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segunda-feira, 10 de abril de 2017

Adicionado a antibióticos, extrato do famoso maple syrup potencializa a ação dos remédios

Xarope gera o efeito esperado com apenas 10% das doses usualmente prescritas. Produto já é usado para combater infecções, diz cientista


Usado no café da manhã para deixar alimentos mais saborosos, o xarope de bordo pode ser a chave para o combate a um dos problemas mais preocupantes em saúde pública: a resistência das bactérias aos antibióticos. Pesquisadores canadenses descobriram que o extrato desse produto aumenta a ação dos medicamentos, fazendo com que as doses sejam reduzidas sem a perda do efeito esperado. Detalhes do trabalho foram apresentados ontem no 253º Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química, que termina hoje, em São Francisco, nos Estados Unidos.

A autora principal do estudo, Nathalie Tufenkji, conta que o xarope de bordo, também chamado de maple syrup, já é usado para tratar problemas de saúde. “As populações nativas do Canadá, há muito tempo usam esse produto para combater infecções. Eu sempre me interessei pela ciência que existe por trás desses remédios populares”, declarou, em comunicado à imprensa. Em uma pesquisa anterior, ela e a equipe investigavam efeitos antimicrobianos em substâncias naturais e acabaram percebendo que o extrato do xarope de bordo tinha propriedades anticancerígenas. “A partir daí, tive a ideia de verificar melhor sua atividade antimicrobiana. Então, pedi para um dos meus parceiros de pesquisa ir para a loja comprar mais xarope”, conta a autora.

No experimento, Tufenkji e sua equipe separaram o açúcar e a água dos compostos fenólicos (substâncias químicas) do xarope de bordo que dão a coloração dourada ao alimento. Em um teste inicial, expuseram várias estirpes bacterianas causadoras de doenças ao extrato do xarope, mas não observaram efeitos promissores. Em uma segunda etapa, misturaram o extrato a antibióticos usados recorrentemente, a ciprofloxacina e a carbenicilina, e houve um aumento considerável no efeito dos medicamentos.

A eficácia foi tão grande que, ao adicionar o xarope de bordo a porções menores do antibiótico — apenas 10% da dose usualmente prescrita —, os cientistas observaram que a nova dosagem surtia o mesmo efeito. A mistura foi testada com a E. coli, que causa problemas gastrointestinais; a Proteus mirabilis, responsável por infecções do trato urinário; e a Pseudomonas aeruginosa, que pode causar infecções em hospitais. Todos os testes mostraram resultados positivos, com o aumento da eficácia do medicamento.

Mais estudos
A equipe de Tufenkji também testou o extrato em moscas-de-fruta e larvas de mariposas. Eles deram aos animais alimentos com bactérias e antibióticos com e sem o extrato fenólico. As cobaias que receberam a mistura do extrato de xarope de bordo e antibióticos viveram mais dias do que o grupo que recebeu o medicamento puro. Apesar dos resultados promissores, a autora ressalta que mais pesquisas precisam ser feitas.

“Hoje em dia, enfrentamos uma crise mundial de resistência aos antibióticos. Ainda é muito cedo para dizer que essa seja a solução. Precisamos fazer mais estudos. Porém, seria uma alternativa útil, já que usar doses menores desse medicamento pode ser uma maneira de impedir que ele perca a eficácia”, detalha a autora.

Para Leandra Sá de Lima, farmacêutica e consultora da Farmacotécnica, em Brasília, os resultados são animadores, mas ela também ressalta a necessidade de mais investigações até que a solução se torne uma realidade comercial. “Acredito que essa seja uma saída muito interessante na área da saúde. Entretanto, usualmente, leva-se muito tempo para que os testes sejam concluídos. O trabalho foi feito com um extrato um pouco diferente do produto usado comumente na alimentação. Para chegar ao mercado, ainda demanda muito tempo de estudo. Mas é algo bastante promissor”, ressalta a especialista, que não participou do estudo.

Quebrando barreiras
Para descobrir como o extrato de bordo fez com que os antibióticos funcionassem melhor, os pesquisadores resolveram investigar o mecanismo envolvido na ação da substância. Em laboratório, observaram que ela quebra uma barreira importante na estrutura do micróbio, facilitando, assim, a ação dos antibióticos. “A bactéria tem uma pele que a envolve por fora e a protege. O extrato fez com que essa membrana se tornasse mais permeável, o que permitiu que o antibiótico pudesse penetrá-la mais facilmente e, dessa forma, destruir a bactéria”, diz Nathalie Tufenkji, autora principal da pesquisa.

A farmacêutica Leandra Sá de Lima explica que a interferência na estrutura do micro-organismo pode ter outros impactos positivos para o combate às superbactérias. “O mecanismo de ação postulado pelos pesquisadores é bastante interessante. Não apenas favorece o uso de doses muito menores dos antibióticos, como também torna o direcionamento do medicamento mais específico para os micro-organismos do que para as células humanas”, explica.

A especialista também ressalta que a problemática da resistência microbiana está em pauta nos meios científicos e que medidas que impeçam esse problema são muito bem-vindas. “A ciência não tem conseguido grandes sucessos com a criação de moléculas antibióticas. Quando surge um novo medicamento, os custos são bastante elevados. Entendo como necessário atuar nos dois sentidos: pesquisa de novas moléculas e associações que favoreçam a efetividade dos mesmos”, diz

Solução natural
Leandra Sá de Lima também ressalta que todos podem contribuir para que os antibióticos não percam o poder de cura. “Cabe-nos ter a consciência de que o antibiótico deve ser um recurso utilizado a partir da avaliação médica e realmente quando necessário. Não é um recurso para qualquer momento. Guardar sobras de antibiótico e se automedicar em casa não é uma boa medida.” Atualmente, a equipe canadense realiza testes com camundongos a fim de investigar a fundo os efeitos do extrato do xarope de bordo. Eles adiantam que outros desafios estão por vir, como a necessidade de tornar o extrato mais puro. O fato de se tratar de um extrato natural deixa-os ainda mais animados quanto às aplicações futuras da pesquisa. “Há outros produtos lá fora que aumentam a força dos antibióticos, mas esse pode ser o único que vem da natureza”, ressalta Tufenkji.

Prioridade científica
São patógenos resistentes à ação dos antibióticos, principalmente pelo uso incorreto dos medicamentos. Em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma lista dos micro-organismos com essas características que, segundo a agência das Nações Unidas, devem ser prioridade nas pesquisas por novos remédios contra esses micróbios. A lista inédita é dividida em três grupos de prioridade: crítica, alta e média. Fazem parte da mais urgente as bactérias Acinetobacter baumannii (que afeta principalmente as vias respiratórias e o trato urinário), Pseudomonas aeruginosa (uma recorrente causa de infecções hospitalares) e Enterobacteriaceae (responsável por complicações como pneumonia, meningite e gastroenterite).

Foto: Reprodução

Mais de onze milhões de brasileiros têm depressão

A doença representa quase um quarto dos atendimentos ambulatoriais e hospitalares em saúde mental no SUS

Uma tristeza profunda que faz o corpo doer com os efeitos de uma doença que é invisível e dificulta ações cotidianas simples como levantar da cama, comer, trabalhar ou estudar. Essa é a depressão, que já é conhecida como o mal do século por ter estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), de que até 2020 será a doença mais incapacitante do mundo.

Por isso, a depressão foi o tema eleito pela OMS para o Dia Mundial da Saúde, comemorado neste último 07 de abril. A proposta é chamar atenção para a doença e incitar os debates a esse respeito.

Segundo o recente relatório da OMS, a prevalência da depressão no Brasil já é a segunda maior carga de incapacidade, sendo o maior índice na América Latina. São mais de onze milhões de brasileiros diagnosticados com a doença, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). A prevalência registrada é maior entre as mulheres (10,9%) do que nos homens (3,9%).

“Há três anos fui diagnosticada, depois de conviver alguns anos com sintomas como a completa falta de vontade de sair de casa, de ver os amigos, de levantar da cama e ter problemas dentro de casa com minha família pela incompreensão da minha ansiedade e falta de ânimo”, relata a barista, Aline de Sousa Bastos.

A depressão representa quase um quarto (23%) dos atendimentos ambulatoriais e hospitalares em saúde mental no Sistema Único de Saúde. A principal porta de entrada são as Unidades Básicas de Saúde (UBS), que correspondem a 69% dos atendimentos e diagnósticos realizados no Brasil.

Os casos menos graves da doença recebem o acompanhamento de profissionais como psicólogos e psiquiatras, mas não requerem cuidados mais extremos. “Esse é um cenário bastante importante porque a Atenção Básica é a área ideal para acompanhar os casos leves e moderados, pois tem equipes constantemente capacitadas para desempenhar este atendimento”, explica o coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro.


As ocorrências de maior gravidade, como a falta de interesse no convívio social, ou que estão associadas a outras doenças como bipolaridade, esquizofrenia entre outras, são encaminhadas aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Confira aqui, na reportagem especial da TV Saúde.

Uma das principais formas de tratamento da depressão é a psicoterapia, com sessões de acordo com a necessidade do paciente. Segundo a psicóloga Cecília Frota, essa terapia busca “mexer com o emocional para encontrar a causa do que gerou essa tristeza, para tentar ajudar o paciente a chegar em um nível de autoconhecimento que seja um caminho para a solução dos problemas”.

Apesar de os dados da Pesquisa Nacional de Saúde revelar que a frequência de pessoas com depressão aumenta de acordo com o avanço da idade, as crianças também são vítimas dessa doença e precisam de acompanhamento específico.

Pessoas que sofrem com a depressão e não conseguem buscar ajuda de profissional de saúde ou, mesmo aquelas com risco de suicídio, podem buscar apoio em conversas com os voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 141. Em breve, essa ligação passará a ser gratuita pelo telefone 188, graças a um acordo do Ministério da Saúde com o CVV.

“É um trabalho importante e muito efetivo, com resultados positivos para a sociedade e, por isso, continuaremos apoiando o CVV, que é tão necessário em momentos de angústia, em momentos em que as pessoas estão com um dilema sobre a vida para retomar o dia a dia”, declarou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Janary Damacena para o Blog da Saúde