Rio - Dos 400 mil médicos brasileiros, quase metade — 180 mil — não tem
título de especialista. São profissionais que não conseguiram vaga no serviço de
Residência Médica e trabalham como clínicos gerais.
Por ano, se formam no Brasil
15 mil profissionais que entram na disputa por 11 mil vagas de residentes. Para
mudar esse quadro será anunciado amanhã edital para ampliação do serviço. É a
primeira parte do programa Mais Médicos, do Ministério da Saúde, que investirá
R$ 100 milhões no setor. A meta é criar 4 mil oportunidades em residência para
zerar o déficit até 2014.
O pacote de ações é uma tentativa de acalmar os ânimos dos manifestantes que
foram às ruas cobrando melhorias na Saúde. O governo deverá abrir até duas mil
novas vagas para médicos residentes nos hospitais públicos, a maioria nas áreas
de Pediatria, Oncologia e Anestesiologia, além dos programas de Saúde da
Família. O salário será de R$ 2 mil.
Segundo o canal de TV a cabo Globonews, o ministro da pasta, Alexandre
Padilha, passou o fim de semana trabalhando no programa. Hoje, a presidenta
Dilma se reúne com governadores para tratar da ampliação de vagas nas
universidades. Entidades médicas aprovam a ação, mas cobram investimentos nas
unidades de saúde.
“Não é quantidade de médicos que vai garantir qualidade ao sistema público. O
médico precisa de condições de trabalho”, diz Florentino Cardoso, presidente da
Associação Médica Brasileira (AMB).
Profissionais no interior
O programa pretende fixar profissionais no interior, onde a carência é maior,
já que o Sudeste concentra 56% dos médicos e mais da metade dos especialistas.
“Muitos municípios poderiam ampliar o programa Saúde da Família, mas não têm
médicos. Acaba que a equipe inteira é desmobilizada”, diz o sanitarista Alcindo
Ferla, presidente da Rede Unida.
Segundo pesquisas, o que mais atrai médicos são a capacidade dele de se
reciclar em congressos ou universidades próximas, infraestrutura hospitalar,
como CTI, equipamentos de ultrassonografia e tomografia e laboratório para
exames, e só, em terceiro, a remuneração. “Fora dos grandes centros, temos que
fazer medicina de guerra, porque falta tudo ”, diz o cirurgião plástico, José
Carlos Pereira Pinto.
A precariedade do atendimento no SUS e a contratação de estrangeiros foram
criticadas por associações, entre elas o Conselho Federal de Medicina e a AMB,
em carta aberta à população. “Será que médicos importados compensarão falta de
leitos, medicamentos, ambulâncias paradas por falta de combustível, infiltrações
nas paredes e goteiras nos hospitais?”, ressaltou o texto
Investimentos
O governo destinará R$100 milhões no primeiro ano a unidades de saúde que
criarem ou ampliarem vagas em residência.
Adesão de hospitais
O Ministério da Saúde vai abrir edital para seleção de novos hospitais
Bolsa-auxílio
Médicos residentes receberão remuneração mensal de R$ 2 mil.
Novas vagas
O programa prevê, até 2014, a abertura de 2.415 vagas em cursos de graduação
em medicina nas universidades brasileiras.
Contratação já foi discutida
A contratação de médicos estrangeiros anunciada pela presidenta Dilma, em
pronunciamento na sexta-feira, já havia sido tema de discussão, em maio deste
ano, entre os ministérios da Saúde, da Educação e das Relações Exteriores e da
Casa Civil.
Além de um acordo para a contratação de 6 mil médicos cubanos, o governo
brasileiro busca parcerias para trazer profissionais de Portugal para atender
municípios carentes no interior do país. A medida polêmica faz parte do programa
Mais Médicos e tem sido muito criticada por entidades médicas do país.
Fonte O Dia