Por Danilo Sanches
Especialistas e gestores de TI já não fazem mais futurologia. Empresas olham para o futuro do setor com a maturidade que o cenário nacional demonstra em virtude dos largos investimentos em modernização
O futuro não é mais o mesmo. O cenário brasileiro de tecnologia para suportar o desenvolvimento do mercado de saúde acompanha, sem dúvidas, a profissionalização do setor no País e nos próximos anos deverá estar alinhada com o que há de mais moderno no mundo. Num horizonte de 20 anos, tudo o que hoje se delineia como tecnologias sonhadas pelas instituições e pelos gestores de saúde serão realidade.
A mobilidade, característica mais marcante das mudanças que ocorrem atualmente no mercado, deverá ter pleno amparo de infraestrutura e dispositivos. O que hoje é visto como inovação se tornará rotina entre os profissionais da saúde.
Outro atributo importante deste futuro que se pode ver daqui é a ausência do papel nas operações e procedimentos. Para a MV, fabricante nacional de sistemas de gestão, este é o grande projeto que vai acontecer nos próximos anos.
Os projetos de redução de uso do papel, se usados plenamente, podem gerar uma redução de perdas de 4 a 5% para as instituições.
“A MV tem projetos que trabalham o prontuário eletrônico e envolve cerca de 100 mil médicos neste processo de mudança de cultura”, afirma Paulo Magnus, presidente da companhia. “Atualmente grande parte dos hospitais já tem algum processo neste sentido, como acompanhamento de indicadores online, compras feitas em rede, então eu diria que isso vai se expandir para o resto da cadeia.”
Num futuro próximo, empresas estrangeiras vão começar a enxergar as oportunidades no Brasil. Isso vai permitir que o mercado evolua, uma vez que devem surgir grandes competidores, com poder de investimento e alta tecnologia. E então isso vai fazer com que as empresas locais se mobilizem, ou seja, vai ser uma mola propulsora da evolução no mercado nacional de informática para saúde.
Tecnologia de longo prazo O presidente da MV lança luz sobre a possibilidade de a TI de 2030 já estar sendo feita hoje. O conceito de TI de longo prazo coloca a qualidade e o planejamento como prioridades para garantir o uso dos recursos por um tempo mais alongado.
“Nós temos sites instalados há mais de uma década”, afirma Magnus. “E a tendência é de triplicar a vida útil dos equipamentos com as novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas.”
Segundo o executivo, os aplicativos devem mudar muito pouco e que, paulatinamente, as tecnologias vão permitir as atualizações automáticas e incrementos em relação à usabilidade, mas a tecnologia deve atravessar as décadas.
Cloud Computing A computação em nuvem será uma realidade, porque já é uma prática crescente, e dela inclusive decorrem outras iniciativas que deverão compor este futuro. Por outro lado, há ainda alguns passos importantes a serem dados.
Paulo Magnus levanta uma dúvida em relação à banda disponível para a TI em saúde no Brasil, e questiona também a viabilidade dos investimentos em cloud computing, ante os investimentos para computação “on premise” (com armazenamento próprio dos dados e aplicações).
“O custo de menos de um ano de um data center garante a instalação de um site próprio, que dura, no mínimo, três anos”, explica Magnus. “Apesar dos questionamentos, o executivo destaca que a companhia se preparou para atender a demanda de cloud computing com investimentos de R$ 40 milhões nos últimos anos.
Outra discussão que rondou o mercado foi a da possibilidade de uma banda dedicada para o setor. A ideia, por mais atraente que possa parecer, é logo descartada por especialistas, em função do alto custo.
“O modelo econômico mais sustentável é compartilhar todos os canais de comunicação”, afirma Claudio Giulliano Alves da Costa, presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis). “Se for criar alguma coisa específica para infraestrutra, um link de comunicação dedicada, ou como quando se pensou em criar uma internet privada, isso vai fazer com que o custo aumente.”
E o aumento do custo geral na área de saúde já é um problema. Então não é possível pensar em uma TI em saúde que aumente os custos, uma vez que a função da TI neste setor é exatamente controlar e reduzir os custos.
Interoperabilidade “Para o desafio da interoperabilidade, nós já temos o caminho”, explica Costa. O executivo afirma que este passo para a integração entre os sistemas de informação não é uma previsão para um horizonte de 20 anos, mas algo em torno dos próximos cinco anos. “Os caminhos já estão dados. O que falta, e talvez seja um desafio, é que o governo crie grandes projetos para promover um registro eletrônico de saúde.”
A evolução neste sentido é mesmo inevitável e deve acontecer ou por uma decorrência natural do mercado ou por um projeto governamental.
Por outro lado, ainda existe dentro do setor de saúde a percepção de que os processos das instituições são melhores ou piores entre si e de que as instituições menores não têm processo nenhum. Então, cada instituição desenvolve um processo e automaticamente desenvolve um mecanismo de armazenamento de dados.
“O desafio é melhorar a padronização dos processos e das melhores práticas”, destaca Magnus. “E isto tende a melhorar e se disseminar entre os fornecedores. De fato, nós temos apenas três fornecedores no Brasil.”
Análise preditiva A chave para o futuro são os dados, na visão de Daniel Hoe, gerente de planejamento e desenvolvimento de negócios da SAS. “Quanto mais os fornecedores de saúde começarem a armazenar os dados de seus pacientes, maiores são as possibilidades que a tecnologia tem de ajudá-los.
A análise preditiva e o uso da tecnologia como apoio de diagnóstico é uma realidade fora do País e deve fazer parte do nosso cotidiano num futuro próximo. O executivo da SAS explica que uma técnica que está sendo testada fora do Brasil e que está ganhando bastante corpo é o uso de imagens para o suporte do diagnóstico médico.
O primeiro passo para atingir este futuro é a integração das bases de dados para que as análises possam ser feitas. Além disso, outra demanda importante é a computação de alta performance, uma vez que as análises demandam um alto volume de informações complexas, como imagens em alta definição, em tempos críticos.
Prontuário Eletrônico do Paciente Custear a operação gerada pela alta demanda sem que haja uma integração dos prontuários será insustentável. O custo da saúde e a eficiência dos processos são preocupações muito fortes da profissionalização do setor e, obviamente, do futuro.
“Ainda se administra esta situação, mas vai chegar uma hora que não vai mais ter sentido ter que repetir exames quando buscar atendimentos em hospitais diferentes”, explica Robson Miguel, Gerente de Vendas – IT da Agfa. “Hoje ainda se aceita e tem espaço para este tipo de coisa, mas vai chegar um momento em que vai ser difícil custear toda esta operação e garantir qualidade e continuidade no tratamento.”
Desafios Mas para que a TI alcance este patamar de uso extensivo, alguns passos precisam ser dados hoje. Entre eles estão a mão de obra e a especialização, bem como recursos de infraestrutura.
E para continuar a falar sobre o que nos aguarda, vamos destacar também alguns dos desafios que estão contidos nesta trilha.
O primeiro grande desafio é relativo ao próprio futuro: como lidar com a enorme massa de dados gerada e armazenada nos prontuários eletrônicos dos pacientes, disponíveis em qualquer lugar do mundo?
“Esta questão vai ser um grande transformador de como a informação clínica vai ser utilizada”, explica Costa, da Sbis. “Porque são grandes quantidades de bancos de dados e informações clínicas, que vão desde informações sobre o DNA do paciente até toda sua vida relacionada à área de saúde. Tudo isso disponível tanto para ele como passivo, quanto para toda a equipe médica.”
A consequência disso, como um monstro possível daqueles tempos, segundo explica o presidente da Sbis, é uma enorme preocupação com a segurança e confidencialidade destes dados. Tanto no que diz respeito ao acesso, quanto à alteração deles.
Mão de obra qualificada Sem profissionais especialistas em informática em saúde, o Brasil vai viver o que se chama de apagão de talentos. A questão da demanda por profissionais no setor de TI, e em especial no mercado de saúde é um velho refrão, mas já existem hoje alguns cursos de graduação em informática biomedicina no País.
O avanço neste sentido está ligado à profissionalização do setor e à gradual necessidade de compartilhamento deste conteúdo.
Avanço tecnológico e inovação estão diretamente ligados à questão da especialização dos profissionais e à disponibilidade destes profissionais para o mercado. Sem isso, o
Brasil mantém a margem de cinco a 10 anos de defasagem em relação aos países mais avançados neste setor.
“Quem gera conhecimento, eficiência e utilização prática são os profissionais que têm este conhecimento”, afirma Costa. “Enquanto estamos falando de registro eletrônico de saúde, das intenções do governo, o Canadá tem 50% dos hospitais conectados. Os EUA estão um pouquinho atrás, mas estão investindo US$ 20 bilhões num projeto para o acesso a estas informações. Nós ainda somos muito tímidos.”
Investimentos devem ser públicos x privados Ainda dentro do tópico infraestrutura, a questão do investimento envolve um aspecto político e outro econômico, propriamente dito. Do ponto de vista da iniciativa privada, os pontos de prioridade de investimentos são os pontos onde o retorno é maior, mais viável ou de maior possibilidade de crescimento. Na outra esfera, a esfera pública, os investimentos priorizam acessibilidade (sem contar características de investimento como forma de propaganda de governo).
Assim, o papel do investimento público é fazer o acesso à estrutura de dados atingir locais remotos, periferias das grandes cidades.
“O papel do governo, neste caso, é promover o acesso aos lugares mais afastados através de subsídios e incentivos”, comenta Costa.
Infraestrutura A qualidade da rede 3G atual não suportaria o nível de exigência de operações em saúde com recursos de mobilidade. Não sem deixar a desejar em relação a disponibilidade, o que é um fator crítico no setor, uma vez que as informações clínicas precisam estar acessíveis para comportar uma demanda de emergência.
As questões são enumeráveis: baixa disponibilidade, sinal fraco e banda muito estreita. “Como seria possível fazer uma videoconferência em alta definição usando uma rede 3G? Impossível”, ressalta o presidente da Sbis.
Fonte SaudeWeb