Remoer as experiências ruins pode levar à piora, diz Mischel |
Stanford, Califórnia - Falar sobre um relacionamento fracassado não alivia a dor do coração partido e pode fazer algumas pessoas se sentirem ainda piores, afirmou o psicólogo americano Walter Mischel. Em vez de ficar se lamentando sobre o fim de um relacionamento, ele recomenda duas aspirinas para aliviar a dor e incentiva as pessoas a se distanciarem do evento para melhorar a perspectiva.
O conselho de Mischel sobre problemas de relacionamento vem da pesquisa que reuniu para seu livro sobre autocontrole, “O Teste do Marshmallow”. Entre outros trabalhos, está que ele concluiu que um analgésico ajuda a reduzir a dor do coração partido.
- Quando falamos de experiências de rejeição em termos de dor física, não é apenas uma metáfora: o coração quebrado e a dor emocional realmente machucam de forma física. ‘Tome duas aspirinas e me liga de manhã’ seria uma resposta insensível de um relato de fim de noite de um amigo de coração recém partido, mas tem uma base sólida de pesquisa - disse ele.
De acordo com Mischel, remoer as experiências ruins pode levar as pessoas a ficarem ainda mais tristes. Alguns se saíram melhor ao escrever um relato da experiência ruim referindo-se a si na terceira pessoa, ele acrescentou. Ao se distanciar do evento doloroso, as pessoas poderiam refletir sobre o que aconteceu sem serem tão autodestrutivas.
- O senso comum sugere que, se revisitarmos nossas experiências negativas para tentarmos entender por que aconteceu, vamos finalmente ser capazes de seguir em frente. No entanto, uma nova pesquisa está mostrando que algumas pessoas só pioram, continuando a remoer - disse o psicólogo. - Cada vez que eles contam a experiência para si mesmos, seus amigos ou seu terapeuta, eles só se tornam mais deprimidos. O auto distanciamento, ao contrário, lhes permite obter uma visão mais objetiva, sem reativar a dor, ajudando a passar pela experiência.
Marshmallow e objetivos futuros
Mischel ganhou destaque na década de 1960 por uma série de estudos de referência na Universidade de Stanford, na Califórnia, que investigou os efeitos benéficos da recompensa retardada. Sua equipe criou um estudo de pré-escolares que receberam a opção de ter um marshmallow ou um bolinho de imediato, ou dois, se eles esperassem até 20 minutos. A maioria das crianças que conseguiram esperar lutaram no início, mas encontraram as estratégias de enfrentamento que variaram de virar as costas para a comida até ficar mexendo nas orelhas e no nariz.
Anos após os primeiros experimentos, a equipe de Mischel realizou mais testes em adultos já que as crianças haviam recusado o marshmallow por uma recompensa maior no futuro. Os cientistas descobriram uma conexão significante com o fato de que os que esperaram a recompensa alcançaram mais dos seus objetivos de longo prazo do que aqueles que buscaram a gratificação imediata de um único marshmallow. Aos 25 anos, os “retardatários” tinham usado menos drogas com risco, tinham atingido níveis de ensino superior, e eram mais magros do que os outros que não esperaram.
Varreduras do cérebro de retardatários encontraram mais atividade no córtex pré-frontal, o que é importante para o auto-controle, resolução de problemas e pensamento criativo. De acordo com Mischel, aprendendo a adiar a gratificação no início da vida fornece as bases para as pessoas se tornarem adultos bem sucedidos.
O Globo