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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Adoçante: amigo ou inimigo?

adocantePara uma alimentação saudável é imprescindível que consumamos pouco açúcar. A partir daí, os adoçantes passam a ser uma opção, mas eles também não são inofensivos

Quando buscamos reduzir ou eliminar o consumo de açúcar, muitas vezes o adoçante é visto como substituto. Mas, eles também podem nos afastar de uma dieta saudável e não são a melhor opção para quem quer perder peso. O Guia Alimentar para a População Brasileira é claro: devemos sempre dar preferência ao consumo de alimentos na forma mais natural possível, com o doce próprio de cada um. 

Adoçantes podem ser naturais, artificiais ou sintéticos. Os naturais são obtidos sem nenhum tipo de reação química, veem das plantas, a exemplo da estévia, ou de origem animal. Os artificiais ou sintéticos surgem através de reações químicas naturais ou não. Os mais comuns são sacarina, aspartame e sucralose.

A jornalista Lurian Leles utiliza dois tipos de adoçante: o artificial, para forno e fogão (para culinária) e o natural para adoçar o cafezinho e os sucos. “Eu uso adoçante há mais ou menos um ano e meio, depois que passei a me preocupar mais com meu peso. Eu quis cortar carboidrato e o açúcar e fiz essa opção, não foi prescrição. Tive essa indicação de trocar, mas mesmo o nutricionista pede para não usarmos adoçantes em demasia”, ressalta.

Não recomendado!
A recomendação dada à Lurian é correta. O adoçante não é um salva-vidas para quem está retirando o açúcar da dieta e não pode ser visto como tal. A coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Michele Lessa, explica: “o adoçante geralmente é usado nos casos confirmados de diabetes e seu uso deve ser indicado por médico ou nutricionista. Fora isso, ele não é recomendado”.

Michele Lessa diz ainda que pessoas que optam pelo adoçante precisam ao menos escolher aqueles de origem natural. E se a escolha for com o objetivo de emagrecer, este caminho não é seguro. “Não há comprovação de que o adoçante contribua para a perda de peso. O paladar se acostuma com o doce e a pessoa vai ter vontade de consumir mais coisas doces. O ideal é que a pessoa vá reduzindo aos poucos a quantidade de açúcar até perceber que os sabores naturais são mais gostosos sem adição de nenhum tipo de açúcares”, reforça.

O alerta é ainda mais importante para as crianças. A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda adoçantes para este público, por não se saber os efeitos deles em longo prazo.

Produtos diet e light
Outra importante observação da coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde é sobre os produtos diet e light. Quando lemos estas palavras em algum rótulo, costumamos nos animar com a impressão de que são extremamente saudáveis. Mas isso não quer dizer que são. “Estes produtos, na maioria das vezes, possuem adoçantes artificiais e não são alimentos naturais, e sim processados ou ultraprocessados. Por isso, o consumo deve ser moderado”, aconselha.

Lurian segue com a opção pelos adoçantes, mas eles ainda não são preferência em seu paladar. “Não é a mesma coisa do açúcar, o gosto deixa um pouco a desejar, mas sempre que posso eu substituo”.

Acesse receitas para se alimentar melhor, na publicação do Ministério da Saúde Alimentos Regionais Brasileiros

Baixe o Guia Alimentar para a População Brasileira.

Erika Braz, para o Blog da Saúde

Cientistas descobrem primeira droga capaz de tratar doença de Huntington

Condição hereditária traz danos irreversíveis ao cérebro, mas estudo mostra como ‘silenciar’ efeitos do gene mutante

Um estudo divulgado nesta segunda-feira é visto como uma promessa de revolução para o tratamento da doença de Huntington, que é genética e tem efeitos devastadores. A pesquisa indica que, pela primeira vez, uma droga experimental se mostrou capaz de retardar a progressão da doença. Até hoje, não existe nenhum tratamento para adiar os efeitos da enfermidade. As terapias atuais apenas ajudam a controlar os sintomas.

A doença de Huntington é uma condição hereditária em que as células nervosas do cérebro se rompem ao longo do tempo, causando danos irreversíveis. Na série americana “House”, os dilemas em torno da doença foram abordados após uma das médicas ser diagnosticada com a enfermidade.

O estudo foi conduzido no Centro de Doença de Huntington da University College London (UCL), na capital inglesa, e é aclamado pela comunidade acadêmica como “extremamente significativo”, por ser a primeira vez em que qualquer droga foi capaz de suprimir os efeitos da mutação de Huntington. 

— Os resultados foram além do que eu esperava — disse ao “Guardian” a diretora do Centro, professora Sarah Tabrizi, que liderou o ensaio clínico de fase 1. — Os resultados deste estudo são de extrema importância para pacientes com doença de Huntington e suas famílias.

A animação dos colegas de Sarah também se deve ao fato de que a droga é uma vertente sintética de DNA e, assim, poderia ser adaptada para “atacar” outros distúrbios cerebrais hoje incuráveis, como Alzheimer e Parkinson. A gigante farmacêutica suíça Roche chegou a pagar uma taxa de licença de US$ 45 milhões para levar o medicamento para o uso clínico.

O gene mutante de Huntington contém instruções para que as células produzam uma proteína tóxica, chamada huntingtina. Este código é copiado por uma molécula mensageira e despachado para as “máquinas de produção” de proteínas da célula.

Entenda como a droga funciona
A droga, chamada Ionis-HTTRx, funciona interceptando a molécula mensageira e destruindo-a antes que a proteína prejudicial possa ser feita, efetivamente silenciando os efeitos do gene mutante. Para que o medicamento chegue ao cérebro, ele deve ser injetado no líquido ao redor da coluna usando uma pequena agulha.

O ensaio envolveu 46 homens e mulheres com doença de Huntington em estágio inicial no Reino Unido, na Alemanha e no Canadá. Os pacientes receberam quatro injeções com um mês de intervalo, e a dose de medicamento aumentou em cada sessão. Cerca de 25% dos participantes receberam uma injeção de placebo — isto é, que não continha a droga —, para servirem como grupo de controle.

Depois de receber o medicamento, a concentração de proteína nociva no líquido da medula espinhal caiu significativamente e de forma proporcional à quantidade da dose. Esse tipo de associação normalmente indica que a droga tem efeito poderoso.

— Pela primeira vez, uma droga reduziu o nível da proteína que causa doenças tóxicas no sistema nervoso, e a droga se mostrou segura e bem tolerada — disse Sarah. — Este é provavelmente o momento mais significativo na história de Huntington desde que o gene foi isolado.

Sintomas começam entre 30 e 40 anos de idade
Quem tem a doença de Huntington vê, como primeiros sintomas — que normalmente aparecem entre os 30 e 40 anos de idade — mudanças de humor, raiva e depressão. Posteriormente, pacientes desenvolvem movimentos irregulares não controlados, demência e, finalmente, paralisia. Algumas pessoas morrem dentro de uma década após o diagnóstico.

— A maioria dos nossos pacientes sabe o que os aguarda no futuro — afirmou Ed Wild, cientista da UCL e neurologista consultor do Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia em Londres, que administrou a droga no ensaio clínico. No Brasil, estima-se que existam cerca de 150 mil pessoas com essa enfermidade.

Ensaios maiores serão realizados
O professor John Hardy, também neurocientista da UCL mas que não estava envolvido no estudo, mostrou-se positivamente surpreso em relação à nova droga: Se tivessem me perguntado cinco anos atrás se isso (a nova droga) poderia funcionar, eu teria dito que não. O fato de que ela funciona é realmente notável.

A partir de agora, é esperado que a farmacêutica Roche realize ensaios maiores para testar o nível de redução dos sintomas dos pacientes que receberem a droga. Se tal teste for bem-sucedido, Sarah Tabrizi acredita que o medicamento pode ser usado em pessoas que tenham o gene da Huntington antes mesme que elas adoeçam, que possivelmente interromperá por completo a existência de qualquer sintoma. Esses paciente podem só precisar de uma injeção a cada três ou quatro meses — aspira Sarah. — Um dia, queremos ser capazes de prevenir a doença.

O Globo