População ainda é preconceituosa com crianças “grandes” que mamam no peito
Na Semana Mundial do Aleitamento Materno, que vai até 7 de agosto, 170 países estão unidos para reforçar a importância dos bebês mamarem no peito da mãe. A orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) é que o bebê receba exclusivamente o leite materno até os 6 meses de vida e, depois disso, ele seja associado a outros alimentos até que a criança complete dois anos ou mais.
No entanto, a população de muitos países, inclusive do Brasil, ainda é preconceituosa com crianças mais velhas (lê-se acima de dois anos) mamando no peito. Embora esse cenário seja pouco comum no País, a advogada Fabíola Cassab, 35 anos, fundadora do Grupo Matrice (Ação de Apoio à Amamentação), faz parte da parcela de mulheres que defende a amamentação sem limite de idade.
— Minha filha Paola tem sete anos e meio e mama até hoje. Mesmo assim, ela se alimenta normalmente e é uma criança que quase não fica doente. Diria que ela fica resfriada duas vezes por ano.
Fabíola conta que leu muitos estudos científicos antes de tomar essa decisão e garante que se sente segura com a escolha. Embora saiba que exista preconceito, ela frisa que tem um acordo com a filha para evitar qualquer tipo de constrangimento.
— Quando a Paola completou dois anos, combinamos dela sempre pedir para mamar e, dependendo do local, deixo ou não para evitar constrangimentos. Não quero que ela se lembre disso como um ato errado, mas, sim, saudável.
Ao contrário da advogada, a publicitária Letícia Pereira, 34 anos, é a favor da amamentação até um ano.
— Depois disso, acho importante estimular a independência da criança.
Letícia é mãe de Luca, de quase 2 anos, e sabe da importância do aleitamento materno. Por isso, ela lamenta ter amamentado seu filho até os cinco meses.
— Infelizmente, precisei completar o leite materno com a mamadeira e acho que por causa disso o Luca foi largando o peito.
Opinião dos especialistas
Para a pediatra neonatologista Clery Bernardi Gallacci, responsável pelos berçários setoriais do Hospital e Maternidade Santa Joana e professora de neonatologia da Santa Casa de São Paulo, a amamentação prolongada pode comprometer o desenvolvimento emocional da criança.
— As crianças precisam comer outros alimentos para suprir suas necessidades nutricionais e se desenvolverem de forma adequada. Muitas vezes, o leite materno não é suficiente para alimentá-las. Além disso, elas podem deixar o alimento sólido de lado.
Na opinião da pediatra Keiko Teruya, do departamento de Aleitamento Materno da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e membro do Comitê Nacional de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, a decisão de interromper a amamentação deve ser tomada entre mãe e filho, como se fosse um casamento, ou seja, de comum acordo.
— O desmame deve ser feito de forma gradativa e quando a mãe ou a criança quiserem. Quanto mais tempo mamando, mais benefícios a criança terá ao longo da vida. Já está comprovado que o leite materno fornece 250 elementos de proteção à saúde.
A pediatra Keiko também explica que se a criança estiver crescendo normalmente significa que sua alimentação está adequada. Além disso, ela ressalta que o ato de amamentar ajuda o bebê a se sentir seguro e protegido.
— A criança que recebe amor não devolve violência para o mundo. Fora isso, a ação é a mais barata e efetiva para reduzir a mortalidade infantil e dá a oportunidade da criança ter qualidade de vida.