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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os desafios de manter a independência na terceira idade

Pessoas que preferem continuar em suas próprias casas após a chegada da velhice podem enfrentar grandes dificuldades para realizar tarefas simples como comer, tomar banho e se vestir
 
Minha tia de 92 anos de idade, que tem a capacidade cognitiva diminuída e precisa de um andador ou cadeira de rodas para se movimentar, ainda mora em seu próprio apartamento, onde acompanhantes profissionais lhe dão assistência 24 horas por dia para ir e voltar do banheiro, para tomar banho, se trocar e para passear todos os dias para respirar ar fresco. Os acompanhantes fazem compras, preparam e servem as refeições, fazem uma limpeza básica e se certificam de que os remédios sejam tomados na hora certa.

Mas, no mês passado, o seguro-saúde de longo prazo da minha tia venceu, e suas poucas economias, em breve, também acabarão. O que fazer?

As filhas dela, ambas trabalhando para sustentar suas famílias, não podem pagar os 150 dólares diários pelo cuidado integral de um acompanhante profissional, e minha tia não tem nada que possa ser vendido para conseguir o dinheiro necessário para tal. Ela tampouco se qualifica para o Medicaid, programa de saúde norte-americano para pessoas de baixa renda, ou tem uma doença terminal que justificaria uma internação, que seria coberta pelo Medicare, sistema público de saúde dos Estados Unidos.

Para complicar ainda mais as coisas, há muito tempo suas filhas haviam lhe prometido que não a colocariam em uma casa de repouso.

Tais dilemas são cada vez mais comuns conforme as pessoas passam a viver por mais tempo. O número de norte-americanos com 65 anos ou mais deve dobrar para 80 milhões nas próximas três décadas. Pessoas com 85 anos ou mais estão no grupo que cresce mais rapidamente; até 2020, haverá 6,6 milhões de pessoas nessa faixa etária, na qual as taxas de doenças debilitantes aumentam muito.

A maioria dos norte-americanos com mais de 65 anos acaba precisando de ajuda nas chamadas tarefas do dia a dia – comer, se vestir, tomar banho, fazer compras e assim por diante. Mas, com os familiares espalhados pelo país ou incapazes de darem cuidado em tempo integral por outros motivos, a necessidade de novas e melhores opções só irá aumentar.

Ao serem questionadas, 80 a 90 por cento das pessoas mais velhas dizem que querem continuar em suas próprias casas pelo maior tempo possível.

Mas permanecer em casa indefinidamente não é sempre a melhor escolha, mesmo que seja financeiramente possível. Conforme a vida chega perto do fim, muitos idosos precisam de mais cuidados do que os que podem ser oferecidos em casa. A simples tarefa de achar acompanhantes profissionais bem conceituados pode ser um pesadelo, e os membros da família frequentemente são obrigados a preencher as lacunas até mesmo nos melhores planos de saúde.

O desafio fica ainda maior quando ninguém estudou as opções antes que uma doença ou ferimento grave torne impossível a volta do idoso para casa, sem assistência em tempo integral.

Muitos idosos que vivem independentemente precisam de ajuda de fora muito antes de precisarem de cuidados 24 horas por dia. Uma série de alternativas de assistência e acompanhamento surgiram rapidamente para suprir essa demanda. Muitas têm como foco melhorar a acessibilidade dentro da casa e o acesso às conveniências do bairro.

Um idoso que more nos subúrbios e que já não possa dirigir pode se tornar isolado e solitário e correr o risco de desnutrição se não houver uma pessoa ou serviço comunitário que lhe faça compras ou o leve até os lugares. Mesmo as escadas são um grande obstáculo.

Elinor Ginzler, diretora do Centro Cahnmann para Serviços de Assistência no Conselho Judaico para Idosos em Rockville, Maryland, escreveu: "a capacidade de envelhecer no próprio lar é fortemente determinada pelo design físico e pela acessibilidade de uma casa, assim como pelos recursos da comunidade, como serviços e comodidades, opções de moradia e de transporte mais acessíveis".

Organizações como a Staying in Place, um grupo de voluntários sem fins lucrativos, ajudam pessoas com 50 anos ou mais em Woodstock, Nova York, e nas comunidades ao redor "a se manterem ativas, independentes e vivendo plenamente suas vidas em seus próprios lares". Por 125 dólares anuais (mais 50 dólares para cada morador com mais de 50 anos), a organização ajuda com documentações e tecnologias; transportes grátis ou de baixo custo; encaminhamentos para profissionais que ofereçam descontos; informações, e transporte, para cursos e atividades sociais e culturais locais; e recomendações de agências e profissionais de cuidados no lar.

Outros serviços gratuitos incluem o Meals on Wheels; visitas amigáveis; serviços de compra pelo telefone ou computador; atividades em centros para idosos; e centros de cuidado (ou creches) para adultos.

Há também organizações comerciais mais caras como a Home Instead Senior Care, uma rede internacional com mais de 900 franquias independentes que proporcionam cuidados (não médicos) para idosos e apoio para os cuidadores.

A organização financiou uma pesquisa de um ano com 1.631 cuidadores, 697 dos quais foram ajudados por cuidados não médicos pagos. A pesquisa descobriu que as pessoas que receberam cuidados pagos adicionais precisaram de 25 por cento menos consultas médicas e estavam mais dispostos a participar das creches para adultos.

Infelizmente, muitos acompanhantes são realmente mal pagos. A Home Instead, por exemplo, tem feito lobby para manter os acompanhantes isentos dos padrões do salário mínimo.

Henry Cisneros, ex-secretário do Ministério de Moradia e Desenvolvimento Urbano e editor do livro "Independent for Life: Homes and Neighborhoods for an Aging America", aponta para o fato de que os "americanos estão envelhecendo em casas, bairros e comunidades tradicionais que foram projetadas para as realidades demográficas do passado, não para as de hoje ou do futuro".

Cisneros luta para mudar as comunidades para que os idosos possam permanecer nelas.

"As casas podem ser adaptadas, novas casas apropriadas para essa faixa etária podem ser construídas, bairros já existentes podem ser religados, e novas comunidades planejadas", escreveu ele.

Por exemplo, para se adequar a dificuldade para enxergar, as casas podem ser equipadas com lâmpadas mais fortes, iluminações melhores posicionadas, controles de fácil acesso e luzes guia noturnas.

Cisneros vê uma necessidade urgente de pacotes acessíveis de modificações e manutenção no lar para deixar as residências mais adequadas para pessoas idosas.

"Um pacote de renovação certificado para envelhecer no próprio lar inclui pias do banheiro e da cozinha que permitam o encaixe de uma cadeira de rodas, barras de apoio, banheiros antiderrapantes, torneiras e maçanetas de alavanca, uma entrada sem degraus e portas e corredores mais largos", escreveu.

Embora essas mudanças tenham um preço, elas podem custar muito menos do que as alternativas atuais para os idosos.
 
Fonte The New York Times

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