Utilizada hà pouco mais de dez anos, a cirurgia robótica ainda está em sua primeira geração, no entanto, especialistas já vislumbram novas aplicações. Um futuro que nem o visionário artista e inventor Leonardo Da Vinci poderia imaginar
Desde o início da Era Moderna, a sociedade imagina um futuro apoiado pela tecnologia, onde homem e máquina convivem e dividem funções em casa e no trabalho. Tal convívio parece não estar tão distante quanto se imagina, ao menos para alguns setores, como o de saúde, por exemplo, que já conta com modelos de robôs cirurgiões.
O mais comum e utilizado em larga escala por instituições de saúde é o da Vinci, produzido pela Intuitive Surgical Inc.. Seu nome foi inspirado no primeiro pensador a elaborar estudos sobre a anatomia humana, o gênio renascentista Leonardo Da Vinci.
Utilizado pela primeira vez em 1997, na Bélgica, o que antes era ficção científica hoje se tornou uma realidade. Grande parte dos hospitais em países da Europa, Estados Unidos e Japão já possuem ao menos um robô cirurgião por unidade de saúde.
Em entrevista exclusiva à FH, o presidente da Denbar Robotics e ex-astronauta da NASA, Dan Barry, afirma que a robótica está avançando exponencialmente à medida que aumentam o poder computacional e a velocidade das conexões que permitem uma mobilidade cada vez maior de máquinas inteligentes. “Definitivamente, a cirurgia robótica é o futuro das cirurgias, está evoluindo e mudará a medicina dos próximos 10 anos.”
As reduções consideráveis nos custos de sensores 3D e os novos algoritmos de processamento de imagens possibilitam aos robôs e seus usuários uma conscientização maior do meio ambiente em que as máquinas estão inseridas e sistemas cada vez mais avançados. “Já estão em fase de estudo, os procedimentos feitos somente com robôs, onde ninguém tocará no paciente”. Barry afirma, também, que a utilização dessas máquinas não se restringirá apenas ao centro cirúrgico, mas à prática assistencial com robôs enfermeiros.
No Brasil
Por aqui, este cenário é um pouco diferente. O primeiro procedimento robótico foi realizado pelo Hospital Sírio Libanês (HSL) apenas em 2008. Atualmente, o País conta com cinco robôs cirurgiões, sendo dois no HSL, um no Hospital Israelita Albert Einstein, um no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um no Instituto do Câncer (Inca)- única instituição pública brasileira a utilizá-lo.
O gerente médico do centro cirúrgico do HSL, Sergio Arap, também acredita na popularização do uso de robôs em cirurgias por todo o País, da mesma forma que ocorreu nos Estados Unidos. “Lá o uso de robôs teve um aumento assustador nos últimos anos. Praticamente todos os hospitais possuem ao menos um”, afirma.
Arap avalia que o efeito do marketing desse tipo de tecnologia é muito relevante e rentável ao hospital, pois os pacientes são atraídos pela imagem de uma instituição que investe em modernidade e tecnologia, o que causa um aumento no fluxo de pacientes seja para procedimentos realizados com o robô ou para outros tratamentos. Comparando custos, no Brasil, uma operação realizada com auxílio de robô pode custar até R$6 mil a mais do que um procedimento laparoscópico comum.
Com algumas cirurgias auxiliadas pelo da Vinci, no currículo, Arap acredita que a tendência é que no futuro os robôs serão cada vez menores. “O que vejo para este tipo de equipamento é a diminuição, tornando-o mais portátil e versátil dentro do centro cirúrgico.”
No Sírio-Libanês, o da Vinci já atuou em cirurgias torácicas, cardíacas, urológicas, ginecológicas, pediátricas, cabeça e pescoço e gástrica e bariátrica. Atualmente são realizadas cerca de 30 operações por mês. São dois dispositivos, um dedicado exclusivamente à capacitação de médicos nessa prática e outro para operações. Os treinamentos são realizados em porcos, o que leva o hospital a ter um biotério (lugar onde se conservam animais vivos, para estudos experimentais) para comportar esse tipo de prática.
Custos
De acordo com o diretor para América Latina do Global Robotics Institute, do Florida Hospital, que possui nove robôs, Kenneth J. Palmer, o custo é definitivamente um obstáculo, especialmente para países em desenvolvimento. “Já vemos uma movimentação de investidores do setor de saúde na América Latina que querem dar o primeiro passo em direção a este tipo de cirurgia, considerada, por eles, minimamente invasiva e futurista”.
“Na Venezuela, um robô foi adquirido pelo governo e instalado em um hospital público, portanto, oferecer este tipo de cirurgia sem nenhum custo para a população é possível”, diz Palmer.
Ao contrário do que muitos pensam o uso dessa tecnologia não se restringe aos hospitais privados. No Rio de Janeiro, o Inca adquiriu sua primeira unidade do da Vinci e já realizou a primeira cirurgia robótica pelo SUS. “Aqui no Inca, temos a missão de avaliar novas tecnologias para o sistema público de saúde, produzir conhecimento e treinar profissionais”, afirma o vice-diretor e coordenador de educação e pesquisa do Inca, Luiz Augusto Maltoni.
Mesmo com a aquisição, o vice-diretor ressalta que, especialmente na área oncológica, onde o conhecimento se multiplica a cada dia, o impacto desse tipo de tecnologia será positivo no futuro, mas se aplicado isoladamente, ele será mínimo. “Não existe nenhum tipo de tratamento ou procedimento isolado que trará resultado melhor.”
Segundo ele, com o conhecimento que tem sido desenvolvido pela história natural, em especial, dos tumores e alterações genéticas que foram definidas com o mapeamento do genoma humano e possibilidades de sequenciamento rápido para descobrir onde essas falhas ocorrem, em curto espaço de tempo haverá um impacto muito grande no tratamento oncológico. Tal reflexo contará com um procedimento cirúrgico mais refinado, com menos lesões e tratamentos complementares menos tóxicos e mais toleráveis. Tudo isso aumentará as chances de cura do paciente.
Futuro
Para o chefe do departamento de tecnologia do Nicholson Center, instalação no campus da Florida Hospital Celebration Health, nos Estados Unidos, que treina cirurgiões em técnicas minimamente invasiva e robótica, Roger Smith, os robôs cirurgiões estão na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. “O da Vinci é um dispositivo incrivelmente bem projetado, em pé de igualdade com os melhores jatos de combate do mundo.”
O especialista compara a precisão do dispositivo a de um F-16 – jato de combate de alto desempenho fabricado pela General Dynamics. “O nível de controle que um cirurgião tem com equipamento é semelhante ao experimentado por um piloto de caça. Há um número de controles e hardwares únicos dentro do robô que conferem ao médico um nível extraordinário de precisão.”
Mesmo com tantos avanços, esse dispositivo é limitado pelo nível de tecnologia que estava disponível quando foi concebido. “Dado os avanços em materiais, motores e sensores, os futuros robôs cirúrgicos serão muito menores, mais leves e fáceis de manobrar. No futuro haverá versões que permitirão acoplar o equipamento ao teto do centro cirúrgico ou ligá-lo à mesa cirúrgica”, reforça Smith.
Uma das tendências é que em dez anos estes dispositivos terão ¼ ou menos do tamanho e peso dos robôs atuais. “Assim como vimos miniaturização significativa em todos os sistemas eletrônicos e mecânicos, veremos o mesmo fenômeno acontecer com os robôs cirúrgicos. Estas ferramentas estão ainda na sua primeira geração. Podemos esperar algumas melhorias surpreendentes no futuro.”, completa Smith.
O Nicholson Center recebeu uma concessão do departamento de Defesa norte -americano, no valor de US$ 4,2 milhões, para o desenvolvimento de práticas em cirurgia robótica e telecirurgia que, possivelmente, será utilizada em hospitais de campanha onde há deficiência de médicos e no campo de batalha.
Fonte SaudeWeb