amis - 29.set.2012/Associated Press
Rick Ross, um dos mais famosos Rappers atuais, em apresentação na
cidade de
Atlanta, Estado Unidos, antes de ter o contrato cancelado |
Uma droga conhecida como Molly conquistou uma nova geração de profissionais
conscienciosos que jamais viraram a noite dançando e costumam fazer escolhas
cuidadosas quanto a sua comida, seu café e suas roupas. Mas a Molly não é
exatamente nova.
Conhecida por causar sentimentos de euforia e por reduzir a ansiedade, ela
era conhecida como ecstasy, ou MDMA, nos anos 1980, quando foi rapidamente
adotada por operadores de Wall Street e outros frequentadores da vida noturna de
Nova York.
Mas, com o crescimento da demanda, cresceu também o uso de adulterantes em
cada pílula -cafeína, anfetamina, efedrina, cetamina, LSD, talco e aspirina.
Quando chegou o novo milênio, a reputação da droga já estava abalada.
Depois, em algum momento da década passada, ela retornou às casas noturnas
sob o nome "Molly" e foi apresentada como uma versão cristalina e em pó do MDMA:
pura e segura.
Uma mulher de 26 anos chamada Elliott, que trabalha com cinema, levou Molly
alguns meses atrás ao apartamento de um amigo, de onde eles saíram para jantar
no Souen -um popular restaurante macrobiótico, natural e orgânico do East
Village- e em seguida foram dançar. "As drogas sempre me apavoraram um pouco",
diz. "Mas estava curiosa quanto a Molly, que as pessoas dizem ser uma droga pura
e divertida."
"Eu provavelmente estou sendo ingênua", disse, "mas senti que não estava
colocando tantos produtos químicos no meu corpo".
Robert Glatter, médico no pronto-socorro do hospital Lenox Hill, em Nova
York, discorda. O Dr. Glatter costumava passar meses sem ouvir sobre o uso de
Molly, mas agora recebe cerca de quatro pacientes ao mês exibindo os efeitos
colaterais usuais da droga: o ranger dos dentes, a desidratação, a ansiedade, a
insônia, a febre e a perda de apetite.
Sintomas colaterais mais perigosos incluem hipertermia, convulsões
incontroláveis, alta pressão sanguínea e depressão causada pela queda súbita dos
níveis de serotonina nos dias posteriores ao uso da droga, um efeito apelidado
de "terça-feira suicida".
"No passado, os pacientes eram os jovens das raves, mas agora recebemos cada
vez mais pessoas na casa dos 30 e dos 40 anos que decidiram experimentar a
droga", disse o Dr. Glatter.
Muita gente atribui o ressurgimento do ecstasy ao retorno da electronic dance
music, que infiltrou o som de cantoras pop como Rihanna, Kesha e Kate Perry. No
Ultra Music Festival, em Miami, no ano passado, Madonna foi criticada por
perguntar ao público: "Quantas pessoas por aqui conhecem a Molly?". Ela disse
mais tarde que estava falando de uma amiga, não da droga.
Nos últimos meses, os rappers também adotaram a droga, com referências a
Molly em suas letras. Rick Ross recentemente teve seu contrato publicitário com
a Reebok cancelado depois de um rap no qual falava que havia misturado a droga à
bebida de uma mulher sem que ela soubesse.
As pessoas que gostam de Molly, cujo preço varia de US$ 20 a US$ 50 por dose,
dizem que ela é uma droga socialmente mais aceitável que a cocaína, por não
causar vício físico. Cat Marnell, 30, antiga diretora de beleza da xoJane.com,
que recentemente vendeu à editora Simon & Schuster um livro que fala de seu
vício em drogas, supostamente por US$ 500 mil, disse que "a Molly está na moda".
Em referência à maconha e à cocaína, ela diz que "a cocaína é meio suja e
antiquada. Já a maconha tem cheiro forte e, por ser barata, tem jeito
adolescente".
Mas Marnell rejeita a imagem reformada do MDMA, dizendo que a Molly "continua
a ser uma droga pesada", O MDMA, o metilenodioximetanfetamina, foi patenteado
pelo laboratório farmacêutico Merck em 1914 e não atraiu muita atenção antes dos
anos 1970, quando psicoterapeutas começaram a tratar pacientes com ele para
convencê-los a falar mais de seus problemas.
A droga chegou às casas noturnas de Nova York no final dos anos 80 e no
começo dos 90 havia se tornado a droga preferida das raves. Para alguns, a Molly
continua a ser uma substância mais respeitável que outras drogas. "Creio que as
pessoas hoje sejam mais conscientes de onde a cocaína vem e do que ela causa
naqueles países", diz Sarah Nicole Prickett, 27, que escreve para os sites Vice
e New Inquiry. Ela define a cocaína como "uma droga sangrenta" e caracteriza a
Molly como "pura, divertida e de agradável sensação".
Rusty Payne, da Agência de Combate às Drogas (DEA) norte-americana, diz que
boa parte do MDMA vendido nos Estados Unidos vem do Canadá e da Holanda.
Prickett, que se mudou de Toronto para Nova York no ano passado, diz que
compreende por que a droga ganhou popularidade na cidade. "Minha impressão de
Nova York era a de que todo mundo usava drogas no trabalho e todo mundo usava
anfetaminas", diz. "Já a Molly causa uma sensação de espontaneidade, o que é um
sentimento incomum em Nova York".
Fonte Folhaonline