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Foto: Jonas Ramos / Especial |
Exercícios moderados das gestantes favorecem o desenvolvimento cerebral dos bebês
Há muito tempo, as futuras mamães descobriram que vale a pena superar o cansaço que acompanha o peso extra da barriga e se exercitar durante a gestação. Para elas, os ganhos são diversos. Bem orientada, a atividade física reduz riscos de complicações como diabetes e eclâmpsia (quadro hipertensivo associado a perda de proteínas), além de ajudar a manter a forma antes e depois do parto. Os benefícios, contudo, não se restringem às mulheres.
Segundo um estudo apresentado no Congresso de Neurociências de San Diego, nos Estados Unidos, o cérebro de recém-nascidos cujas mães se exercitaram na gravidez se desenvolve mais intensamente, o que se traduz em habilidades cognitivas afiadas durante toda a vida. Não é preciso - nem se deve - pegar pesado nos exercícios. A pesquisa indicou que bastam 20 minutos de atividade moderada três vezes por semana para estimular a atividade cerebral dos bebês.
- Já é consenso que um estilo de vida ativo é benéfico para a cognição de crianças, adultos e idosos. Mas essa é a primeira vez que verificamos que os exercícios físicos da gestante também têm um impacto para os recém-nascidos - observa o neurologista Dave Ellemberg, especialista em neurodesenvolvimento e principal autor do estudo.
De acordo com ele, testes anteriores realizados com animais demonstraram que ratinhos nascidos de fêmeas que se exercitaram na gestação se saíam melhor em tarefas de memória e aprendizado. Além disso, observou-se uma taxa maior de formação de neurônios no hipocampo.
- Acreditávamos que isso também ocorreria entre humanos - conta Ellemberg.
O cientista da Universidade de Montreal realizou o estudo com 60 gestantes que não tinham o hábito de se exercitar e eram pacientes do Hospital Pediátrico Sainte-Justine. Dos quatro aos nove meses de gravidez, metade das participantes entrou para um programa supervisionado de atividades físicas aeróbicas, 20 minutos por dia, três vezes por semana. Entre oito e 12 dias após o nascimento, os 60 bebês passaram por um eletroencefalograma, método não invasivo que mede, por meio de eletrodos posicionados na cabeça, a intensidade da atividade cerebral.
- Descobrimos que os bebês das mulheres fisicamente ativas tinham uma ativação cerebral mais madura, sugerindo que seus cérebros se desenvolveram mais rapidamente - revela Ellemberg.
Na hidro ou na musculação
Para a comerciante e nutricionista de formação Marilise Bedin, 28 anos, a notícia de que poderia continuar frequentando a academia durante a gravidez foi um alívio. Afinal, seria difícil abandonar o hábito que adquiriu há pelo menos oito anos. Claro que ela estranhou um pouco a mudança no perfil dos exercícios _ trocou diárias e puxadas aulas de kangoo jump, CXworx (treino funcional na sala de ginástica) e musculação por hidroginástica três vezes por semana _ mas ficou feliz quando o médico disse que não era preciso parar completamente.
- Tive apoio do médico e dos professores da academia para continuar me exercitando. Nunca senti nenhum desconforto nas aulas. No início achei até muito calmo, porque estava acostumada a outro tipo de exercícios - conta ela, grávida de seis meses.
Marilise diz que, com a atividade física, ganhou, principalmente, disposição. Agora ela também percebe os exercícios dentro da água como grandes aliados contra as dores nas costas - antiga conhecida das grávidas. Até mesmo Pedro, o primogênito que Marilise aguarda, sai ganhando com as aulas.
- O bebê fica quietinho, bem tranquilo. Quando saio da aula, acho que ele dorme, porque fica um tempinho sem se mexer - conta.
Marilise soube pelo médico que mulheres que já praticam atividade física geralmente podem continuar a se exercitar (é bom lembrar que estamos nos referindo a gestações sem riscos). Para as mamães sedentárias, a orientação é esperar pelo menos os três primeiros meses de gravidez até começar a fazer algo.
Noites de sono mais tranquilas e menos dores nas costas
A mesma orientação foi recebida pela profissional de comércio exterior Valeska Sottili Giacomin, 33. Como ela já praticava musculação havia cinco anos, o médico liberou que continuasse. Neste momento, entrou o papel do profissional da academia, responsável por criar um treino adequado para quem espera um bebê.
- Os exercícios devem ser de baixo impacto e bem orientados por um profissional. Também solicitamos a liberação do médico de cada gestante - avalia a educadora física Diane Stefan, da academia caxiense Biocenter.
Valeska confessa que, no início da gravidez, sentia mais receio de que a rotina na academia pudesse prejudicar seu bebê.
- No início você sabe que está grávida, mas não tem barriga ainda. Tinha medo de tropeçar, de que alguém fosse bater em mim sem querer. Por incrível que pareça, quando a barriga começou a aumentar, eu perdi o medo - relata.
Apesar de fazer praticamente todas as atividades que fazia antes, as séries foram reduzidas, assim como as cargas. Caminhadas, alongamentos e exercícios isométricos ganharam ênfase; já os movimentos envolvendo membros inferiores perderam a intensidade. Aos oito meses de gestação da primeira filha, Helena, Valeska frequentou a academia até dezembro, quando sentiu um mal-estar e decidiu parar.
- Meu médico achou melhor que eu parasse, até porque tinha me exercitado durante sete meses da gravidez. Mas já estou sentindo falta - diz ela.
Para Valeska, a academia trouxe benefícios como noites de sono mais tranquilas, ausência de dores nas costas e melhor controle do peso. Assim como Marilise, ela defende que as futuras mamães podem continuar se exercitando, sempre respeitando o próprio ritmo:
- A orientação dos profes da academia é nunca exagerar, não forçar.
Ajuda na autoestima
Hidroginástica, natação, ioga, pilates e musculação são só algumas das opções que as gestantes têm para não ficarem paradas. A educadora física Diane Stefan explica que os exercícios de musculação são os que mais têm restrições, exatamente por isso o acompanhamento de um profissional da academia se torna ainda mais importante.
- A maioria ainda prefere a hidro, acho que se sente mais confortável na água. Muitas têm medo e acham que não podem fazer musculação de jeito nenhum - conta a instrutora de academia.
Ela revela que os exercícios de musculação não mudam muito num treino para gestantes, apenas precisam ser de baixa intensidade. Nem mesmo os temidos abdominais precisam ser abolidos do treino das futuras mamães.
- O reforço da pélvis, do tronco e abdome são importantes e alcançados com exercícios abdominais. A ioga e o pilates trabalham bastante essa região. Mas o importante é a mulher se sentir confortável fazendo o exercício - ensina.
Diane aponta a prevenção e controle da diabete gestacional, da hipertensão e a diminuição do inchaço e dores nas costas como alguns dos principais benefícios dos exercícios. Além disso, a educadora física lembra que a atividade física é uma grande aliada da autoestima:
- Evita a depressão pós parto, pois a mãe vai estar se sentindo muito melhor com ela mesma.
Riscos aumentados
- O diabetes desenvolvido durante a gravidez pode causar complicações tanto para a mãe quanto para o bebê.
- No início da gestação, a presença da doença faz com que aumentem os riscos de aborto precoce e de defeitos congênitos. Quando a enfermidade não é bem controlada ao longo da gravidez, o feto pode crescer demais e a chance de ele nascer morto é maior.
- O diabetes gestacional é mais frequente entre mulheres obesas e acomete de 1% a 3% das grávidas.
- A eclâmpsia é caracterizada pelo aumento da pressão arterial em grávidas a ponto de provocar convulsões. Se não tratada rapidamente, pode ser mortal. No estágio anterior, a pré-eclâmpsia, pode provocar deslocamento prematuro da placenta e, consequentemente, baixo desenvolvimento fetal.
Correio Braziliense