Pessoas que preferem continuar em suas próprias casas após a chegada da velhice
podem enfrentar grandes dificuldades para realizar tarefas simples como comer,
tomar banho e se vestir
Minha tia de 92 anos de idade, que tem a capacidade cognitiva diminuída e
precisa de um andador ou cadeira de rodas para se movimentar, ainda mora em seu
próprio apartamento, onde acompanhantes profissionais lhe dão assistência 24
horas por dia para ir e voltar do banheiro, para tomar banho, se trocar e para
passear todos os dias para respirar ar fresco. Os acompanhantes fazem compras,
preparam e servem as refeições, fazem uma limpeza básica e se certificam de que
os remédios sejam tomados na hora certa.
Mas, no mês passado, o
seguro-saúde de longo prazo da minha tia venceu, e suas poucas economias, em
breve, também acabarão. O que fazer?
As filhas dela, ambas trabalhando
para sustentar suas famílias, não podem pagar os 150 dólares diários pelo
cuidado integral de um acompanhante profissional, e minha tia não tem nada que
possa ser vendido para conseguir o dinheiro necessário para tal. Ela tampouco se
qualifica para o Medicaid, programa de saúde norte-americano para pessoas de
baixa renda, ou tem uma doença terminal que justificaria uma internação, que
seria coberta pelo Medicare, sistema público de saúde dos Estados
Unidos.
Para complicar ainda mais as coisas, há muito tempo suas filhas
haviam lhe prometido que não a colocariam em uma casa de repouso.
Tais
dilemas são cada vez mais comuns conforme as pessoas passam a viver por mais
tempo. O número de norte-americanos com 65 anos ou mais deve dobrar para 80
milhões nas próximas três décadas. Pessoas com 85 anos ou mais estão no grupo
que cresce mais rapidamente; até 2020, haverá 6,6 milhões de pessoas nessa faixa
etária, na qual as taxas de doenças debilitantes aumentam muito.
A
maioria dos norte-americanos com mais de 65 anos acaba precisando de ajuda nas
chamadas tarefas do dia a dia – comer, se vestir, tomar banho, fazer compras e
assim por diante. Mas, com os familiares espalhados pelo país ou incapazes de
darem cuidado em tempo integral por outros motivos, a necessidade de novas e
melhores opções só irá aumentar.
Ao serem questionadas, 80 a 90 por cento
das pessoas mais velhas dizem que querem continuar em suas próprias casas pelo
maior tempo possível.
Mas permanecer em casa indefinidamente não é sempre
a melhor escolha, mesmo que seja financeiramente possível. Conforme a vida chega
perto do fim, muitos idosos precisam de mais cuidados do que os que podem ser
oferecidos em casa. A simples tarefa de achar acompanhantes profissionais bem
conceituados pode ser um pesadelo, e os membros da família frequentemente são
obrigados a preencher as lacunas até mesmo nos melhores planos de
saúde.
O desafio fica ainda maior quando ninguém estudou as opções antes
que uma doença ou ferimento grave torne impossível a volta do idoso para casa,
sem assistência em tempo integral.
Muitos idosos que vivem
independentemente precisam de ajuda de fora muito antes de precisarem de
cuidados 24 horas por dia. Uma série de alternativas de assistência e
acompanhamento surgiram rapidamente para suprir essa demanda. Muitas têm como
foco melhorar a acessibilidade dentro da casa e o acesso às conveniências do
bairro.
Um idoso que more nos subúrbios e que já não possa dirigir pode
se tornar isolado e solitário e correr o risco de desnutrição se não houver uma
pessoa ou serviço comunitário que lhe faça compras ou o leve até os lugares.
Mesmo as escadas são um grande obstáculo.
Elinor Ginzler, diretora do
Centro Cahnmann para Serviços de Assistência no Conselho Judaico para Idosos em
Rockville, Maryland, escreveu: "a capacidade de envelhecer no próprio lar é
fortemente determinada pelo design físico e pela acessibilidade de uma casa,
assim como pelos recursos da comunidade, como serviços e comodidades, opções de
moradia e de transporte mais acessíveis".
Organizações como a Staying in
Place, um grupo de voluntários sem fins lucrativos, ajudam pessoas com 50 anos
ou mais em Woodstock, Nova York, e nas comunidades ao redor "a se manterem
ativas, independentes e vivendo plenamente suas vidas em seus próprios lares".
Por 125 dólares anuais (mais 50 dólares para cada morador com mais de 50 anos),
a organização ajuda com documentações e tecnologias; transportes grátis ou de
baixo custo; encaminhamentos para profissionais que ofereçam descontos;
informações, e transporte, para cursos e atividades sociais e culturais locais;
e recomendações de agências e profissionais de cuidados no lar.
Outros
serviços gratuitos incluem o Meals on Wheels; visitas amigáveis; serviços de
compra pelo telefone ou computador; atividades em centros para idosos; e centros
de cuidado (ou creches) para adultos.
Há também organizações comerciais
mais caras como a Home Instead Senior Care, uma rede internacional com mais de
900 franquias independentes que proporcionam cuidados (não médicos) para idosos
e apoio para os cuidadores.
A organização financiou uma pesquisa de um
ano com 1.631 cuidadores, 697 dos quais foram ajudados por cuidados não médicos
pagos. A pesquisa descobriu que as pessoas que receberam cuidados pagos
adicionais precisaram de 25 por cento menos consultas médicas e estavam mais
dispostos a participar das creches para adultos.
Infelizmente, muitos
acompanhantes são realmente mal pagos. A Home Instead, por exemplo, tem feito
lobby para manter os acompanhantes isentos dos padrões do salário
mínimo.
Henry Cisneros, ex-secretário do Ministério de Moradia e
Desenvolvimento Urbano e editor do livro "Independent for Life: Homes and
Neighborhoods for an Aging America", aponta para o fato de que os "americanos
estão envelhecendo em casas, bairros e comunidades tradicionais que foram
projetadas para as realidades demográficas do passado, não para as de hoje ou do
futuro".
Cisneros luta para mudar as comunidades para que os idosos
possam permanecer nelas.
"As casas podem ser adaptadas, novas casas
apropriadas para essa faixa etária podem ser construídas, bairros já existentes
podem ser religados, e novas comunidades planejadas", escreveu ele.
Por
exemplo, para se adequar a dificuldade para enxergar, as casas podem ser
equipadas com lâmpadas mais fortes, iluminações melhores posicionadas, controles
de fácil acesso e luzes guia noturnas.
Cisneros vê uma necessidade
urgente de pacotes acessíveis de modificações e manutenção no lar para deixar as
residências mais adequadas para pessoas idosas.
"Um pacote de renovação
certificado para envelhecer no próprio lar inclui pias do banheiro e da cozinha
que permitam o encaixe de uma cadeira de rodas, barras de apoio, banheiros
antiderrapantes, torneiras e maçanetas de alavanca, uma entrada sem degraus e
portas e corredores mais largos", escreveu.
Embora essas mudanças tenham
um preço, elas podem custar muito menos do que as alternativas atuais para os
idosos.
Fonte The New York Times