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terça-feira, 10 de abril de 2012

Repúblicas de pacientes cercam hospital do câncer de Barretos

Pacientes com câncer e acompanhantes almoçam em república em Barretos, SP
Joel Silva/Folhapress 
Pacientes com câncer e acompanhantes almoçam em república em Barretos, SP
Pacientes viajam até 3.000 km para conseguir tratamento no Hospital de Câncer de Barretos (interior de São Paulo), a maior instituição oncológica do país, que faz 3.000 atendimentos por dia.

Uma verdadeira cidade paralela com cerca de 2.000 doentes de câncer, a maioria das regiões Norte e Nordeste, está se formando nos arredores do hospital, que só atende clientela do SUS.

Em geral, os pacientes chegam com tumores em estágio avançado, o que demanda tratamentos demorados. Isso os obriga a morar na cidade por longos períodos.

Eles vivem em repúblicas, casas alugadas pelas prefeituras de suas cidades de origem ou mantidas pela Fundação Pio XII, que administra o hospital.

No Estado de Rondônia, por exemplo, 97% dos pacientes com câncer vão se tratar em Barretos, segundo dados do hospital.

O município de Ji-Paraná (RO), a 2.200 km de Barretos, mantém uma casa alugada perto do hospital. Ali, 38 doentes dividem uma casa com cinco quartos -cada um tem dois ou três beliches.

Todas as tarefas de casa, como cozinhar, lavar louça e fazer faxina, são divididas. "A regra é clara: quem está melhor ajuda mais", conta Maria Aparecida Santos, que acompanha a irmã Teresa, com um tumor de mama.

Eles recebem cestas básicas doadas por comerciantes de Ji-Paraná e, semanalmente, cada morador colabora com R$ 15 para a compra de carne e verdura.

"É uma família. Um vai apoiando o outro porque está todo mundo na mesma situação", diz Isabel Coelho, que operou há três semanas de um câncer de tireoide.

Ela mora na república há quase um ano. Até setembro do ano passado, era só acompanhante da filha, que tem melanoma (câncer de pele agressivo). No início deste ano, descobriu o nódulo na tireoide e passou a ser também paciente do hospital.

No ano passado, o governo de Rondônia fez uma parceria com o hospital de Barretos para que a instituição assuma a gestão de uma unidade oncológica em Porto Velho. A ideia é frear a migração de pacientes.

"Por que tem que vir paciente de 3.000 km para cá [Barretos]? A gente puxa uma linha reta da região Norte até aqui e vê que, no meio do caminho, só existe um hospital pequeno que não dá conta nem dos pacientes do município dele", afirma Henrique Prata, presidente do hospital de Barretos.

Segundo Prata, 40% da demanda do hospital é de pacientes de outros Estados.

Estresse
A distância da terra natal e da família estressa os pacientes. A Folha ouviu 15 deles e todos se queixaram da saudade de casa.

"A gente sabe que está num dos melhores centros do país, mas é muito triste ficar longe da família. Choro todos os dias. Isso acaba não ajudando no tratamento", afirma Maria da Conceição Carneiro, de Ji-Paraná, que faz tratamento contra um tumor no intestino e está em Barretos há três meses.

Outro que se queixa de saudade é o caminhoneiro Francidário de Souza, de Guanambi (BA), a 1.213 km de Barretos. Ele acompanha o filho Gustavo, 12, que tem linfoma, mas descobriu no mês passado que também será paciente do hospital: recebeu diagnóstico de tumor no cérebro.

A mulher e a filha mais velha estão na Bahia. "Nessas horas, tudo o que a gente quer é estar perto da família."

Referência
Premiado pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado da Saúde como uma das melhores instituições de alta complexidade, o Hospital de Câncer de Barretos se destaca entre as unidades que só atendem ao SUS.

Tem hotelaria e tratamento comparados aos dos melhores hospitais de São Paulo. Há três semanas, abriu uma unidade infantil com apoio de duas referências em câncer, o MD Anderson e o Saint Jude Children's Hospital.

No ano passado, passou a sediar, na América Latina, uma filial do Ircad, instituto francês referência mundial em pesquisa e treinamento em cirurgias laparoscópicas e robóticas.

O hospital atende 12 mil novos casos de câncer por ano e, com a unidade infantil, pretende triplicar o atendimento de crianças e adolescentes (hoje em 200 casos novos por ano).

O custeio da instituição é de R$ 16 milhões por mês. Pouco mais da metade desse valor vem do governo federal. Outros R$ 2,5 milhões vêm do governo estadual. Ações como doações de artistas e leilões de gado rendem mais R$ 3 milhões mensais.

"Ainda assim, fica faltando R$ 1 milhão todos os meses", diz Henrique Prata, presidente do hospital.

O tempo médio de espera por uma vaga é de 60 dias. "Todos os dias os médicos perguntam quem devem priorizar. É uma angustia, tudo tem fila."

Fonte Folhaonline

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