Muitas das virtudes do ioga ainda precisam ser comprovadas em testes clínicos, diz autor de livro
Certa manhã, uma colega de natação bem intencionada falou pra todo mundo ouvir no vestiário da ACM: "Eu não acredito que a Jane Brody não pratica ioga!".
Ela tinha razão: Eu não praticava yoga e, sem saber o que ele podia me oferecer, estava relutante em experimentar. Eu também temia que o crescimento meteórico do ioga tivesse superado a capacidade de treinamento de professores qualificados, capazes de proteger meu corpo idoso.
Agora, aparentemente, meu pensamento e minha agenda podem estar prestes a mudar. Depois de ler o novo livro do meu colega William J. Broad, "The Science of Yoga" (A ciência do ioga, em tradução literal) e de observar as aulas na ACM do meu bairro, eu percebi que há muito mais nos benefícios e nos riscos dessa atividade milenar do que eu jamais poderia imaginar.
E se a ciência contida nesse livro estiver correta (conhecendo o Broad, eu tenho todas as razões para crer que sim), minhas juntas e meus músculos cansados podem colher alguns frutos importantes com uma prescrição individualizada de ioga. Eu estou especialmente preocupada com as minhas costas, repleta de espaços reduzidos entre as vértebras e propensa a espasmos e ciática.
Broad afirmou que décadas de yoga ajudaram a proteger suas costas das dores insuportáveis causadas por uma hérnia de disco. Mas em 2007, ele sofreu uma lesão nas costas causada pelo ioga enquanto saía da postura conhecida como posição estendida em ângulo lateral.
— A recuperação durou semanas. Mas essa experiência me tornou mais consciente da segurança no ioga — escreveu.
Nem todas as posições de ioga são benéficas ou seguras para todas as pessoas, e os entusiastas têm dificuldades para saber se o professor e a classe que eles escolheram têm mais chances de ajudá-los do que de prejudicá-los.
Segurança em primeiro lugar
Eu preciso de yoga terapêutico e só posso ter esperanças de me beneficiar dele se o professor for bem qualificado. É aí que mora o perigo.
Conforme aprendi no livro de Broad, "Os Estados Unidos não têm um organismo que regule o ioga terapêutico. A atividade é, como um todo, completamente desregulamentada. Não existe uma licença profissional, ou um Terapeuta de Ioga Registrado. Os candidatos ao registro normalmente não precisam cumprir com quaisquer requisitos para estabelecer suas credenciais educacionais, para passar em exames nacionais, ou para conseguir outro comprovante de proficiência. Em outras palavras, o registro não pode ser comparado com o mundo rigoroso das certificações dos profissionais da saúde".
Qualquer um que queira pode pendurar um cartaz e se intitular terapeuta de ioga. Existem exigências para o licenciamento de esteticistas e de cabeleireiros, mas não para terapeutas de ioga.
A Ioga Alliance, a organização nacional de ioga nos Estados Unidos, preenche essa lacuna com padrões de treinamento específicos que, se forem cumpridos, dão o título de professor registrado. Os padrões envolvem 200 ou 500 horas de instrução e de prática supervisionada, além de um treinamento especializado para ioga infantil e pré-natal.
Para dizer a verdade, o mundo do ioga está em repleto de verdadeiros crentes, muitos dos quais bombardearam Broad com reclamações acerca de um artigo que ele escreveu para a The New York Times Magazine em janeiro, contando a história de uma série de lesões causadas pela prática de ioga. Mas ele também foi inundado com dezenas de histórias de acidentes pessoais, que incluíam derrames e hérnias de disco.
Entre eles, havia um homem de 39 anos que afirmou em um e-mail que "sempre foi muito ativo" e que já havia "esquiado, lutado boxe, escalado, surfado, etc.". O homem começou a praticar yoga no ano 2000 e afirmou que se deliciava com seus aspectos meditativos, em contrates com os "esportes brutais" que ele praticava.
Então, em 2010, ele se matriculou em um novo curso e desenvolveu uma "estenose espinhal severa" com espasmos debilitantes nas costas quando o professor "literalmente me forçou a manter a postura do cachorro olhando para baixo de forma extremamente dolorosa". Essa é uma posição clássica, na qual as palmas das mãos e as solas dos pés tocam o chão, os joelhos ficam retos (mas não travados) e o corpo se dobra formando um ângulo reto.
Em um caso mais sério de lesão causada pela postura do cachorro olhando para baixo, uma mulher de Washington sofreu um infarto medular, um bloqueio que causou uma paralisia súbita das pernas. Desde então, ela recuperou apenas parcialmente o movimento das pernas.
Com base em sua pesquisa, Broad concluiu que os benefícios do ioga "sem dúvida superam os riscos. Ainda assim, o ioga só faz sentido quando é praticado de forma inteligente, dentro dos limites do perigo".
Portanto, é fundamental escolher sua turma e seu professor com cuidado. Grace Grochowski, professora de yoga na ACM do meu bairro e que dá aulas há 20 anos, recomenda que os novos alunos perguntem sobre a formação do professor e lhe digam quais resultados esperam obter, além de relatar quaisquer lesões, dores ou problemas de saúde que possam afetar sua participação.
O professor deve estar disposto a sugerir mudanças nos movimentos que você tenta fazer, ou até mesmo dizer que aquela turma talvez não seja apropriada para você.
— Um bom professor ouve e faz as sugestões apropriadas — afirma Grochowski.
Apesar da grande quantidade de alunos em sua aula muito procurada, ela sempre caminha entre os participantes, corrigindo e modificando sua postura e sugerindo alternativas.
Randi Baker, uma das alunas, me disse que o mais importante é "nunca ir além da conta. Se às vezes dói, não faça".
Benefícios reais
Muitas das virtudes do ioga ainda precisam sem comprovadas em testes clínicos bem realizados, Broad escreveu, e já ficou comprovado que algumas das crenças populares são falsas, entre elas a crença de que a respiração do ioga aumenta o fluxo de ar para o corpo, ou que ele acelera o metabolismo, proporcionando a perda de peso. O ioga, na verdade, diminui o metabolismo, o que além de ser relaxante, pode reduzir a comilança causada pelo estresse.
Bons estudos científicos, incluindo muitos apoiados pelo Centro Nacional de Medicina Alternativa e Complementar, um braço do Instituto Nacional de Saúde, demonstraram que a prática regular de ioga pode melhorar alguns fatores de risco cardiovasculares, como níveis elevados de pressão sanguínea, de glicemia, de colesterol e de fibrinogênio causado por coágulos, e que pode aumentar o nível de antioxidantes no sangue.
Já ficou comprovado que o ioga pode melhorar o equilíbrio em mulheres idosas e, como consequência, diminuir o risco de quedas, a principal causa de morte por lesão entre pessoas idosas. E eu fiquei muito feliz em descobrir que, talvez pela melhoria no fluxo sanguíneo e pela produção de hormônios do crescimento, o ioga pode reverter a deterioração dos discos vertebrais, uma praga que atinge milhões de americanos, jovens e velhos.
É possível que, por meio da estimulação do nervo vago, o ioga atue contra a inflamação em todo o corpo e possa reduzir os efeitos de doenças como lúpus e artrite reumatoide. Além disso, ao aliviar o stress físico e mental — o que pode corromper partes do DNA chamadas de telômeros, responsáveis por programar a morte de uma célula — o ioga pode desacelerar o envelhecimento biológico e prolongar a vida.
Um benefício mais imediato, ao qual Broad dedica um capítulo inteiro, é a aparente capacidade do ioga de revitalizar a vida sexual das pessoas por meio da produção de grandes quantidades de hormônios sexuais e das ondas cerebrais associadas com a excitação sexual. Só não tente aproveitar esse estímulo no meio da aula.
Fonte Zero Hora